domingo, 22 de fevereiro de 2015

HOSPITAL DA GAMBOA - RIO




Fábia
Construído no alto do pequeno morro da Gamboa, o Hospital Nossa Senhora da Saúde e a Igreja em estilo neogótico, erguida ao seu lado,  destacam-se na paisagem do cais do porto. A história do hospital tem início por volta de 1840, quando o Dr. Antônio José Peixoto alugou a antiga chácara ali existente e instalou uma casa de saúde.

A partir daí, o Dr. Peixoto passou a oferecer atendimento médico e cirúrgico para viajantes e marítimos, mantendo inclusive uma enfermaria para escravos. A epidemia de febre amarela, ocorrida em 1853,  levou a Santa Casa da Misericórdia a comprar a casa de saúde para servir de hospital de emergência.

Hospital da Gamboa
A escolha não foi por acaso. A junta Central de higiene pública levou em conta as vantagens oferecidas pelo local: altitude do sítio, isolamento do resto da cidade, exposição aos ventos da Bahia de Guanabara, vegetação abundante.

Devido à forte incidência de outras epidemias que assolavam a cidade, ainda nos anos cinquenta se expandia com a construção de mais quatro enfermarias. As epidemias continuaram de tal maneira assolando o Rio que, em 1877, a direção do  hospital foi obrigada a construir uma ponte para o embarque dos mortos por via marítima, diretamente ao cemitério do Caju.

Vista do Hospital da Gamboa
Em 1890 foi concluída a construção da capela ao lado do Hospital que passava então por um período de franca expansão em seus serviços. Essa fase empreendedora perdurou até os anos 30, quando começou a decadência, correndo o risco de ser demolido, tamanho era o estado de abandono em que se encontrava.

Felizmente, o Hospital da Gamboa conseguiu reerguer-se e, em 1986, as suas instalações foram tombadas pelo patrimônio histórico.

É bom ressaltar que para que o hospital funcionasse
Hospital da Gamboa
inicialmente com 30 leitos, três quartos e uma pequena farmácia foi fundamental a participação de religiosas da ordem de São Vicente de Paulo, por meio de convênio firmado em Paris pelo então provedor da Santa Casa do RJ, José Clemente Pereira.
Hoje o hospital da Gamboa encontra-se revitalizado, em pleno funcionamento e dentro de um contexto urbanístico que contempla a recuperação da região do porto de nossa cidade.
Região do Hospital
Esse hospital é uma unidade da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, beneficente, sem fins lucrativos, vem sendo submetido a várias reformas estruturais e administrativas, melhorando sua qualidade, a capacidade de atendimento e a abrangência dos Serviços médicos oferecidos à população. A palavra "gamboa" significa tanto "marmelo" quanto um remanso no leito dos rios, dando a impressão de um lago . O segundo sentido do termo se assemelha ao aspecto físico do bairro, que se localiza numa zona de águas mais calmas da Baía de Guanabara. Mensalmente, Fábia faz especialização em Cirurgia Dermatológica Avançada neste hospital e está muito satisfeita com o nível do curso.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

RAÍZES PIONEIRAS II




Marco Antônio e o bebê Regina, 1948.
Como disse anteriormente, meu irmão mais velho – Marco Antônio – conta que o vovô João Araújo resolveu investir no ciclo da borracha e perdeu toda a sua fortuna. Depois disso, a família resolveu vir para Goiás. Parece que meu pai - José Araujo- teria vindo na frente para depois buscar a família...Minha irmã, Clélia, disse que papai lhe contou muitas histórias daquela época, mas ela era muito criança e hoje se arrepende de não ter anotado o que ele lhe contava. Pelo que ela se lembra, ele saiu da fazenda em Tacaratu sozinho, com dois animais e empreendeu a viagem sem destino definido, em busca de
Marco Antonio, 1949.
melhores condições de vida. Um dos animais estava carregado de peles silvestres. Passou toda a sorte de perigos nessa jornada, inclusive se escondendo de bandos de cangaceiros que aterrorizavam aqueles rincões. Chegou à antiga capital do nosso estado, onde fez amigos e resolveu se estabelecer.
Conseguiu exportar a maioria das peles, tendo sido pioneiro no estado nessa atividade. Ela acredita que foi com o dinheiro dessa operação que ele comprou mercadorias para dar início ao seu comércio, posteriormente transferido para Goiânia. Depois de estabelecido é que mandou buscar a família. Clélia não se lembra de nenhuma história do vovô. Papai sempre lhe passou a impressão de que ele era o chefe de toda a família. Naturalmente, isso se devia aos desmandos do senhor
Geraldina Araujo, Didi, 1968.
João Antônio. Enfim, ela gostaria de ter aprendido mais da história dele e agora é tarde porque não sobrou ninguém para satisfazer o nosso interesse tardio.

O ciclo da borracha viveu seu auge entre 1879 a 1912, tendo depois experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945, durante a II Guerra Mundial (1939-1945). Para extração da borracha neste período, acontece uma migração de nordestinos, principalmente do Ceará, pois o estado sofria as consequências das secas do final do século XIX.

Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as indústrias passaram a adotar uma borracha sintética que poderia ser produzida em ritmo
Clélia Maria, 1954.
mais acelerado. Essa inovação tecnológica acabou retraindo significativamente a exploração da seringueira na Floresta Amazônica. No entanto, até os dias de hoje, a exploração da borracha integra a economia da região norte do Brasil.

Chegando a Goiás, meu avô adquiriu uma fazenda no município de Jussara e também comerciava couro. Ele era acostumado a viajar e não mudou seu hábito em Goiás. Eu o conheci assim, ainda lúcido e teimoso. Sentia-se o patriarca da família e ninguém podia intrometer em sua vida. Os filhos impotentes assistiram aos seus desmandos e acabou perdendo também a fazenda goiana. Mais tarde passou por uma cirurgia e perdeu a lucidez. Costumava fugir de casa com sua mala de couro e minha avó junto com a tia Hermínia precisavam
Marco, Clélia, Sonia, Junior e Regina, 58.
trancar a casa para que ele não fugisse nos últimos anos de vida. Uma lembrança vívida em minha memória era a atenção com que ele lia os jornais no domingo, quando íamos visitá-los. Vovó e tia Hermínia também eram antenadas para a época e discutiam política com papai. Elas adoravam ir ao cinema e não perdiam as novidades cinematográficas exibidas na cidade.

Os dois irmãos mais velhos de papai -Ulisses e Augusto
Taninha, Clélia, M. Helena Café, Iris, 67.
 foram estudar fora e José Araújo tornou-se arrimo de família. Parece que papai soube da descoberta do garimpo em Baliza e teria trabalhado com escafandro naquela região possivelmente a partir de 1925.

José Araújo foi também comerciante em Goiás velho e Goiânia, onde adquiriu imóveis. Humanista, tornou-se espiritualista com a influência de Chico Xavier na década de quarenta e ajudou na construção de várias obras sociais, sendo apoiado pelo cunhado político e seu melhor amigo – Venerando de Freitas Borges.

Regina Lúcia, 1951.
Soube que o povoamento da região de Baliza teve origem com a descoberta de jazidas de diamantes, em 1924, às margens do Ribeirão “João Velho”, pelos garimpeiros: Cosme e Borges. Iniciada a exploração e constatada a riqueza da jazida, a notícia atraiu grande número de famílias que se estabeleceram, nas proximidades do garimpo, iniciando-se o povoado que recebeu o nome de “BALIZA”, nome decorrente da existência de uma pedra, de 5 metros de altura, no meio do Rio Araguaia, que banha a região.
Praça Cívica, Goiânia,1942.
Em 13 de dezembro de 1930, com a evolução do garimpo e o consequente crescimento da população, o povoado foi elevado à categoria de distrito, pelo Decreto nº 4, integrando o Município de Rio Bonito, atual Caiapônia. Pela Lei Estadual nº 91, de 27 de outubro de 1936, o distrito tornou-se município, sendo suas divisas fixadas, em 11 de julho de 1942, pelo Decreto Estadual nº 5911.

Com a emigração dos garimpeiros, pessoal na maioria nômade, para novas minas em Mato Grosso e a evasão de
Sonia Cristina, 1958.
outros atraídos pelas obras da Fundação Brasil Central em Aragarças, onde havia grande demanda de operários, Baliza esvaziou-se, declinando-se paulatinamente, restando apenas manchões abandonados: “Loca da Ponta da Serra”, “João Velho, Pacu, Praia Rica, Deixado, Lua, Carreira Comprida, Pedra do Zé Dias, Pedra da Baliza, Poço dos Alemães e outros, de onde se extraíram mais de 2000 quilates de pedras preciosas”.

Suas ruas ainda conservam o traçado irregular, formando meandros ao longo da margem do rio e suas casas guardam o estilo antigo, algumas abandonadas e em ruínas, permanecendo vivos, entretanto, os hábitos típicos da vida garimpeira.

Papai era asmático e a prática do escafandro piorou a sua saúde.
Políticos da época, idos 1940.
Estava apaixonado por uma moça da região, mas a família proibiu o romance temendo que o possível noivo estivesse tuberculoso. Ele guardou essa mágoa da frustação do primeiro amor. Mas manteve também muitas pedras de água marina com que presenteou as filhas mais tarde, mandando que um ourives de sua confiança fizesse cruzes de ouro e pedras azuis para cada uma.

Soubemos que ele passou também por Aragarças. Em 1933 um aragarcense espalhou um falso boato que havia encontrado um diamante de uma tonelada no Rio Araguaia. A notícia atraiu vários garimpeiros. Muitos permaneceram na região. Mas papai se estabeleceu em Goiás, na antiga capital e transferiu-se para
Gêmeas, Cé e Lu, 67.
Goiânia junto com o grupo dos primeiros pioneiros. Seu maior amigo e cunhado foi o primeiro prefeito da cidade – Venerando de Freitas Borges, casado com nossa tia Maria Araújo.

Quando estivemos conversando com o senhor José Hermano, ele lembrou-se de papai na década de 30. Mencionou todos os membros da família, inclusive dois de nossos tios que faleceram antes de nosso nascimento. Contou como nosso pai - José Araújo - se estabeleceu na Rua 15 de Novembro, perto do Mercado Municipal, em Goiás Velho. Disse que era um armazém grande cheio de peles e ele trabalhava ali ajudado por seus irmãos mais jovens.

Disse-nos que papai foi o introdutor da venda de peles de animais silvestres em Goiás. Relatou, ainda, que conviveu muito com nosso tio
Maria Araujo Freitas.
Tonho que era alfaiate lá e descreveu a beleza de nossa tia Leonilde, sua postura elegante. Confirmou que ela era muito ligada ao irmão Hilário. Eles adoeceram anos mais tarde de TB, foram fazer tratamento em BH, mas não resistiram.

Hermano descreveu um bar que papai possuiu no início de Goiânia. Era uma espécie de bar de sinuca na Anhanguera com a Rua 20. Contou que José Araújo era severo, chamava a atenção dos estudantes da época. José Hermano falou de papai como um pioneiro de destaque, um dos fundadores da associação comercial aqui em Goiânia. Recorda-se da Casa Araújo, na Rua 20. Naquela época existia o que se chamava de armazém de secos e molhados, uma miscelânea de artigos à venda. Contou que o Tio Venerando
José Araujo, 1938.
, foi seu professor na Rua da Estrada, em Goiás. Na época eles costumavam fazer um curso de Admissão que era o preparatório para o ingresso ao Lyceu.

Soubemos com certeza que, em 1935, papai e o tio venerando já estavam aqui na nova capital. Mas apenas em 37 vieram as repartições, as escolas, a Faculdade de Direito e de Enfermagem. Aliás, tudo veio da cidade de Goiás, a antiga capital...

sábado, 7 de fevereiro de 2015

RUA SOUSA LIMA




Aleixo e Regina, no Arpoador.
Nosso endereço no Rio é na Sousa Lima, em Copacabana. É uma rua tranquila, começa na praia de Copa entre os postos 05 e 06, portanto, divisa com Ipanema que inicia no posto 07. A rua é curta, tranquila, com apenas três quarteirões e termina na rua Bulhões de Carvalho. Saindo do prédio em linha reta pela direita, a gente está na praia atravessando apenas a Rua Raul Pompeia e a Nossa Senhora de Copacabana. Se pegarmos a esquerda e virar na Bulhões de Carvalho,  caminhando em linha reta por quatro quarteirões, atingimos o Parque Garota de Ipanema e a praia de Ipanema, posto sete.

Ali temos tudo perto. Restaurantes, farmácias, bancos, igrejas,
Casa da Sousa Lima, 171.
supermercados, bares, comércio de todo tipo, a maioria na Avenida de Nossa Senhora de Copacabana. Há pontos de ônibus e táxi e estação de metrô também. Quando adquirimos o pequeno apartamento uma casa antiga chamou a nossa atenção. Até brincamos que gostaríamos de comprá-la e morar ali!

Essa casa é da década de 1910, localizada na Rua Souza Lima, 171. Está vazia e deteriorada há anos, mas soubemos que o imóvel teve como sua última moradora uma senhora bem idosa que tocava piano encantando os que passavam pela rua. Trata-se de uma residência em estilo Vitoriano inglês, típica da segunda metade do século XIX. As características principais desse estilo são: torre octogonal apoiada sobre colunas e encimada por telhado pontiagudo; varanda com balaústres sobre a projeção do primeiro pavimento; telhado interrompido e coroamento do plano da fachada em ornamentos e janelas estreitas verticais. Muitas
Sousa Lima, casa tombada em 2007.
dessas casas foram construídas a partir de manuais que já vinham com as plantas e o endereço para a importação das peças, o que explica o fato de haver muitas iguais espalhadas pelo mundo. Em 2007, a Prefeitura do Rio tombou o imóvel impossibilitando a sua demolição. Um hotel provavelmente será construído na parte onde era a garagem e o jardim, já que a casa não ocupa nem metade da área do terreno. Esperamos que com essa construção aconteça a restauração dessa residência centenária.  E desejamos vida longa às raridades de Copacabana!