domingo, 26 de julho de 2015

TERESINA E SETE CIDADES


Dunas no Delta do Parnaíba
Voamos de Goiânia a Teresina e pegamos um carro com guia para visitarmos o Parque Nacional Sete Cidades, sítios arqueológicos,  a caminho de Parnaíba, onde estivemos por alguns dias, visitando a cidade, o Delta do Parnaíba e as praias de Luís Correia.
O parque nacional de Sete Cidades é uma unidade de conservação brasileira de proteção integral da natureza localizada na região norte do estado do Piauí. O território do parque está distribuído pelos municípios de Brasileira e de Piracuruca.
Sete Cidades
O parque foi criado em uma área de 6 304 ha através do Decreto Nº 50.744, de 5 de junho de 1961. Sua administração cabe atualmente ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, e protegido pelo Decreto 84.017, que aprovou o Regulamento dos Parques Nacionais do Brasil. O parque fica a cerca 18 km de Piracuruca.
O acesso vindo por Teresina deverá ser via BR-343, chegando ao Posto Petecas, em Piripiri-PI, segue-se pela BR-222, sentido Fortaleza, e 10 Km depois, no Km 64, pega-se a entrada para o Parque.
Teresina, PI
Teresina é a capital e o município mais populoso do estado brasileiro do Piauí. Localiza-se no Centro-Norte Piauiense a 366 km do litoral, sendo, portanto, a única capital da Região Nordeste que não se localiza às margens do Oceano Atlântico. Possui uma população  de aproximadamente um milhão de habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2014. Teresina é a 20ª maior cidade do Brasil e a 17ª maior capital de estado, sendo hoje uma das cidades que mais cresce em todos os setores no Brasil.
Teresina à noite
Teresina é a terceira capital com melhor qualidade de vida do Norte-Nordeste segundo o Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal, e, segundo o IPEA, é a quinta capital mais segura do Brasil (perdendo apenas para Natal/RN e Palmas/TO Fortaleza/CE). A cidade tem um IDH alto (Índice de Desenvolvimento Humano), porém, ainda é a oitava colocada entre as capitais do Nordeste, ficando à frente apenas de Maceió.
Teresina também é a terceira cidade onde mais
Sete Cidades
acontecem sequências de descargas elétricas no mundo. Por esta razão, a região recebe a curiosa denominação de Chapada do Corisco. Seu lema é a frase Omnia in Charitate, que significa, em português, Tudo pela caridade. A cidade é a terra natal de Torquato Neto, poeta do Tropicalismo e de Carlos Castelo Branco, colunista político do Jornal do Brasil.
Historicamente, Teresina desenvolveu-se por meio do Rio Parnaíba, por meio da navegação fluvial. 
Teresina é conhecida por Cidade Verde, codinome dado
Sítios arqueológicos
pelo escritor maranhense Coelho Neto, em virtude de ter ruas e avenidas entremeadas de árvores. É uma das mais prósperas cidades brasileiras, destacando-se atualmente no setor de prestação de serviços, comércio intenso, rede de ensino avançada, eventos culturais e esportivos, congressos, indústria têxtil, com uma justiça trabalhista célere e um grande, complexo e moderno centro médico que atrai pacientes de vários estados.
O pessoal de Parnaíba diz que Teresina só foi  escolhida como capital do estado por razões políticas. Todas as outras capitais do nordeste são litorâneas e eles acham que a capital deveria ser Parnaíba
Encontro Rios Poty e Parnaíba
berço da cultura do estado e cidade muita mais antiga...Após quatro dias em Parnaíba, voltamos para Teresina. Aqui visitamos o complexo da Ponte Estaiada, o museu do Piauí, a Casa da Cultura, lojas de artesanato, igrejas, o centro histórico... Depois, a estação ferroviária e o encontro dos Rios Poty e Parnaíba, na divisa do estado com o Maranhão, no bairro Poty Velho, onde começou a cidade de Teresina...Ali também vimos o Polo Cerâmico com peças incríveis... A cidade é muito agradável, mas bastante quente, mesmo nesta época. Logo voaremos de volta à terrinha com a bênção de Deus, mas muito satisfeitos com esta viagem... 

PARNAÍBA - PI


Armazém portuário em Parnaíba PI.
Ainda não havia planejado viajar para o Piauí, terra natal de minha cunhada Ione Araújo. A ideia foi de minha amiga de infância, irmã espiritual, Divina de Paula Cardoso. Mas a escolha não poderia ter sido melhor. Aleixo e eu estamos deslumbrados com a experiência.
Parnaíba tem mais de trezentos anos. Cidade cheia de praças, muito acolhedora e com boa infraestrutura. Foi descoberta pelos ingleses e disputada pelos portugueses. Aqui ainda há muitos imóveis pertencentes à família Clark. O porto fluvial agora está inativo para embarcação de
Guindaste a vapor
maior calado, devido ao assoreamento natural. Para comprovar a influência dos ingleses, citamos a  presença da sucata de um guindaste portuário operado à caldeira próximo da ponte do Rio Igaraçu e próximo ao Centro Histórico da cidade, com armazéns antigos, construídos com pedra bruta, argamassa, ostras e óleo de baleia, marco vivo da fase áurea na economia de Parnaíba.
O espaço cultural Porto das Barcas, parcialmente restaurado, abriga casas comerciais, lojas de artesanatos, restaurantes, auditório, teatro ao ar livre e agência de ecoturismo.
Casa da Família Clark
O Delta do Parnaíba constitui uma raridade das Américas, no Piauí, e encanta  os turistas. Em geografia, designa-se por delta a foz de um rio formada por vários canais ou braços do leito do rio. Esse tipo de foz é comum em rios de planícies, devido à pequena declividade e, consequentemente, pequena capacidade de descarga de água, o que favorece o acúmulo de areia e aluviões na sua foz.
O passeio pode ser feito de lancha ou embarcações que levam até 60 pessoas. Optamos por uma lancha  com
Rio Igaraçu.
capacidade para cinco pessoas. O barqueiro foi o Raimundo Nonato que conversou conosco o tempo todo, explicando cada parte do trajeto.
Durante o  passeio, pudemos apreciar animais silvestres e dunas. Vimos pássaros, aves, jacaré,   iguanas, tartarugas, macacos, caranguejos...Tivemos a oportunidade de tomar banho onde o rio encontra o mar e naquele momento água não estava completamente salgada. A areia fina e clara, tudo muito lindo!
Ficamos encantados com os espelhos d´água, os mangues,
Delta do Parnaíba
as dunas, lagoas,  os diversos animais silvestres, rios e praias com paisagens paradisíacas. Tudo isso com o sol brilhando forte o  tempo todo... Aliás, é esse o cenário que o turista vai encontrar no Delta do Rio Parnaíba, um arquipélago com 2.700 km2  de área, formado por mais de 80 ilhas, localizado no litoral do Piauí.
O delta faz parte do roteiro integrado de turismo Rota das Emoções, formado ainda pelos Lençóis Maranhenses (MA) e Jericoacoara (CE). Uma iniciativa do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e Ministério
Fia, Divina e eu, nas dunas.
do Turismo, que desde 2005 uniu lideranças locais, empreendedores e entidades com o objetivo de desenvolver esta região. Em 2009, o destino foi eleito o Melhor Roteiro Turístico do país, pelo Ministério do Turismo.
O passeio pelo arquipélago começa pelo porto dos Tatus, na cidade de Ilha Grande a 9 quilômetros de Parnaíba, segunda maior cidade do estado e capital do Delta, onde todos os dias nesta época do ano lanchas e barcos levam turistas para conhecer o santuário ecológico da região. O passeio pela costa do Delta é um roteiro inesquecível do Nordeste brasileiro, excelente opção para os amantes da vida selvagem.
  Sete Cidades arquiológicas
O menor litoral do País formado pelas cidades de  Luís Correia, Cajueiro da Praia, Ilha Grande e Parnaíba, tem apenas 66 quilômetros de extensão, mas guarda em seu extremo uma riqueza única. Percebemos  uma das mais belas paisagens que a terra possui, trata-se do único delta das Américas em mar aberto. Um dos destinos mais procurados da região, a Ilha das Canárias, segunda maior do Delta do Rio Parnaíba perdendo apenas para ilha Grande. Ali  existe um povoado de pescadores com mais de 2.500 habitantes.
A ilha é área de preservação ambiental, faz parte da reserva extrativista marinha do Delta e sua população é distribuída em quatro povoados: Canárias, Passarinho, Torto e Caiçara. Existem pousadas e restaurantes e é um local ideal para pessoas interessadas em ecoturismo...

quinta-feira, 9 de julho de 2015

ARRUDA


Maluba e eu, 2015.
Gosto do cheiro da arruda. Quando era criança minha mamãe nos levava a uma velhinha benzedeira que nos batia amorosamente com galhinhos de arruda e lembro-me ainda do cheiro que aprendi a amar. Miraculosamente, a gente sarava do quebranto, como dizia minha genitora...
Eu soube que a arruda ficou famosa por atuar contra o mau-olhado e outras vibrações negativas. Não se sabe quando a arruda ficou conhecida como erva protetora. Mas, em culturas antigas, são encontradas referências sobre seus poderes contra as más vibrações e seu uso na magia e
Aleixo, eu e Brasigóis Felício.
religião. Na Grécia antiga, ela era usada para tratar diversas enfermidades, mas seu ponto forte era mesmo contra as forças do mal. As mulheres romanas costumavam andar pelas ruas sempre carregando um ramo de arruda na mão para se defenderem contra doenças contagiosas, mas, também, para afastar todos os males que iam além do corpo físico incluindo possíveis crenças em feitiçarias, mau-olhado, sortilégios, entre outros.
Na Idade Média, época em que se acreditava que as bruxas só poderiam ser destruídas com grandes poderes como o
Sonia, Clélia, mamãe, Junior, eu, 98.
do fogo, os ramos de arruda eram usados como proteção contra as feiticeiras e, ainda, serviam para aspergir água benta nos fiéis em missas solenes.  Aliás, o uso dessa planta nas práticas mágicas do passado é impressionante. William Shakespeare, na obra Hamlet, se refere à arruda como sendo "a erva sagrada dos domingos". Dizem que ela passou a ser chamada assim, porque nos rituais de exorcismo, realizados aos domingos, costumava-se fazer um preparado à base de
Arruda na Shamballa
vinho e arruda que era ingerido pelos "possessos" antes de serem exorcizados pelos padres. Mas prefiro colocar alecrim no vinho que ingerimos no dia a dia!
Esse hábito atravessou séculos e fronteiras, pois dizem que no tempo do Brasil Colonial a arruda podia ser vista com frequência, então, associada aos rituais africanos. Naquela época, o galho de arruda era vendido como amuleto para trazer sorte e proteção. E não eram apenas as escravas que usavam os ramos da planta ocultos nas pregas de seus turbantes... As mulheres brancas
Matheus e Lucas, 2015.
colocavam o galhinho da planta estrategicamente escondido nos seios. Outro fator teria reforçado o valor da arruda naquela época: a infusão feita com a planta era usada como uma espécie de anticoncepcional e abortivo.
No século XVI, encontrou-se a recomendação de um dos primeiros botânicos da história para que monges e religiosos ingerissem a arruda, misturada aos alimentos e às bebidas, a fim de garantir a pureza e castidade. A verdade é que esta planta era realmente muito abundante nos jardins dos mosteiros.
Fábia e eu, 2003, EUA.
Uma substância chamada rutina é a responsável pelas principais propriedades da arruda. Ela é usada para aumentar a resistência dos vasos sanguíneos, evitando rupturas e, por isso é indicada no tratamento contra varizes. Popularmente, seu uso é indicado para restabelecer ou aumentar o fluxo menstrual e, também, para combater vermes. Como uso tópico, o azeite de arruda, obtido com o cozimento da planta, é aplicado para aliviar dores reumáticas. Seu aroma forte e característico, detestado por muita gente, é considerado um ótimo repelente, por isso a arruda é colocada em portas e janelas para espantar insetos.  Foi muito utilizada também em licores digestivos. Quando morei no sertão maranhense, aprendi a queimar arruda, pinga e açúcar em um prato e dar às crianças como xarope.
Juliana com  labradores.
Por incrível que pareça, a arruda também teve muita aplicação na culinária. Dizem que suas sementes e folhas eram usadas para enriquecer saladas e molhos, em virtude das boas doses de vitamina C contidas na planta. Seu uso era considerado uma defesa contra o escorbuto. Além disso, a planta também servia para aromatizar vinhos.

No sul da Europa, as raízes da arruda eram adicionadas a um tipo de bebida chamada grappa, para funcionar como um licor digestivo. Existe uma história muito curiosa - não se sabe se é verdadeira - que relaciona a arruda ao
Arruda florida
Vinagre dos quatro ladrões. Conta-se que no século XVII, a Europa padeceu com uma grande peste que dizimava centenas de pessoas por semana. Ninguém conhecia a causa da doença e muito menos a cura. Grandes cruzes vermelhas eram pintadas nas paredes para marcar as casas de pessoas atacadas pela praga. Alguns ladrões, porém, pareciam completamente imunes: entravam naquelas casas, roubavam os mortos e não adoeciam. Muito tempo depois, descobriram como esses ladrões se protegiam - era com uma espécie de vinagre, preparado com arruda, sálvia, losna, menta, alecrim, lavanda, cânfora, alho, noz-moscada, cravo e canela; tudo bem misturado em um galão de vinagre de vinho...