terça-feira, 8 de abril de 2014

CIDADE DE GOIÁS E A PROCISSÃO




José Araújo e Didi, 1940.
Primeiramente foram descobertas as Minas Gerais, de um lado, e as minas de Cuiabá, de outro. No século XVII havia a concepção renascentista de que os filões de metais preciosos se dispunham de forma paralela em relação ao equador. Isso iria alimentar a hipótese de que, entre esses dois pontos, também haveria do mesmo ouro.

Assim, foram intensificadas as investidas bandeirantes, principalmente paulistas, em território goiano, que culminariam tanto com a descoberta quanto com a apropriação das minas de ouro dos índios goiá, que logo seriam extintos mais rapidamente que o próprio metal. Aqui, onde habitava a nação Goiá, Bartolomeu
Didi, Letícia e Raul, 1980.
Bueno da Silva fundaria, em 1727 , o Arraial de Sant’Anna.

Pouco mais de uma década depois, em 1736, o local seria elevado à condição de vila administrativa, com o nome de Vila Boa de Goyaz, ortografia arcaica. Nessa época, ainda pertencia à capitania de São Paulo. Em 1748 foi criada a Capitania de Goiás, mas o primeiro governador, dom Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos, só chegaria cinco anos depois.

Com ele, instalou-se um Estado mínimo e, logo, a vila
Tia Mª Hermínia Araujo
transformou-se em capital da comarca. Noronha mandou construir, entre outros prédios, a Casa de Fundição, em 1750, e o Palácio que levaria seu nome - Conde dos Arcos -, em 1751. Até hoje eu me emociono a cada vez que visito esse local!

Décadas depois, outro governador - Luís da Cunha Meneses, que ficou no cargo de 1778 a 1783, criou importantes marcos, fazendo a arborização da vila, o alinhamento de ruas e estabelecendo o primeiro plano de ordenamento urbano, que delineou a estrutura mantida até hoje. Meus avós chegaram a Goiás na década de 20 do século passado!

Com o esgotamento do ouro, em fins do século XVIII, Vila Boa teve
Vovó Magdalena
sua população reduzida e precisou reorientar suas atividades econômicas para a agropecuária, mas ainda assim cultural e socialmente sempre esteve sintonizada com as modas do Rio de Janeiro, que era a capital do Império. Daí até o início do século XX, as principais manifestações seriam de arte e cultura, com sarais, jograis, artes plásticas, literatura, arte culinária e cerâmica, além de um ritual único no Brasil, a Procissão do Fogaréu, realizada na Semana Santa.

Entretanto, a grande mudança, que já vinha sendo ventilada há muito tempo, foi a transferência da capital estadual para Goiânia, nos anos trinta e quarenta, coordenada pelo então interventor do
Vovô João A. Araujo
Estado, Pedro Ludovico Teixeira. De certa forma, foi essa decisão que preservou a singular e exclusiva arquitetura colonial da Cidade de Goiás. Meu tio Venerando de Freitas Borges seria o primeiro prefeito da nova capital!

Às 0h da quinta-feira da Semana Santa, os postes de luz do Centro Histórico da cidade de Goiás se apagam. Ao som de tambores e à luz de tochas, tem início a Procissão do Fogaréu.

Tradição na cidade desde 1745, o ritual simboliza a procura e a prisão de Cristo. Cerca de 40 homens encapuzados, os farricocos, que representam os soldados romanos, carregam as tochas enquanto um coro entoa cantos em latim.

Farricocos, procissão Fogaréu
A procissão é acompanhada por aproximadamente 10 mil pessoas. Ela parte do Museu de Arte Sacra da Boa Morte, passa pela Igreja do Rosário (representando o local da última ceia) e chega até a Igreja de São Francisco de Paula, que faz o papel do Monte das Oliveiras, onde Cristo foi preso. A partir daí, o estandarte com a imagem de Jesus é carregado por um dos farricocos, simbolizando sua captura. A cerimônia dura cerca de uma hora.  E este ano vamos prestigiar esse evento!

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