terça-feira, 27 de julho de 2010

Lembranças de Minha Primeira Infância

Regina Lúcia, 2010.

Da minha primeira infância, recordo-me de poucas cenas. A mais remota deve ter sido na véspera do ano 50. Eu tinha menos de dois anos. Havia uma escada com poucos degraus na saída da porta da cozinha. Os degraus eram grossos e altos, uns três lances apenas para descer ao pequeno pátio que levava ao barracão onde dormiam as empregadas. Do lado direito havia um tanque de lavar roupa, um banheirinho e um fogão caipira onde minha mãe fazia doce. Ainda, um portão de levava ao lote, também de nossa propriedade, com fruteiras, galinheiro, horta e grande espaço para as crianças brincarem. Eu era apenas a segunda filha, mas viriam mais cinco com o passar dos anos. Meu primo Luiz Roberto estava sempre lá em casa brincando com meu irmão Marco Antônio e foi com os dois que comecei a brincar a partir dos três anos.



Do lado esquerdo do pátio havia um corredor bem estreito e curto. Levava ao jardim pelo lado da rua cinco, pois nossa casa era nessa esquina da rua seis. A garagem era no fim do jardim e lá estavam muitas gaiolas penduradas com a coleção dos canários australianos de meu pai. Lembro-me de que desci a escada com cuidado, tirei meus chinelinhos e carreguei a minha cadeira de comer. Calcei os chinelinhos embaixo e transportei com dificuldade a cadeira pelo corredorzinho que levava à garagem. Então, fui posicionando a cadeira em frente a cada gaiola, eu subia a cada vez e abria a porta para que os passarinhos saíssem. Soltei todos e feliz comecei o caminho de volta. Meu pai ficou furioso ao chegar mais tarde, mas perdoou logo a primeira arte de sua filhinha querida.



Outra cena de que me recordo foi mais ou menos na mesma época. Nossa sala de estar era bem grande e tinha um vitreau enorme na lateral que dava para o jardim. Havia um sofá embaixo em que eu subia e escalava a vidraça, brincando. Um dia chovia muito e experimentei colocar o braço fora. Fiquei encantada e exclamei: - Mamãe, chuva é água! Foi a minha primeira descoberta científica.



Eu gostava muito de brincar lá fora, com água e terra e voltava muito suja, mas era vaidosa e logo me trocava e estava sempre arrumadinha. Desde cedo manifestava o meu gosto pelas plantas e vivia fazendo mudas em copinhos, latinhas ou vidrinhos. Eu era apaixonada pelo nosso jardim e todas as espécies de plantas. Nosso jardineiro era gago e descendente de alemães - Senhor Waldemar- que mais tarde se transferiu para a recém inaugurada capital brasileira. Tínhamos dezenas de roseiras, palmas, jasmins, azaléias, margaridas, begônias, lírios, cravos, canteiros de violetas, ciprestes podados de modo ornamental, chuva de ouro, murta, bouquet japonês, bougainvilles.



Lembro-me de meu berço e do de minha irmã Clélia que chegou quando eu tinha dois anos.

2 comentários:

  1. Muito interessante. Tenho pouquissimas memórias da minha juventude. Mas tenho numa "primeira memória" dq quando eu tinha talvez uns três anos que vou relatar em meu blog.

    Gostei da riqueza dos detalhes das suas memórias.

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  2. Pretendo continuar as minhas memórias desde a infância... Como são quase seis décadas, acho que levarei o resto de minha vida escrevendo e isso é muito bom!

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