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Marco Antônio e o bebê Regina, 1948. |
Como disse anteriormente, meu irmão mais velho – Marco
Antônio – conta que o vovô João Araújo resolveu investir no ciclo da borracha e
perdeu toda a sua fortuna. Depois disso, a família resolveu vir para Goiás.
Parece que meu pai - José Araujo- teria vindo na frente para depois buscar a família...Minha irmã, Clélia, disse que papai lhe contou muitas histórias daquela época, mas ela era muito criança
e hoje se arrepende de não ter anotado o que ele lhe contava. Pelo que ela se lembra, ele saiu da fazenda em Tacaratu sozinho, com dois animais e
empreendeu a viagem sem destino definido, em busca de
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Marco Antonio, 1949. |
melhores condições
de vida. Um dos animais estava carregado de peles silvestres. Passou
toda a sorte de perigos nessa jornada, inclusive se escondendo de bandos
de cangaceiros que aterrorizavam aqueles rincões. Chegou à antiga
capital do nosso estado, onde fez amigos e resolveu se estabelecer.
Conseguiu
exportar a maioria das peles, tendo sido pioneiro no estado nessa
atividade. Ela acredita que foi com o dinheiro dessa operação que ele comprou
mercadorias para dar início ao seu comércio, posteriormente transferido
para Goiânia. Depois de estabelecido é que mandou buscar a família. Clélia não se lembra de nenhuma história do vovô. Papai sempre lhe passou a
impressão de que ele era o chefe de toda a família. Naturalmente, isso
se devia aos desmandos do senhor
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Geraldina Araujo, Didi, 1968. |
João Antônio. Enfim, ela gostaria de ter
aprendido mais da história dele e agora é tarde porque não sobrou
ninguém para satisfazer o nosso interesse tardio.
O ciclo da borracha viveu seu
auge entre 1879 a 1912, tendo depois experimentado uma sobrevida entre 1942 e
1945, durante a II Guerra Mundial (1939-1945). Para extração da borracha neste
período, acontece uma migração de nordestinos, principalmente do Ceará, pois o
estado sofria as consequências das secas do final do século XIX.
Depois da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), as indústrias passaram a adotar uma borracha sintética que poderia
ser produzida em ritmo
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Clélia Maria, 1954. |
mais acelerado. Essa inovação tecnológica acabou
retraindo significativamente a exploração da seringueira na Floresta Amazônica. No
entanto, até os dias de hoje, a exploração da borracha integra a economia da
região norte do Brasil.
Chegando a Goiás, meu avô
adquiriu uma fazenda no município de Jussara e também comerciava couro. Ele era
acostumado a viajar e não mudou seu hábito em Goiás. Eu o conheci assim, ainda
lúcido e teimoso. Sentia-se o patriarca da família e ninguém podia intrometer
em sua vida. Os filhos impotentes assistiram aos seus desmandos e acabou
perdendo também a fazenda goiana. Mais tarde passou por uma cirurgia e perdeu a
lucidez. Costumava fugir de casa com sua mala de couro e minha avó junto com a tia
Hermínia precisavam
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Marco, Clélia, Sonia, Junior e Regina, 58. |
trancar a casa para que ele não fugisse nos últimos anos de
vida. Uma lembrança vívida em minha memória era a atenção com que ele lia os
jornais no domingo, quando íamos visitá-los. Vovó e tia Hermínia também eram
antenadas para a época e discutiam política com papai. Elas adoravam ir ao
cinema e não perdiam as novidades cinematográficas exibidas na cidade.
Os dois irmãos mais velhos de
papai -Ulisses e Augusto
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Taninha, Clélia, M. Helena Café, Iris, 67. |
foram estudar fora e José Araújo tornou-se arrimo de
família. Parece que papai soube da descoberta do garimpo em Baliza e teria
trabalhado com escafandro naquela região possivelmente a partir de 1925.
José Araújo foi também
comerciante em Goiás velho e Goiânia, onde adquiriu imóveis. Humanista,
tornou-se espiritualista com a influência de Chico Xavier na década de quarenta
e ajudou na construção de várias obras sociais, sendo apoiado pelo cunhado
político e seu melhor amigo – Venerando de Freitas Borges.
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Regina Lúcia, 1951. |
Soube que o povoamento da região
de Baliza teve origem com a descoberta de jazidas de diamantes, em 1924, às
margens do Ribeirão “João Velho”, pelos garimpeiros: Cosme e Borges. Iniciada a exploração e
constatada a riqueza da jazida, a notícia atraiu grande número de famílias que
se estabeleceram, nas proximidades do garimpo, iniciando-se o povoado que
recebeu o nome de “BALIZA”, nome decorrente da existência de uma pedra, de 5
metros de altura, no meio do Rio Araguaia, que banha a região.
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Praça Cívica, Goiânia,1942. |
Em 13 de dezembro de 1930, com a
evolução do garimpo e o consequente crescimento da população, o povoado foi
elevado à categoria de distrito, pelo Decreto nº 4, integrando o Município de
Rio Bonito, atual Caiapônia. Pela Lei Estadual nº 91, de 27 de outubro de 1936,
o distrito tornou-se município, sendo suas divisas fixadas, em 11 de julho de
1942, pelo Decreto Estadual nº 5911.
Com a emigração dos garimpeiros,
pessoal na maioria nômade, para novas minas em Mato Grosso e a evasão de
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Sonia Cristina, 1958. |
outros
atraídos pelas obras da Fundação Brasil Central em Aragarças, onde havia grande
demanda de operários, Baliza esvaziou-se, declinando-se paulatinamente,
restando apenas manchões abandonados: “Loca da Ponta da Serra”, “João Velho,
Pacu, Praia Rica, Deixado, Lua, Carreira Comprida, Pedra do Zé Dias, Pedra da
Baliza, Poço dos Alemães e outros, de onde se extraíram mais de 2000 quilates
de pedras preciosas”.
Suas ruas ainda conservam o
traçado irregular, formando meandros ao longo da margem do rio e suas casas
guardam o estilo antigo, algumas abandonadas e em ruínas, permanecendo vivos,
entretanto, os hábitos típicos da vida garimpeira.
Papai era asmático e a prática do
escafandro piorou a sua saúde.
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Políticos da época, idos 1940. |
Estava apaixonado por uma moça da região, mas a
família proibiu o romance temendo que o possível noivo estivesse tuberculoso.
Ele guardou essa mágoa da frustação do primeiro amor. Mas manteve também muitas
pedras de água marina com que presenteou as filhas mais tarde, mandando que um ourives
de sua confiança fizesse cruzes de ouro e pedras azuis para cada uma.
Soubemos que ele passou também
por Aragarças. Em 1933 um aragarcense espalhou um falso boato que havia
encontrado um diamante de uma tonelada no Rio Araguaia. A notícia atraiu vários
garimpeiros. Muitos permaneceram na região. Mas papai se estabeleceu em Goiás,
na antiga capital e transferiu-se para
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Gêmeas, Cé e Lu, 67. |
Goiânia junto com o grupo dos primeiros
pioneiros. Seu maior amigo e cunhado foi o primeiro prefeito da cidade –
Venerando de Freitas Borges, casado com nossa tia Maria Araújo.
Quando estivemos conversando com
o senhor José Hermano, ele lembrou-se de papai na década de 30. Mencionou todos
os membros da família, inclusive dois de nossos tios que faleceram antes de
nosso nascimento. Contou como nosso pai - José Araújo - se estabeleceu na Rua
15 de Novembro, perto do Mercado Municipal, em Goiás Velho. Disse que era um
armazém grande cheio de peles e ele trabalhava ali ajudado por seus irmãos mais
jovens.
Disse-nos que papai foi o
introdutor da venda de peles de animais silvestres em Goiás. Relatou, ainda,
que conviveu muito com nosso tio
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Maria Araujo Freitas. |
Tonho que era alfaiate lá e descreveu a beleza
de nossa tia Leonilde, sua postura elegante. Confirmou que ela era muito ligada
ao irmão Hilário. Eles adoeceram anos mais tarde de TB, foram fazer tratamento
em BH, mas não resistiram.
Hermano descreveu um bar que
papai possuiu no início de Goiânia. Era uma espécie de bar de sinuca na
Anhanguera com a Rua 20. Contou que José Araújo era severo, chamava a atenção
dos estudantes da época. José Hermano falou de papai como um pioneiro de
destaque, um dos fundadores da associação comercial aqui em Goiânia. Recorda-se
da Casa Araújo, na Rua 20. Naquela época existia o que se chamava de armazém de
secos e molhados, uma miscelânea de artigos à venda. Contou que o Tio Venerando
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José Araujo, 1938. |
, foi seu professor na Rua da Estrada, em Goiás. Na época eles costumavam fazer
um curso de Admissão que era o preparatório para o ingresso ao Lyceu.
Soubemos com certeza que, em
1935, papai e o tio venerando já estavam aqui na nova capital. Mas apenas em 37
vieram as repartições, as escolas, a Faculdade de Direito e de Enfermagem.
Aliás, tudo veio da cidade de Goiás, a antiga capital...
Que pena, Regina, que as informações que temos são tão fragmentadas. Papai me contou muitas histórias daquela época, mas eu era muito criança e hoje me arrependo de não ter anotado o que ele me contava. Pelo que me lembro, ele saiu da fazenda em Tacaratu sozinho, com dois animais e empreendeu viagem sem destino definido, em busca de melhores condições de vida. Um dos animais estava carregado de peles silvestres. Passou toda a sorte de perigos nessa jornada, inclusive se escondendo de bandos de cangaceiros que aterrorizavam aqueles rincões. Foi dar na antiga capital do nosso estado, onde fez amigos e resolveu se estabelecer.
ResponderExcluirConseguiu exportar a maioria das peles, tendo sido pioneiro no estado nessa atividade. Penso que foi com o dinheiro dessa operação que ele comprou mercadorias para dar início ao seu comércio, posteriormente transferido para Goiânia. Depois de estabelecido é que mandou buscar a família. Não me lembro de nenhuma história do vovô. Papai sempre me passou a impressão de que ele era o chefe de toda a família. Naturalmente, isso se devia aos desmandos do sr. João Antônio. Enfim, gostaria de ter aprendido mais da história dele e agora é tarde porque não sobrou ninguém para satisfazer o meu interesse tardio.
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ResponderExcluirSuas lembranças são preciosas, Clélia. E já inserir as informações ao nosso relato! Abreijos gratos
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