quinta-feira, 5 de março de 2015

CULTURA GOIANA E RAÍZES PIONEIRAS




Sobrinha Tarsila e BARIANI ORTÊNCIO
A família Araújo veio para Goiás e protagonizou a história da construção e do desenvolvimento de Goiânia desde os primeiros momentos da transferência da capital do estado. Neste estado, a tradição e o folclore goianos são festejados desde as tochas flamejantes dos farricocos da cidade de Goiás aos mantos brilhantes de mouros e cristãos das Cavalhadas de Pirenópolis.  Aliás, a cultura goiana engloba a escrita literária de Bernardo Élis até a arte primitivista de Antônio Poteiro -, dentre tantas outras manifestações artísticas. Citando apenas alguns nomes - Veiga Valle, Cora Coralina, Goiandira do Couto,
Lei, eu e BRASIGOIS FELÍCIO, 2012.
Carmo Bernardes, Bariani Ortêncio, Siron Franco, Belkiss Spencière, Brasigoís Felício, ... Nossa arte se apresenta de diversas formas, sejam os sabores do Cerrado, as batucadas de Congos ou as violas caipiras, o que resulta em uma diversidade de riquezas culturais que abundam aqui.
Em Goiânia ainda é possível ver algumas raras pessoas repararem nas obras de arte que estão nas fachadas dos prédios antigos que ainda se mantêm de pé. Monumentos arquitetônicos que formam um conjunto importante, que
Familiares no meu batizado, 17.01.1949
recontam a história da capital de Goiás, pois fazem parte de um único projeto e da influência sofrida por seu arquiteto.
Goiânia foi uma cidade planejada para ser a capital. Meu tio Venerando foi o primeiro prefeito da cidade. Costumavam dizer que ele era visionário ao planejar uma cidade para cinquenta mil habitantes. Afinal, a capital anterior nunca passou de um décimo disso! A capital goianiense, logo, reteve uma estruturação
VENERANDO por AMAURY MENESES
influenciada, à época, pelas mais recentes teorias de planejamento urbano. Atílio Correia Lima havia voltado há pouco de Paris, onde estudou urbanismo, quando desenhou a cidade. Advém daí os conceitos usados em grande parte dos edifícios que compõem, hoje, o centro da capital: art-déco. A importância desse estilo que predominou na arquitetura da nova cidade está no fato de o art déco ter sido transitório, isto é, um estilo que fez a passagem do art nouveau para o modernismo. Durou pouco mais que uma década, mas o suficiente para colocar Goiânia em seu mapa de abrangência.
Passear pelo setor central de Goiânia atentando-se para os
Casa Araújo,1942.
detalhes significa ter uma vasta noção de história. Ao sair da chamada Praça Cívica –– cujo nome é Praça Doutor Pedro Ludovico Teixeira — em direção à Avenida Goiás, é possível passar pelo Coreto, com suas formas geométricas e que demonstram uma característica do art déco: a modernidade nos traços somada à composição clássica de base, corpo principal e coroamento. Neste coreto, mamãe costumava nos levar para passeios diários, seus cinco primeiros filhos. Ela levava frutas e comíamos ali depois de brincar pelos
Relógio da Avenida Goiás
gramados da praça. Às vezes ela nos comprava pastéis e caldo de cana que adorávamos!
É o mesmo estilo seguido pelo relógio que está no extremo da avenida... Na estação, ao final da Avenida Goiás, o relógio irá demonstrar ainda mais proeminentemente o principal fator do art déco: o rigor geométrico e a presença de linhas verticais, com o objetivo de tornar, à vista, as construções mais altas. Aliás, os edifícios em que se pode ver com mais facilidade essa técnica são o Teatro Goiânia e a Estação Ferroviária, localizada na Praça do Trabalhador. Duas construções capazes de encantar quem as observa com atenção.
Soube que o teatro é musa para fotógrafos que à luz da manhã de
CINE TEATRO GOIÂNIA
um sábado, por exemplo, deixam suas casas apenas para vê-lo através da lente da câmera. Inicialmente, chamado de Cine Teatro Goiânia, o local não apenas é capaz de desanuviar o pesado cenário proposto pela atual Avenida Anhanguera, marcada pela frenética e afobada pressa do dia a dia, que impregna a sociedade nos dias de hoje. Surge daí um novo conceito de arte. Aquilo capaz de reter a compenetração do obrigatório e levar seus admiradores a um estado mais sensato, que não o estresse habitual do
CORETO DA PRAÇA CÍVICA
sistema socioeconômico atual. Dessa forma, vemos algo antigo, mas atual e por dois motivos: um prédio com suas funções originais, afinal o Teatro Goiânia é um dos principais locais de concentração da vida cultural goianiense; e uma obra de arte que alivia o avanço irrefreável da insanidade humana no século XXI.
Nesse sentido, todas as outras construções
Estação Ferroviária.
artísticas –– e não apenas as de art déco — deveriam servir para esse propósito. Porém, é difícil que as obras sirvam a esse propósito se não se pode vê-las, se estão escondidas pela modernidade. Se a gente conseguir, na correria diária, uma vez que o Setor Central, além de histórico, é também o centro comercial e financeiro da cidade... Quando passo ali e percebo tudo isso, num exercício contínuo de imaginação, volto ao passado e à minha infância quando ainda não tinha consciência de toda esta riqueza histórica. Há alguns meses
José Araújo Júnior, 1958.
quis retornar à casa de nossa infância. Que pena! Foi transformada em garagem juntamente com vários outros imóveis. Fiquei deveras triste! Papai se orgulhava de sua planta e do cuidado com que manteve o imóvel construído muito anos antes de eu nascer...
O zoológico de Goiânia também conhecido como Parque Lago das Rosas é o mais antigo de Goiânia. O local ficou conhecido como Lago das Rosas, pois antes de ser construído o zoológico o espaço era um canteiro de rosas, daí originou o nome Lago das Rosas. Meu irmão Marco Antônio e o primo Luiz Roberto aprenderam a nadar ali, assim como tantos outros meninos da época.
O zoológico foi construído na década de 40, mais precisamente no ano de 1946 e atualmente está com 68 anos de existência, sendo
Clélia e Fábia, Zoo, 1974.
um ótimo lugar para se visitar em Goiânia. A Furreca exposta no local é uma relíquia e até pensamos que pudesse ter pertencido a papai, porque ele possuiu um Ford 29, apelidado a Ximbica de José, na época da casa Araújo.
Em 1961 papai adquiriu uma fazendinha em Nerópolis. Foi uma época maravilhosa. Ele construiu uma casa rústica e espaçosa, mobiliada com camas com estrado de molas e colchões de crina. Havia um fogão caipira em que mamãe cozinhava não apenas para nós, mas também para os caseiros e seus filhos nos domingos.  Nós montávamos a cavalo e saíamos aprontando todas!
Parece que o imóvel foi vendido logo e meu irmão Marco relata que assistiu à contagem do dinheiro da venda desse imóvel em 62. O
Minha prima Nize e amiga, 1950
comprador trouxe uma mala de dinheiro e papai passou todo o dia contando-o, para depois depositá-lo no antigo Banco da Lavoura.
Papai possuiu uma perua Rural Willys, em 62. Nela fizemos inúmeros passeios familiares aos domingos. Em 63, ele comprou um DKV sedan que manteve até a sua mudança de plano, em 67. Meu irmão Marco começou a me ensinar a dirigir nesse veículo.
Muitas destas informações foram repassadas por nosso pai ao meu irmão mais velho Marco Antônio. Em 62 ele acompanhou papai a Sertãozinho, SP.,  para fazer um implante de placenta na perna. Diziam que isso curava a asma que afligia a ambos. Nessa ocasião conversaram muito e nosso pai, o pioneiro - José Araújo - compartilhou várias histórias familiares...

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