quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

MUITAS ESTRADAS PERCORRIDAS



Aleixo, em São Paulo, 1967.
Pode parecer, e parece, coisa de louco, mas jamais andei em linhas retas, apesar de ser julgado, psicologicamente, de rígido! Era do tipo capaz de comprar um jornal ou livro, como fiz, em Hebraico, e fingir que estava lendo enquanto viajava de ônibus.
Meu sonho era viajar pelo mundo, aprender mais o Inglês, saber tudo sobre as pessoas, encontrar meu grande amor, chegar não se sabe lá aonde, o que, de certa forma concretizei. O Inglês eu aprendi, parte do mundo bem que conheci. Tanto que uma boa parte daquilo que eu inicialmente escrevi durante minha estadia em outros países foi em Inglês, pois recusava comunicar-me em Português ou ter relacionamento com brasileiros ou portugueses.
Aleixo, no Rio, 1968.
Veja por exemplo o texto escrito na mencionada data com tradução logo abaixo.
It’s July, 1971. After a few months in Lisbon, where I lived and worked for the Folha Noticiosa de Lisboa as an assessor and translator to the owner, Gal. Antonio Caldeira Lupi, who´d been the Portuguese Army Commander in Angola and Pres. Marcelo Caetano´s journalist, despite all opportunities offered to me in Portugal by this man, even approaching me to his granddaughter, I decided to continue my wanderings started in Sydney, Australia. It´s funny, but since I left Brazil in 1969 I had this a feeling that I should write in English and Portuguese whenever my mind said so.
On my way to London my ship had a stopover at the Rotterdam Port. It moored and departed in the same day, but I had the chance to visit the city for a while. Arriving in London, I had to help a Spanish guy whom I´d met
Aleixo, em Pirinópolis, GO., 2003
in Southampton, before leaving to London by train. Found him a taxi and tried to help the best I could. After this I had to call Nick, a trip pal I
´d met on the ship from Cape Town to Lisbon. First I phoned his job then his residence where I found him. After a little chat he told me to get on the train to Kings Langley Station where he´d meet me, for I´d asked him to find me a place to stay when I arrived in London. When I arrived at Kings Langley Station, there he was. I got out of the station and we went to a parking lane where he had his car parked. I put my luggage on the back seat and shook his hand. He drove out to somewhere I thought was a hotel but it was his parents´ home, a cottage with a nice garden in Hertfordshire. I could hardly believe he was being so kind to me, just a sea travel colleague. All I expected was him to find me a boarding house. So, we went into his
Aleixo, Regina, Antônio João e M. Sandra.
family home, he introduced me to his father and mother, a very educated and friendly couple. Nick took me upstairs and showed me the place I would sleep in, a big, clean room with two single beds and two wide windows.
There were nice furniture and fixtures with lots of books. Then I was shown the rest of the house. Nick´s father, one of those very English personalities who was a lawyer at Her Majesty´s Court (Grays Inn) in London. Every time we sat for meals we should talk about a specific subject decided on
Aleixo, primo Dede e esposa, Italva, 2012.
at the table. Even though my spoken English was good, this was new to me, a simple mortal, among such a sort of highly educated persons.
Era julho de 1971. Depois de alguns meses em Lisboa, onde vivi e trabalhei para a "Folha Noticiosa de Lisboa" como assessor e tradutor do proprietário, Gal. Antônio Caldeira Lupi, que tinha sido o Comandante do Exército Português, em Angola, e Jornalista do Presidente Marcelo Caetano, apesar de todas as oportunidades oferecidas a mim em Portugal, por esta educadíssima personalidade portuguesa, inclusive ter-me apresentado à sua neta, decidi continuar minhas andanças começadas em Sydney, na Austrália.
Lei, Tia Dolores, Cida, Fátima, Alexandre Nuss...
É engraçado, mas desde que eu saí do Brasil, em 1969, eu tinha essa sensação de que deveria escrever em Português e Inglês sempre que minha mente assim o dissesse.
Partia, agora para Londres, já que era meu destino final com a passagem comprada em Sydney. Meu navio tinha uma parada no porto de Roterdã. Ancoramos e partimos no mesmo dia, mas tive a oportunidade de visitar a cidade por um tempo. Chegando a Londres, tive que ajudar um espanhol que conheci em Southampton, antes de sair para Londres de trem.
Aleixo e Regina, Londres, 2010
Encontrei-o um táxi e tentei ajudá-lo o melhor que pude. Depois disto, tinha que ligar para Nick, um amigo de viagem que conheci no navio da Cidade do Cabo para Lisboa. Primeiro liguei para o seu trabalho, então para sua residência, onde o encontrei. Depois de uma pequena conversa ele me disse para pegar o trem para a Estação de Kings Langley, aonde ele iria me encontrar, pois eu havia lhe pedido para arranjar-me um lugar para ficar quando chegasse a Londres. Quando cheguei à estação de Kings Langley lá estava ele. Saí da estação e fomos a uma área de estacionamento onde ele tinha o carro estacionado. Coloquei minha bagagem no banco de trás e apertei sua mão. Ele partiu para algum lugar que eu pensei que seria um hotel, mas foi para a casa de seus pais, uma casa com um belo jardim, em Hertfordshire. Eu mal podia acreditar que ele estava sendo tão gentil comigo, apenas um colega de viagem
Aleixo, Joãozinho e Zezé, 2012.
marítima. Tudo o que eu esperava era que ele me encontrasse uma pousada. Mas, fomos para casa de sua família. Ele me apresentou ao seu pai e à sua mãe, um casal muito educado e simpático.
Nick me levou ao andar de cima e me mostrou o lugar em que eu iria dormir, um quarto grande e limpo, com duas camas de solteiro e duas amplas janelas. Havia móveis bonitos e estantes com muitos livros. Em seguida, foi-me mostrado o resto da casa. O pai de Nick, uma daquelas personalidades muito inglesas, era um advogado na Corte de Sua Majestade (na Gray's Inn), em Londres, toda vez que nós nos sentávamos para as refeições, deveríamos falar sobre um assunto específico decidido à mesa. Mesmo sendo meu Inglês falado bom, aquilo era novo para mim, um simples mortal, na presença de personalidades inglesas tão ilustres e cultas...

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

NARCISO, PASSADO E PRESENTE



Regina Lúcia, 2013
Sempre fui apaixonada pela Mitologia e nos meus 27 anos de docência na universidade tive o prazer de ministrar essa disciplina algumas vezes, dentre outras tantas. Sei que na maioria das vezes conseguia contaminar meus alunos com minha paixão. Eu costumava dizer a eles que a obrigação do mestre é oferecer a primeira dose, mas a embriaguez ficava por conta de cada um... Muitos se embriagaram com literatura e isso resultou em belos trabalhos monográficos, dissertações e teses, posteriormente.
Narciso mirando-se no lago mitológico
Lembro que existem duas versões mais debatidas sobre o mito de Narciso. Uma, menos tradicional, oriunda do poeta grego Pausânias, diz que Narciso teria uma irmã gêmea e que ela seria o seu reflexo. Outra, considerada a versão original do mito, compreende que Narciso era uma das criaturas mais lindas de sua época. Por causa de sua beleza, as mulheres ficavam encantadas pelo jovem mancebo, filho de Cefiso e Liríope.
O nome Narciso, oriundo do grego narkhé, quer dizer torpor ou narcótico. O signo é prenúncio do que sua existência significaria, ou seja, beleza que entorpece, atordoa, embaraça a todos aqueles por quem é vislumbrada.
Ninfa Eco
Mas também, por sua ascendência, Narciso tem estreita relação com a ideia de água, escoamento e fertilidade, por parte de pai, bem como mansidão, voz macia e leveza, do lado de sua mãe.  Na mitologia, tudo isso influenciaria sua vida.
Conta-se que, certa vez, Narciso passeava nos bosques. Perto dali, a ninfa ECO, que era uma tagarela incorrigível, acompanhava-o, admirando sua beleza, mas sem permitir que fosse vista. Eco, em virtude de sua tagarelice, foi punida por Hera, esposa de Zeus, para que sempre
Narciso ao espelho
repetisse os últimos sons que ouvisse e, por isso, na física, chama-se de eco a reverberação do som.Narciso, suspeitando de que estava sendo seguido, perguntou: “quem está aí?”. E ouviu: “Alguém aí?” Então, ele gritou novamente: “Por que foges de mim?”. E ouviu “foges de mim”. Até dizer “Juntemo-nos aqui” e ter como resposta “juntemo-nos aqui”. Toda essa repetição acabou deixando Narciso angustiado por desejar amar algo que não poderia ver.
Dessa forma, Narciso entristeceu-se e foi à beira de um lago, onde se deparou com sua imagem nos reflexos da água. Como nunca antes havia se olhado, uma vez que sua mãe foi recomendada a não permitir que isso ocorresse, enamorou-se perdidamente, acreditando ser a pessoa com quem estava
A flor Narciso
ialogando. Assim, tentou buscar incessantemente o seu reflexo, imergindo nas águas nesse intento, mas acabou morrendo afogado.
A ninfa Eco sentiu-se culpada e transformou-se em um rochedo, vivendo a emitir os últimos sons que ouve. Do fundo da lagoa, surgiu a flor que recebeu o nome de Narciso e mantém as suas características.
O mito de Narciso e Eco tem sido muito estudado, sobretudo, por psicólogos. Alguns explicam que o álter ego, isto é, o outro que nos completa, é buscado fora de si, mas sempre como um retorno a si mesmo. É que nesse sistema vivemos em busca de preencher o vazio libidinal que nos atormenta, redirecionando toda nossa energia para a satisfação por meio do ter. Essa tentativa de satisfação que cultua um individualismo exagerado no mundo
Luciana Neto no dentista
contemporâneo tem sido propriamente chamada de sociedade narcisista... Além disso, a gente vive buscando no outro a imagem de nós mesmos ao espelho...
Estudar os mitos é de extrema importância, pois neles se expressa o conhecimento atemporal. Por meio de seus símbolos, somos levados a uma jornada arquetípica e que muitas vezes tem mais realidade e atualidade que os fatos históricos, pois dão origem a eles.
O mito de Narciso nos mostra uma tendência comum da natureza humana. Em geral, é consenso interpretar o mito, como a história de uma pessoa enamorada de si mesma que cai no erro de confundir-se com sua imagem no lago. Muito se fala dos narcisistas, pessoas que se amam mais do que amam a qualquer outra pessoa. Realmente, Narciso é uma pessoa enamorada de si mesma e caiu no erro de confundir-se com sua própria imagem no lago.
Crianças assistindo à TV
Na história de Narciso, ele se apaixona por um reflexo que ele mesmo projetou no lago, símbolo do inconsciente, representando também nossas energias criadoras ou criativas, fonte daquilo que os alquimistas chamavam de luz astral. Em outras palavras, sempre que estamos apaixonados, estamos vendo um ideal projetado sobre a outra pessoa e não a própria pessoa, a qual a gente vai perceber um pouco depois que a embriaguez da paixão diminuir...
Quando a overdose de hormônios da felicidade diminui, a pessoa deixa de ver o ideal e passa a ver o real e nisso
Lucas e Juliana com Samanta.
muitas vezes é que vem a decepção, a desilusão. Até aqui, então, vemos que todos somos Narcisos, sempre buscando um lago para refletir nossa própria imagem e admirá-la!
Nos mitos, a morte associa-se à transformação. E isso vem confirmado logo em seguida, após a sua morte, de seu sangue brotam flores brancas, as quais recebem o seu nome. Geralmente, nos mitos, as flores representam as virtudes da alma ou o resultado da transformação. São brancas porque fazem a percepção retornar à pureza, ao original, ao que realmente é.
Netos e afilhado na Shamballa
Em síntese, encontramos no mito de Narciso muito mais do que a figura do amor por si mesmo, mas o princípio da natureza humana de depositar sua imagem, seu reflexo, em tudo que vê... É  que costumamos fazer com que tudo seja a projeção de nosso mundo interior que personificamos nas pessoas e nos acontecimentos à nossa volta!
Para concluir, o mito de Narciso mostra que às vezes é necessário matar a si mesmo, no sentido de renunciar a essa visão distorcida, egoísta, tendenciosa, para que possa aflorar a visão adequada, real, pura. E, para completar essa jornada de transformação, precisamos aprender a olhar para dentro e enxergar essas pequenas distorções da realidade...


domingo, 15 de dezembro de 2013

RELATO DE ALEIXO NUSS



Aleixo Nuss de Oliveira, na Shamballa
Minha família é extensa e continuamos trabalhando no sentido de juntar material para um livro sobre a saga da família Nuss e associados. Claro que contamos com a colaboração de todos os membros para lograr êxito!

Lembro que, aos treze anos de idade, não mais via graça na vida rural. Queria conhecer o mundo. Conhecer o mar, uma grande cidade. Meu pai, após muita insistência minha, levou-me para morar no Rio de Janeiro. Meu avô perguntou: vai levá-lo para aprender a ser ladrão?  As oportunidades para isso não faltaram, mas a pergunta de
Aleixo, 1978.
meu avô sempre se repetia na minha mente e, graças a ela, acho, escapei. A situação financeira era difícil. Fui morar na casa de um tio e tive que trabalhar de ciclista entregador de uma farmácia, não me agradou. Arranjei um emprego de auxiliar de sapataria em Copacabana, deu para levar, o tempo foi passando, comecei a estudar numa escola noturna. Depois, veio a época de servir o exército, dureza, aprontei bastante, mas consegui sair na última baixa, após 15 meses de serviço à Pátria.

Terminei o serviço militar, empreguei-me num laboratório farmacêutico como manipulador, mas tive várias promoções após terminar o segundo grau. Tentei vestibular para medicina na UFRJ, mas não tive
Aleixo e Regina, em Londres, 2010.
sucesso. Então, tentei classificação para estudar medicina na Universidade Patrice Lumumba, na Rússia. Originalmente chamava-se Universidade da Amizade dos Povos. Em 22 de fevereiro de 1961, passou a chamar-se Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba (UAPPL), em memória do líder guerrilheiro e depois primeiro-ministro (1960-1961) do Congo, Patrice Lumumba, deposto por um golpe militar articulado pela CIA e, posteriormente, assassinado por rebeldes separatistas. Patrice Émery Lumumba foi um líder anticolonial e o primeiro-ministro eleito, em junho de 1960,
Aleixo e Regina, 2012.
na atual República Democrática do Congo, depois de ter participado da conquista da independência do Congo Belga em relação à Bélgica.

Em 05 de fevereiro de 1992, a universidade passou a chamar-se Universidade Russa da Amizade dos Povos – Instituto Estatal de Educação Superior (PFUR), vinculada ao governo da Federação Russa. Entre os 700 mil estrangeiros que estudaram na UAPPL, mais de mil eram brasileiros – a maioria ligada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Através da União Internacional de Estudantes (UIE) era feito o encaminhamento de estudantes do Brasil para a UAPPL. 
Aleixo, em Natal, RN, 1996.
Segundo João Prestes, filho de Luís Carlos Prestes e ex-aluno da instituição, "A universidade formava quadros técnicos (médicos, advogados, engenheiros), sem viés político. O problema era a volta ao Brasil. Muitos tiveram dificuldade para reconhecer seus diplomas, pois havia uma circular secreta do Ministério da Educação determinando o não reconhecimento dos cursos feitos lá". Quase tudo era custeado pelo Estado soviético - passagem aérea, livros, hospedagem. Também era concedida uma pequena mesada equivalente a cerca de 80 dólares.

Todavia, tampouco obtive sucesso nessa minha segunda
Aleixo com Astro e Bettina, 2012.
investida para estudar medicina, talvez, por não ser associado ao PCB, por sorte ou simples desenrolar do destino.

Porém, minha necessidade de ir além não saía da cabeça. Chegava a hora de ir mais longe, tentar outros caminhos. Surgiu a Austrália como opção viável e, assim, outras oportunidades. Pedi demissão do Park Davis, sob muitos protestos, mas quando  eu disse que ia para a Austrália, alguns sonhadores da administração começaram a me apoiar e deram um jeito.

Lá fui eu para Sydney no meu primeiro voo num jato 707 da
Aleixo e Regina, no Rio de Janeiro.
Lufthansa. Posso dizer, hoje, que foi uma verdadeira viagem indianajonesca, o avião caiu num bolsão de vácuo sobre o deserto e quase mergulhamos nas dunas escaldantes logo depois de Bagdá.

 Mas, voltando à primeira escala, paramos em Dakar no Senegal, na Suíça, na Alemanha (pernoite em Frankfurt), na Grécia, no Iraque, na Índia, em Cingapura, entre outros, até chegar a Sydney, na Austrália uns três dias depois. De lá fui direto para Port Kembla onde, após alguns dias, hospedado em uma casa de família, consegui emprego na Port Kembla Steel Works, uma grande siderúrgica.

João e Benedita Nuss.
Mas isto foi por pouco tempo, pois o meu objetivo era voltar a trabalhar num Laboratório Farmacêutico, como o Park Davis, onde havia trabalhado por cinco anos no Rio de Janeiro. Nesse meu tempo aproveitava para melhorar o Inglês que era ainda muito fragmentado, porém já dava para ajudar até ao próprio dono da casa onde morava, uma família italiana, pois ele estava sem emprego e não falava nada de Inglês. Nessa época, ajudei-o numa entrevista, sua mulher e filhas ficaram muito agradecidas...

A prima Sonia Nuss nos relatou que há poucos dias
Aleixo, Regina, Cida Nuss e Fernando.
encontrou-se com um rapaz lindo, educado e gentil em uma farmácia. Ela não o reconheceu, pois ela o havia visto pela última vez quando era pequeno! Mas achou algo familiar e lhe perguntou o nome. Soube que é meu sobrinho, filho do Felipe, que faleceu precocemente. Ficou deveras emocionada... Afinal, o tempo passa e a família cresce sempre mais, porém, quando é possível reencontrar os filhos dos primos é muito gratificante...

Contou-nos ainda que em recente confraternização natalina que o prazer de reconhecer entre o grupo de fisioterapeutas a filha do primo João, neta do tio Bruno... Acrescentou que a menina é linda e simpática também!

Sonia Nuss afirmou que adorou conhecer mais primos da quarta geração dos Nuss...