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Regina na entrada da Shamballa |
Matheus, Juju e eu fomos buscar
leite e queijo fresco na chácara vizinha e lembrei-me da minha infância.
Inicialmente o leite era comprado nas carroças pelas ruas de Goiânia. Depois,
surgiu o leite pasteurizado e íamos buscá-lo à Avenida Paranaíba, naquelas
garrafas gordinhas de vidro com tampa de alumínio. Em algumas épocas, mamãe
trazia leite de nossa fazendinha nos finais de semana! Conheci o leite em
caixas muito tempo depois...
Como toda avó coruja, preparo-me
ansiosamente para a chegada dos meus netos para as festas de fim de ano. Sempre que posso, aproveito essa convivência
para alertá-los para enfrentar um futuro
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Aleixo Nuss antes da caminhada diária |
mais difícil, com menos recursos
naturais à nossa disposição. Por um lado não quero ser uma avó chata, mas
tampouco desejo sonegar informações que eu creio verdadeiras ou contribuir para
criá-los como alienados. É que na minha infância e juventude, a consciência
ecológica era pouco desenvolvida, de acordo com os valores da época. Hoje, há
mais informação, mas muitas discrepâncias no trato da natureza e dos animais,
variando entre a crueldade e a humanização excessiva dos bichos, em alguns
casos!
Assim, começo tentando explicar à
minha neta que os banhos, quando não na piscina ou nos rios, devem ser curtos e
que lavar a
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Apolo curtindo o bosque |
cabeça diariamente ou mais de uma vez por dia é um luxo até em país
rico. Sem problemas, porque ela não gosta muito de lavá-los! Aqui usamos
chuveiro a gás, mas expliquei ao Matheus que a energia elétrica no nosso país
vem, principalmente, de hidroelétricas, ou seja, exatamente da mesma fonte que
precisamos preservar para beber, lavar e cozinhar, sem falar de tantos outros
usos indispensáveis.
Chamo a atenção, ainda, para o
enorme desperdício de água tratada nas grandes cidades para: regar jardins,
lavar autos semanalmente, lavar calçadas, lavar roupas que poderiam ser usadas
mais vezes e assim por diante. Eu já me eduquei bastante, mas ainda preciso
melhorar. Sei que o brasileiro ainda usa
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Juliana com labradores da Shamballa |
e abusa da água, na maior parte do
país, mas que quando eles, meus netos, forem adultos, o panorama pode ser
outro. Certamente, o preço ou a escassez será muito maior.
E fico atrás das luzes deixadas
acesas, dos aparelhos de televisão às vezes ligados sem que ninguém as esteja
vendo e outros hábitos de desperdício. Por que temos de gastar bilhões de
dólares em hidroelétricas para atender demandas desenvolvimentistas e ao mesmo
tempo deixamos o desperdício à solta? Não seria mais eficaz usar as técnicas da
época do apagão, tendo em vista a demanda futura e investir na conscientização
do povo que vai
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Matheus desenhando |
pagar ou penar muito num futuro bem próximo, daqui a três ou
quatro décadas, com uma diminuição drástica de recursos naturais disponíveis
para o consumo?
Aí passo para a etapa que diz
respeito aos desperdícios de comida e bebidas. Os refrigerantes que abrem devem
ser consumidos até o término e sempre incentivo a preferência pelos sucos de
fruta. Todas as embalagens e restos têm de ser jogados nas lixeiras disponíveis
na casa e não nas ruas ou quintais, ou pelas janelas de carros, o que é mais
comum. Lembro, ainda, que o som de suas músicas deve ser baixo para não
incomodar os vizinhos, além da própria avó e que há limites legais de altura do
som medidos em decibéis.
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Com filhotes pastores em Minas |
Também falo sobre o custo ecológico
de manter muitos animais domésticos, como os nossos labradores, que consomem,
não produzem e cuja manutenção, num país onde a pobreza ainda é tão geral,
constitui quase uma afronta social. Além disso, em muitos casos, manter
cachorros de raça presos num canil no fundo do jardim, de onde nem podem ajudar
os donos, no caso de uma agressão, é uma custosa crueldade. Também procuro
explicar que manter animais silvestres enjaulados nas residências, embora eles
sejam simpáticos e que isso possa ser legal, é uma ação antinatural. Atualmente
Juju tem um hamster e Matheus, um periquito, ambos criados soltos no
apartamento brasiliense!
Felizmente, aqui na Shamballa,
posso mostrar aos meus netos os micos nativos da região, tucanos, papagaios,
periquitos, canários, morcegos,
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Regina, Otávio, Lu, Abadia e netos |
as seriemas, pererecas, cobras, cigarras e
outros animais bonitos e até raros, cachoeiras, nascentes, veredas, o cerrado
com todas as suas flores! Enfim, muita coisa bela que não se encontra em
grandes centros urbanos. Eles adoram tudo isso!
No entanto, mais além, eu quero
ter minha parcela de contribuição para que meus netos aprendam a viver no
futuro, e que não sejam consumistas ferozes, desperdiçadores, alheios aos bens
naturais em seu entorno e cidadãos pouco participativos com a sociedade em
geral. Posso passar a ideia da avó que aborrece muito, mas vou tentar
compensá-los com meu amor incondicional, aliado a passeios, conversas e caminhadas
interessantes.
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Laila, Daniel e Fábia, amigos para sempre! |
Na Shamballa, desfrutamos de um pôr do sol maravilhoso, quando não chove, e um
céu coberto de estrelas visíveis a olho nu à noite! O céu goiano sempre encantou os poetas! E a presença do bosque
purifica nosso corpo e alma! Assim, no meu papel de avó,
pretendo complementar a educação que meus filhos, nora e genro estão dando a
seus filhos. Não se trata de suplantá-los, e, sim, de complementá-los,
aproveitando as vantagens que os avós têm sobre os pais em relação aos netos.
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