segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

OS NETOS E A ECOLOGIA



Regina na entrada da Shamballa
Matheus, Juju e eu fomos buscar leite e queijo fresco na chácara vizinha e lembrei-me da minha infância. Inicialmente o leite era comprado nas carroças pelas ruas de Goiânia. Depois, surgiu o leite pasteurizado e íamos buscá-lo à Avenida Paranaíba, naquelas garrafas gordinhas de vidro com tampa de alumínio. Em algumas épocas, mamãe trazia leite de nossa fazendinha nos finais de semana! Conheci o leite em caixas muito tempo depois...

Como toda avó coruja, preparo-me ansiosamente para a chegada dos meus netos para as festas de fim de ano.  Sempre que posso, aproveito essa convivência para alertá-los para enfrentar um futuro
Aleixo Nuss antes da caminhada diária
mais difícil, com menos recursos naturais à nossa disposição. Por um lado não quero ser uma avó chata, mas tampouco desejo sonegar informações que eu creio verdadeiras ou contribuir para criá-los como alienados. É que na minha infância e juventude, a consciência ecológica era pouco desenvolvida, de acordo com os valores da época. Hoje, há mais informação, mas muitas discrepâncias no trato da natureza e dos animais, variando entre a crueldade e a humanização excessiva dos bichos, em alguns casos!

Assim, começo tentando explicar à minha neta que os banhos, quando não na piscina ou nos rios, devem ser curtos e que lavar a
Apolo curtindo o bosque
cabeça diariamente ou mais de uma vez por dia é um luxo até em país rico. Sem problemas, porque ela não gosta muito de lavá-los! Aqui usamos chuveiro a gás, mas expliquei ao Matheus que a energia elétrica no nosso país vem, principalmente, de hidroelétricas, ou seja, exatamente da mesma fonte que precisamos preservar para beber, lavar e cozinhar, sem falar de tantos outros usos indispensáveis.

Chamo a atenção, ainda, para o enorme desperdício de água tratada nas grandes cidades para: regar jardins, lavar autos semanalmente, lavar calçadas, lavar roupas que poderiam ser usadas mais vezes e assim por diante. Eu já me eduquei bastante, mas ainda preciso melhorar. Sei que o brasileiro ainda usa
Juliana com labradores da Shamballa
e abusa da água, na maior parte do país, mas que quando eles, meus netos, forem adultos, o panorama pode ser outro. Certamente, o preço ou a escassez será muito maior.

E fico atrás das luzes deixadas acesas, dos aparelhos de televisão às vezes ligados sem que ninguém as esteja vendo e outros hábitos de desperdício. Por que temos de gastar bilhões de dólares em hidroelétricas para atender demandas desenvolvimentistas e ao mesmo tempo deixamos o desperdício à solta? Não seria mais eficaz usar as técnicas da época do apagão, tendo em vista a demanda futura e investir na conscientização do povo que vai
Matheus desenhando
pagar ou penar muito num futuro bem próximo, daqui a três ou quatro décadas, com uma diminuição drástica de recursos naturais disponíveis para o consumo?

Aí passo para a etapa que diz respeito aos desperdícios de comida e bebidas. Os refrigerantes que abrem devem ser consumidos até o término e sempre incentivo a preferência pelos sucos de fruta. Todas as embalagens e restos têm de ser jogados nas lixeiras disponíveis na casa e não nas ruas ou quintais, ou pelas janelas de carros, o que é mais comum. Lembro, ainda, que o som de suas músicas deve ser baixo para não incomodar os vizinhos, além da própria avó e que há limites legais de altura do som medidos em decibéis.

Com filhotes pastores em Minas
Também falo sobre o custo ecológico de manter muitos animais domésticos, como os nossos labradores, que consomem, não produzem e cuja manutenção, num país onde a pobreza ainda é tão geral, constitui quase uma afronta social. Além disso, em muitos casos, manter cachorros de raça presos num canil no fundo do jardim, de onde nem podem ajudar os donos, no caso de uma agressão, é uma custosa crueldade. Também procuro explicar que manter animais silvestres enjaulados nas residências, embora eles sejam simpáticos e que isso possa ser legal, é uma ação antinatural. Atualmente Juju tem um hamster e Matheus, um periquito, ambos criados soltos no apartamento brasiliense!

Felizmente, aqui na Shamballa, posso mostrar aos meus netos os micos nativos da região, tucanos, papagaios, periquitos, canários, morcegos,
Regina, Otávio, Lu, Abadia e netos
as seriemas, pererecas, cobras, cigarras e outros animais bonitos e até raros, cachoeiras, nascentes, veredas, o cerrado com todas as suas flores! Enfim, muita coisa bela que não se encontra em grandes centros urbanos. Eles adoram tudo isso!

No entanto, mais além, eu quero ter minha parcela de contribuição para que meus netos aprendam a viver no futuro, e que não sejam consumistas ferozes, desperdiçadores, alheios aos bens naturais em seu entorno e cidadãos pouco participativos com a sociedade em geral. Posso passar a ideia da avó que aborrece muito, mas vou tentar compensá-los com meu  amor incondicional, aliado a passeios, conversas e caminhadas interessantes. 
Laila, Daniel e Fábia, amigos para sempre!
Na Shamballa, desfrutamos de um pôr do sol maravilhoso, quando não chove, e um céu coberto de estrelas visíveis a olho nu à noite! O céu goiano sempre encantou os poetas!  E a presença do bosque purifica nosso corpo e alma! Assim, no meu papel de avó, pretendo complementar a educação que meus filhos, nora e genro estão dando a seus filhos. Não se trata de suplantá-los, e, sim, de complementá-los, aproveitando as vantagens que os avós têm sobre os pais em relação aos netos.

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