domingo, 15 de dezembro de 2013

RELATO DE ALEIXO NUSS



Aleixo Nuss de Oliveira, na Shamballa
Minha família é extensa e continuamos trabalhando no sentido de juntar material para um livro sobre a saga da família Nuss e associados. Claro que contamos com a colaboração de todos os membros para lograr êxito!

Lembro que, aos treze anos de idade, não mais via graça na vida rural. Queria conhecer o mundo. Conhecer o mar, uma grande cidade. Meu pai, após muita insistência minha, levou-me para morar no Rio de Janeiro. Meu avô perguntou: vai levá-lo para aprender a ser ladrão?  As oportunidades para isso não faltaram, mas a pergunta de
Aleixo, 1978.
meu avô sempre se repetia na minha mente e, graças a ela, acho, escapei. A situação financeira era difícil. Fui morar na casa de um tio e tive que trabalhar de ciclista entregador de uma farmácia, não me agradou. Arranjei um emprego de auxiliar de sapataria em Copacabana, deu para levar, o tempo foi passando, comecei a estudar numa escola noturna. Depois, veio a época de servir o exército, dureza, aprontei bastante, mas consegui sair na última baixa, após 15 meses de serviço à Pátria.

Terminei o serviço militar, empreguei-me num laboratório farmacêutico como manipulador, mas tive várias promoções após terminar o segundo grau. Tentei vestibular para medicina na UFRJ, mas não tive
Aleixo e Regina, em Londres, 2010.
sucesso. Então, tentei classificação para estudar medicina na Universidade Patrice Lumumba, na Rússia. Originalmente chamava-se Universidade da Amizade dos Povos. Em 22 de fevereiro de 1961, passou a chamar-se Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba (UAPPL), em memória do líder guerrilheiro e depois primeiro-ministro (1960-1961) do Congo, Patrice Lumumba, deposto por um golpe militar articulado pela CIA e, posteriormente, assassinado por rebeldes separatistas. Patrice Émery Lumumba foi um líder anticolonial e o primeiro-ministro eleito, em junho de 1960,
Aleixo e Regina, 2012.
na atual República Democrática do Congo, depois de ter participado da conquista da independência do Congo Belga em relação à Bélgica.

Em 05 de fevereiro de 1992, a universidade passou a chamar-se Universidade Russa da Amizade dos Povos – Instituto Estatal de Educação Superior (PFUR), vinculada ao governo da Federação Russa. Entre os 700 mil estrangeiros que estudaram na UAPPL, mais de mil eram brasileiros – a maioria ligada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Através da União Internacional de Estudantes (UIE) era feito o encaminhamento de estudantes do Brasil para a UAPPL. 
Aleixo, em Natal, RN, 1996.
Segundo João Prestes, filho de Luís Carlos Prestes e ex-aluno da instituição, "A universidade formava quadros técnicos (médicos, advogados, engenheiros), sem viés político. O problema era a volta ao Brasil. Muitos tiveram dificuldade para reconhecer seus diplomas, pois havia uma circular secreta do Ministério da Educação determinando o não reconhecimento dos cursos feitos lá". Quase tudo era custeado pelo Estado soviético - passagem aérea, livros, hospedagem. Também era concedida uma pequena mesada equivalente a cerca de 80 dólares.

Todavia, tampouco obtive sucesso nessa minha segunda
Aleixo com Astro e Bettina, 2012.
investida para estudar medicina, talvez, por não ser associado ao PCB, por sorte ou simples desenrolar do destino.

Porém, minha necessidade de ir além não saía da cabeça. Chegava a hora de ir mais longe, tentar outros caminhos. Surgiu a Austrália como opção viável e, assim, outras oportunidades. Pedi demissão do Park Davis, sob muitos protestos, mas quando  eu disse que ia para a Austrália, alguns sonhadores da administração começaram a me apoiar e deram um jeito.

Lá fui eu para Sydney no meu primeiro voo num jato 707 da
Aleixo e Regina, no Rio de Janeiro.
Lufthansa. Posso dizer, hoje, que foi uma verdadeira viagem indianajonesca, o avião caiu num bolsão de vácuo sobre o deserto e quase mergulhamos nas dunas escaldantes logo depois de Bagdá.

 Mas, voltando à primeira escala, paramos em Dakar no Senegal, na Suíça, na Alemanha (pernoite em Frankfurt), na Grécia, no Iraque, na Índia, em Cingapura, entre outros, até chegar a Sydney, na Austrália uns três dias depois. De lá fui direto para Port Kembla onde, após alguns dias, hospedado em uma casa de família, consegui emprego na Port Kembla Steel Works, uma grande siderúrgica.

João e Benedita Nuss.
Mas isto foi por pouco tempo, pois o meu objetivo era voltar a trabalhar num Laboratório Farmacêutico, como o Park Davis, onde havia trabalhado por cinco anos no Rio de Janeiro. Nesse meu tempo aproveitava para melhorar o Inglês que era ainda muito fragmentado, porém já dava para ajudar até ao próprio dono da casa onde morava, uma família italiana, pois ele estava sem emprego e não falava nada de Inglês. Nessa época, ajudei-o numa entrevista, sua mulher e filhas ficaram muito agradecidas...

A prima Sonia Nuss nos relatou que há poucos dias
Aleixo, Regina, Cida Nuss e Fernando.
encontrou-se com um rapaz lindo, educado e gentil em uma farmácia. Ela não o reconheceu, pois ela o havia visto pela última vez quando era pequeno! Mas achou algo familiar e lhe perguntou o nome. Soube que é meu sobrinho, filho do Felipe, que faleceu precocemente. Ficou deveras emocionada... Afinal, o tempo passa e a família cresce sempre mais, porém, quando é possível reencontrar os filhos dos primos é muito gratificante...

Contou-nos ainda que em recente confraternização natalina que o prazer de reconhecer entre o grupo de fisioterapeutas a filha do primo João, neta do tio Bruno... Acrescentou que a menina é linda e simpática também!

Sonia Nuss afirmou que adorou conhecer mais primos da quarta geração dos Nuss...

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