terça-feira, 17 de dezembro de 2013

NARCISO, PASSADO E PRESENTE



Regina Lúcia, 2013
Sempre fui apaixonada pela Mitologia e nos meus 27 anos de docência na universidade tive o prazer de ministrar essa disciplina algumas vezes, dentre outras tantas. Sei que na maioria das vezes conseguia contaminar meus alunos com minha paixão. Eu costumava dizer a eles que a obrigação do mestre é oferecer a primeira dose, mas a embriaguez ficava por conta de cada um... Muitos se embriagaram com literatura e isso resultou em belos trabalhos monográficos, dissertações e teses, posteriormente.
Narciso mirando-se no lago mitológico
Lembro que existem duas versões mais debatidas sobre o mito de Narciso. Uma, menos tradicional, oriunda do poeta grego Pausânias, diz que Narciso teria uma irmã gêmea e que ela seria o seu reflexo. Outra, considerada a versão original do mito, compreende que Narciso era uma das criaturas mais lindas de sua época. Por causa de sua beleza, as mulheres ficavam encantadas pelo jovem mancebo, filho de Cefiso e Liríope.
O nome Narciso, oriundo do grego narkhé, quer dizer torpor ou narcótico. O signo é prenúncio do que sua existência significaria, ou seja, beleza que entorpece, atordoa, embaraça a todos aqueles por quem é vislumbrada.
Ninfa Eco
Mas também, por sua ascendência, Narciso tem estreita relação com a ideia de água, escoamento e fertilidade, por parte de pai, bem como mansidão, voz macia e leveza, do lado de sua mãe.  Na mitologia, tudo isso influenciaria sua vida.
Conta-se que, certa vez, Narciso passeava nos bosques. Perto dali, a ninfa ECO, que era uma tagarela incorrigível, acompanhava-o, admirando sua beleza, mas sem permitir que fosse vista. Eco, em virtude de sua tagarelice, foi punida por Hera, esposa de Zeus, para que sempre
Narciso ao espelho
repetisse os últimos sons que ouvisse e, por isso, na física, chama-se de eco a reverberação do som.Narciso, suspeitando de que estava sendo seguido, perguntou: “quem está aí?”. E ouviu: “Alguém aí?” Então, ele gritou novamente: “Por que foges de mim?”. E ouviu “foges de mim”. Até dizer “Juntemo-nos aqui” e ter como resposta “juntemo-nos aqui”. Toda essa repetição acabou deixando Narciso angustiado por desejar amar algo que não poderia ver.
Dessa forma, Narciso entristeceu-se e foi à beira de um lago, onde se deparou com sua imagem nos reflexos da água. Como nunca antes havia se olhado, uma vez que sua mãe foi recomendada a não permitir que isso ocorresse, enamorou-se perdidamente, acreditando ser a pessoa com quem estava
A flor Narciso
ialogando. Assim, tentou buscar incessantemente o seu reflexo, imergindo nas águas nesse intento, mas acabou morrendo afogado.
A ninfa Eco sentiu-se culpada e transformou-se em um rochedo, vivendo a emitir os últimos sons que ouve. Do fundo da lagoa, surgiu a flor que recebeu o nome de Narciso e mantém as suas características.
O mito de Narciso e Eco tem sido muito estudado, sobretudo, por psicólogos. Alguns explicam que o álter ego, isto é, o outro que nos completa, é buscado fora de si, mas sempre como um retorno a si mesmo. É que nesse sistema vivemos em busca de preencher o vazio libidinal que nos atormenta, redirecionando toda nossa energia para a satisfação por meio do ter. Essa tentativa de satisfação que cultua um individualismo exagerado no mundo
Luciana Neto no dentista
contemporâneo tem sido propriamente chamada de sociedade narcisista... Além disso, a gente vive buscando no outro a imagem de nós mesmos ao espelho...
Estudar os mitos é de extrema importância, pois neles se expressa o conhecimento atemporal. Por meio de seus símbolos, somos levados a uma jornada arquetípica e que muitas vezes tem mais realidade e atualidade que os fatos históricos, pois dão origem a eles.
O mito de Narciso nos mostra uma tendência comum da natureza humana. Em geral, é consenso interpretar o mito, como a história de uma pessoa enamorada de si mesma que cai no erro de confundir-se com sua imagem no lago. Muito se fala dos narcisistas, pessoas que se amam mais do que amam a qualquer outra pessoa. Realmente, Narciso é uma pessoa enamorada de si mesma e caiu no erro de confundir-se com sua própria imagem no lago.
Crianças assistindo à TV
Na história de Narciso, ele se apaixona por um reflexo que ele mesmo projetou no lago, símbolo do inconsciente, representando também nossas energias criadoras ou criativas, fonte daquilo que os alquimistas chamavam de luz astral. Em outras palavras, sempre que estamos apaixonados, estamos vendo um ideal projetado sobre a outra pessoa e não a própria pessoa, a qual a gente vai perceber um pouco depois que a embriaguez da paixão diminuir...
Quando a overdose de hormônios da felicidade diminui, a pessoa deixa de ver o ideal e passa a ver o real e nisso
Lucas e Juliana com Samanta.
muitas vezes é que vem a decepção, a desilusão. Até aqui, então, vemos que todos somos Narcisos, sempre buscando um lago para refletir nossa própria imagem e admirá-la!
Nos mitos, a morte associa-se à transformação. E isso vem confirmado logo em seguida, após a sua morte, de seu sangue brotam flores brancas, as quais recebem o seu nome. Geralmente, nos mitos, as flores representam as virtudes da alma ou o resultado da transformação. São brancas porque fazem a percepção retornar à pureza, ao original, ao que realmente é.
Netos e afilhado na Shamballa
Em síntese, encontramos no mito de Narciso muito mais do que a figura do amor por si mesmo, mas o princípio da natureza humana de depositar sua imagem, seu reflexo, em tudo que vê... É  que costumamos fazer com que tudo seja a projeção de nosso mundo interior que personificamos nas pessoas e nos acontecimentos à nossa volta!
Para concluir, o mito de Narciso mostra que às vezes é necessário matar a si mesmo, no sentido de renunciar a essa visão distorcida, egoísta, tendenciosa, para que possa aflorar a visão adequada, real, pura. E, para completar essa jornada de transformação, precisamos aprender a olhar para dentro e enxergar essas pequenas distorções da realidade...


Um comentário:

  1. No dia 21 de Junho de 2015 iremos realizar um dos primeiros mutirões de limpeza e escoramento das paredes da Fazenda São Bernardino. Estas ações terão o objetivo de manter o Casarão isento de mato e as paredes livres das trepadeiras que aos poucos vão causando rachaduras, além de retirar o lixo deixado pelo visitantes. Juntos iremos fazer a manutenção deste patrimônio histórico abandonado pelo poder publico local e Estadual, por isso devemos ter um sentimento de pertencimento do local, que é um dos pontos turísticos mais visitados da Baixada Fluminense.

    Iremos servir café da manhã e almoço para quem se cadastrar através do Whatsapp +55 21 971456550 ( Os participantes concorrerão ao sorteio de passaportes para fazendas associadas ao Circuito de Turismo de Tinguá)

    Cada voluntário deverá levar uma das Ferramentas listadas abaixo para participar do mutirão: (Luva e botas para proteção pessoal)

    Manuais: Carrinho de mão - Enxada - Ancinho - Pá - Foice - Tesoura de Jardim - Escova de aço - Vassoura - escada - cavadeira - enxadão

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