Clélia, Regina, Aleixo e José Hermano Sobrinho. |
Hoje, Goiânia completa 79 anos que quero homenagear a minha cidade natal e seus idealizadores! Objetivando resgatar a história dos pioneiros de Goiânia, temos tido como foco os nossos avós que migraram para Goiás na década de 20 /30. Assim, temos pesquisado, sobretudo, sobre a mudança da família Araújo do nordeste para Goiás. A família materna veio de Minas. É apaixonante esta pesquisa e estamos descobrindo coisas muito interessantes.
Lembrando o contexto da época, sabemos que a década de 1930 foi um dos períodos mais sangrentos de toda a história mundial.
Avião aterrissando em GYN, 42. |
Então, Hitler ascende ao cargo de chanceler na Alemanha e tem início o genocídio do que Hitler chamava de raças inferiores, em especial, os judeus. Também inicia, em 1939, a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, Getúlio Vargas estava no poder.
A proposta de transferir a capital de Goiás permaneceu em latência até à Revolução de 1930, quando Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado interventor federal por Getúlio Vargas. No final de 1932, Pedro Ludovico tomou as primeiras providências para que Goiânia fosse construída. A proposta de transferir a capital de Goiás, que àquela altura já durava há pelo menos 180 anos, encontrou campo fértil na política do governo federal.
Relógio na Avenida Goiás, aqui. |
A decisão de Pedro Ludovico estava em consonância com a Marcha para o Oeste, política desenvolvida pelo governo Vargas para acelerar o desenvolvimento e incentivar a ocupação do Centro-Oeste brasileiro.
No sábado estivemos na residência do casal José Hermano Sobrinho e Dalva. Ele conheceu a nossa família paterna ainda na velha capital e se prontificou a receber-nos e compartilhar as suas memórias.
Carro de Bois, na Praça Cívica, Goiânia, 1937. |
Minha irmã Clélia trabalhou muitos anos como assessora de seu irmão Modestino a quem ela agradece o enorme aprendizado e a amizade. José Hermano lembrou-se de papai na década de 30. Mencionou todos os membros da família, inclusive dois de nossos tios que faleceram antes de nosso nascimento. Contou como nosso pai - José Araújo - se estabeleceu na Rua 15 de Novembro, perto do Mercado Municipal, em Goiás Velho. Disse que era um armazém grande cheio de peles e ele trabalhava ali ajudado por seus irmãos mais jovens.
Cartaz incentivando a mudança para Goiânia. |
Disse-nos que papai foi o introdutor da venda de peles de animais silvestres em Goiás. Relatou, ainda, que conviveu muito com nosso tio Tonho que era alfaiate lá e descreveu a beleza de nossa tia Leonildes, sua postura elegante. Confirmou que ela era muito ligada ao irmão Hilário. Eles adoeceram anos mais tarde de TB, foram fazer tratamento em BH, mas não resistiram.
Hermano descreveu um bar que papai possuiu no início de Goiânia. Era uma espécie de bar de sinuca na Anhanguera com a Rua 20. Contou que José Araújo era severo, chamava a atenção dos estudantes da época. José Hermano falou de papai como um pioneiro de destaque, um dos fundadores da associação comercial aqui em Goiânia. Recorda-se da Casa Araújo, na Rua 20. Naquela época existia o que se chamava de armazém de secos e molhados, uma miscelânea de artigos à venda. Contou que o Tio Venerando foi seu professor na Rua da Estrada em Goiás. Na época eles costumavam fazer um curso de Admissão que era o preparatório para o ingresso ao Lyceu.
Famosa Feira da Praça Tamandaré, aos sábados, em Goiânia. |
Soubemos com certeza que, em 1935, papai e o tio venerando já estavam aqui na nova capital. Mas apenas em 37 vieram as repartições, as escolas, a Faculdade de Direito e de Enfermagem. Aliás, tudo veio de Goiás, a antiga capital.
José Hermano Sobrinho mencionou sua crônica sobre a infância em Goiás, publicada no domingo anterior em jornal goiano - Diário da Manhã – disponibilizando-nos uma cópia do texto.
Falou com emoção saudosa das tertúlias da época, das serenatas, dos saraus, dos bailes que alegravam a sociedade goiana. A cidade de Goiás orgulhava-se de sua intensa vida cultural. Existia Opera em Goiás, onde depois funcionou o Cine São Joaquim, que fica perto da casa de Cora Coralina.
Paisagem atual da cidade. |
Disse-nos que sua mãe - Arcângela Pereira Hermano - fazia bolo de arroz e pastel de nata e o menino José Hermano vendia as quitandas nas ruas da cidade, nos períodos que não estava na escola. Afirmou que tinha freguesia certa. Seu pai era sapateiro, a mãe quitandeira, mas criaram nove filhos. Seu irmão Modestino, advogado e amigo de minha irmã Clélia, foi também excelente jogador de futebol – Manduca - no início de Goiânia. Foi convidado a jogar no Corinthians, em São Paulo, mas não suportou a saudade da terra goiana e voltou a jogar em Goiânia, tendo-se destacado também como jurista. Clélia reiterou que ele além de seu chefe e amigo foi um dos principais responsáveis pela sua formação profissional no longo período em que o assessorou, incentivando-a sempre!
Lago das Rosas, na década de 40. |
José Hermano citou também nosso tio Tonho que era alfaiate em Goiás Velho. Parece que sua alfaiataria era na Rua 15, ou Rua da Estrada. Contou-nos que o antigo empregado de papai que gostaríamos de reencontrar faleceu há alguns anos, juntamente com seus irmãos Berenice e Osíris Teixeira.
Em suas memórias, citou ainda o primeiro carnaval de Goiânia que movimentou o Grande Hotel, em 1939, e a revolta dos Caras Pretas – rebelião em Pirenópolis - na qual os ingleses foram expulsos debaixo de fogo armado de suas minas de ouro, no Rio das Almas. Depois, mostrou-nos fotos antigas da capital goiana e combinamos novos encontros para troca de memórias goianas.
Prédio antigo da Loja Maçônica. |
Silvio Berto e Pedro Ludovico, 42. |
Igreja Matriz de Campinas. |
Tia Ré, visualizei tanta coisa no seu texto! Acho que realmente pode sair muita coisa interessante de toda a história Araújo e Goiânia... um beijo!
ResponderExcluirEstamos continuando a pesquisa... Depois vc, Tarsila, e o Leandro farão um belo filme, tenho certeza! Abreijos
ResponderExcluirData: Wed, 24 Oct 2012 13:35:25 -0200
De: Clelia Araujo
Para: regina araujo
Assunto: RE: texto do blog
Oi, Regi!
Admiro muito a sua capacidade de dar o recado, com síntese e clareza. Aiaiaiai, eu não sei escrever pouco! Na verdade, eu não substituí o Modestino porque saí antes de ele se aposentar, para ir para a Previdência. Era o tempo da ditadura e o Modestino, embora não fosse esquerdista, era um cara sério, que não abria mão de seus princípios para proteger os apaniguados da ditadura. Então, ele perdeu o cargo e foi substituído por um "dedo duro" que passou a perseguir a todos que não rezavam na cartilha deles. Eu fui mandada de volta para o trabalho de fiscalização na rua e só recebia para fiscalizar boites, casas noturnas, motéis e locais problemáticos! O Modestino, como era um ícone e eles temiam a repercussão de mandá-lo para o trabalho de rua, foi colocado num posto de assessor do Delegado, onde ele não era acionado para nada. Ele aproveitava para estudar, escrever artigos para o nosso jornal interno e receber os colegas que iam desabafar com ele as perseguições sofridas. Como ele gostava muito de mim, quase me obrigou a fazer o concurso da Previdência porque ele sabia que lá os fiscais tinham mais independência e não passavam pelas humilhações a que estávamos sendo submetidos. Passei no concurso, fui para a Previdência e fiz uma carreira brilhante lá, me aposentando no posto máximo de chefe da fiscalização. Nada disso interessa ao seu texto, apenas lhe contei a história pra vc ter uma ideia e por que a visita ao Dr. José Hermano me despertou uma saudade imensa do meu mestre!
Quanto ao seu texto, está perfeito. Éramos ambos Fiscais do Trabalho (na época a terminologia era Inspetor do Trabalho) e hoje é Auditor do Trabalho. Ele chefiava a Divisão de Proteção ao Trabalho e eu era sua assessora e substituta até o momento em que ele perdeu o cargo, por perseguição política, conforme narrei acima.
Outra coisa sobre o futebol: ele foi contratado pelo Corinthians, mas não conseguiu ficar em São Paulo. Não encerrou a carreira, voltou pra Goiás e veio a encerrar a carreira aqui, no Goiânia (seu time do coração) ou no Goiás, não sei ao certo. Ele conciliava os estudos de Direito com a carreira no futebol, assim quando encerrou a vida de atleta entrou para o serviço público. Como sempre foi um cara humilde, não teve o reconhecimento merecido na vida profissional, mas quem o conheceu, sabe da importância que ele representou para o serviço público federal, aqui em Goiás.
Desculpa ter escrito tudo isso, que não interessa à sua pesquisa, mas bateu uma nostalgia e deu vontade de desabafar.
Beijo,
clélia.
Hoje recebi um envelope enviado pelo prezado José Hermano! Ele teve o cuidado de tirar cópia do livro esgotado e organizado por sua saudosa irmã AMÁLIA HERMANO TEIXEIRA, cujo título é REENCONTRO. O texto conta a história do Lyceu de Goiaz e foi impresso no ano em que a turma comemorava 46 de formatura, especificamente, 1981. Traz o discurso proferido por meu tio Venerando que integrava o corpo docente da instituição à época.Fiquei deveras comovida e grata por ter acesso a tal preciosidade!
ResponderExcluirDe Helio Moreira
ResponderExcluirO "Jornal da Cultura Goiana" publicou o depoimento feito pelo querido amigo José Hermano Sobrinho, alusivo ao Batismo Cultural de Goiânia, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. Documento que precisa ser lido por todos os interessados em conhecer os primórdios de Goiânia. No bojo do depoimento, José Hermano, usando sua capacidade inacreditável de manter armazenado nas suas lembranças, dados sobre os tempos idos e vividos da nossa Goiânia, nomeia, com precisão, os nomes dos nossos primeiros habitantes, correndo rua por rua, desde o centro de Goiânia até o bairro de Campinas. Nesta viagem ao passado parece que José Hermano conversa com as pessoas que são citadas. Encerra a oração com a frase que lhe aflorou espontaneamente: Compete a nós, os pioneiros, repetir o refrão: "Que saudades que temos dos idos de 1942".