Regina, 2012. |
Minha mãe afirmava que as festas
do início de Goiânia não tinham graça se ele não comparecia.
Tio Venerando Freitas Borges |
Tinha um humor
incrível, boa aparência e dançava divinamente. Mamãe dizia que as mulheres
suspiravam por ele disfarçadamente. Mas ele era verdadeiramente apaixonado por
minha tia e, para ele, ela sempre constituiu modelo de virtudes e beleza!
Era raro o dia que ele não nos
visitava em casa e eu tinha uns cinco anos quando ele começou a ensinar-me a
dançar! Tio Venerando dançava valsas e tangos como poucos!
Sempre trabalhou muito e defendia
a educação e a honestidade com afinco! Uma vez soube que um neto não seguia seu
exemplo de idoneidade. Quando foi testado, respondeu que o tratassem com a lei
e esquecessem seu parentesco.
Maria Araujo Freitas Borges |
Venerando teve uma vida
interessantíssima. Foi prefeito por 14 anos no primeiro mandato, não foi um
político ladrão. Nunca teve amante. Perdeu cinco dos seis filhos. Passou por
duas ditaduras, em 1930 e 1964. Foi secretário da Fazenda, contador geral,
deputado estadual, presidente do Tribunal de Contas, diretor da Assembleia
Legislativa, prefeito novamente em 1950. Tinha mais de 30 carteiras funcionais.
Sobreviveu a acidentes de avião, mas perdeu o filho caçula e um genro em
desastres aéreos.
Minha prima Nizinha, sua única
filha que o sobreviveu, foi minha professora de piano. Ela sempre se destacou
na sociedade goianiense por sua elegância e educação, sendo muito conhecida e
respeitada por sua escola Yufon.
Cunhada Hermínia Araujo |
Nize me levou amavelmente aos
primeiros bailes da adolescência. Quando me casei, em 69, seu marido Agenor me
conduziu ao altar representando meu pai.
Eu poderia escrever um livro
resumindo todas as histórias familiares nas quais meu Tio Venerando atuou junto
com meus pais, irmãos, tios, avós, primos... Sempre admirei a sua força,
gostava tanto dele! Era muito prazeroso conversar com ele, ouvir as suas
histórias nos últimos anos de sua existência terrena!
Na infância, lembro-me de seu
sítio na estrada de Hidrolândia em que me encarregaram de colher as jabuticabas
mais altas e subi com uma lata de 20 litros. Comi tanta jabuticaba que passei
mal o dia todo e durante anos não consegui nem provar a nossa frutinha...
Didi, Marco e José Araujo, cunhado e amigo de Venerando. |
Lembro-me de quando ele ia a
nossa casa se aconselhar com papai ou buscar seu ombro na série de conflitos
que enfrentava a cada vez... De um de meus primos envolvido com galos briga ou
em sua lambreta, a exemplo do mito James Dean, da juventude da época... Da doença
de minha prima Éclair que partiu aos 32 anos deixando cinco filhos pequenos... Do
acidente do primo Luiz Roberto que desapareceu com mais dois colegas em viagem
de avião em 63...Da morte precoce de filhos, genro e neto entre tantos outros
dramas vividos por meu tio.
Minha mãe, tia Maria e tio Venerando. |
Depois que papai morreu, ele
nunca mais conseguiu frequentar a nossa casa. Um dia mamãe lhe cobrou a
ausência e ele chorou ao explicar que ainda não conseguira superar a partida do
amigo!
Uma das últimas festas familiares
a que compareceu foi o casamento de minha filha Fábia em julho de 93. A gente
não sabia, mas ele partiria meses depois, na véspera de meu aniversário, quando
eu corrigia provas do vestibular da Federal.
Vovó Maria, sogra de Venerando |
Quando eu terminei o segundo grau,
eu já falava inglês e francês, seguindo o exemplo de meu primo e ídolo Luiz
Roberto que faleceu no mesmo ano em que dançou comigo a valsa dos meus quinze
anos.
Eu gostava muito de ler,
escrever, mas tinha dúvidas sobre a escolha da graduação. Ele foi taxativo!
Possivelmente logo eu me casaria e teria filhos. O magistério me daria maior
flexibilidade para conciliar a vida profissional e familiar... Segui seu
conselho!
Vovô João Araújo, seu sogro. |
Um dia eu lhe contei que queria
escrever a história de minha família, destacando a vida de meu pai que muitos
perderam a chance de conhecer fisicamente. Ele aconselhou-me a fazê-lo logo.
Confessou-me que também havia tido essa ideia, mas foi adiando e, quando o percebeu, o tempo havia passado. Prometi que o faria, mas também fui adiando...
Confessou-me que também havia tido essa ideia, mas foi adiando e, quando o percebeu, o tempo havia passado. Prometi que o faria, mas também fui adiando...
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