sexta-feira, 3 de agosto de 2012

TIO VENERANDO


Regina, 2012.
Tio Venerando teve papel relevante na minha família. Era casado com minha tia paterna e amigo inseparável de meu pai muito antes de eu nascer. Sei que foi ele quem pediu a mão de minha mãe em casamento, costume da época.
Minha mãe afirmava que as festas do início de Goiânia não tinham graça se ele não comparecia. 
Tio Venerando Freitas Borges
Tinha um humor incrível, boa aparência e dançava divinamente. Mamãe dizia que as mulheres suspiravam por ele disfarçadamente. Mas ele era verdadeiramente apaixonado por minha tia e, para ele, ela sempre constituiu modelo de virtudes e beleza!
Era raro o dia que ele não nos visitava em casa e eu tinha uns cinco anos quando ele começou a ensinar-me a dançar! Tio Venerando dançava valsas e tangos como poucos!
Sempre trabalhou muito e defendia a educação e a honestidade com afinco! Uma vez soube que um neto não seguia seu exemplo de idoneidade. Quando foi testado, respondeu que o tratassem com a lei e esquecessem seu parentesco.
Maria Araujo Freitas Borges
Venerando teve uma vida interessantíssima. Foi prefeito por 14 anos no primeiro mandato, não foi um político ladrão. Nunca teve amante. Perdeu cinco dos seis filhos. Passou por duas ditaduras, em 1930 e 1964. Foi secretário da Fazenda, contador geral, deputado estadual, presidente do Tribunal de Contas, diretor da Assembleia Legislativa, prefeito novamente em 1950. Tinha mais de 30 carteiras funcionais. Sobreviveu a acidentes de avião, mas perdeu o filho caçula e um genro em desastres aéreos.
Minha prima Nizinha, sua única filha que o sobreviveu, foi minha professora de piano. Ela sempre se destacou na sociedade goianiense por sua elegância e educação, sendo muito conhecida e respeitada por sua escola Yufon.
Cunhada Hermínia Araujo
Nize me levou amavelmente aos primeiros bailes da adolescência. Quando me casei, em 69, seu marido Agenor me conduziu ao altar representando meu pai.
Eu poderia escrever um livro resumindo todas as histórias familiares nas quais meu Tio Venerando atuou junto com meus pais, irmãos, tios, avós, primos... Sempre admirei a sua força, gostava tanto dele! Era muito prazeroso conversar com ele, ouvir as suas histórias nos últimos anos de sua existência terrena!
Na infância, lembro-me de seu sítio na estrada de Hidrolândia em que me encarregaram de colher as jabuticabas mais altas e subi com uma lata de 20 litros. Comi tanta jabuticaba que passei mal o dia todo e durante anos não consegui nem provar a nossa frutinha...
Didi, Marco e José Araujo, cunhado e
amigo de Venerando.
Lembro-me de quando ele ia a nossa casa se aconselhar com papai ou buscar seu ombro na série de conflitos que enfrentava a cada vez... De um de meus primos envolvido com galos briga ou em sua lambreta, a exemplo do mito James Dean, da juventude da época... Da doença de minha prima Éclair que partiu aos 32 anos deixando cinco filhos pequenos... Do acidente do primo Luiz Roberto que desapareceu com mais dois colegas em viagem de avião em 63...Da morte precoce de filhos, genro e neto entre tantos outros dramas vividos por meu tio.
Minha mãe, tia Maria e tio Venerando.
Depois que papai morreu, ele nunca mais conseguiu frequentar a nossa casa. Um dia mamãe lhe cobrou a ausência e ele chorou ao explicar que ainda não conseguira superar a partida do amigo!
Uma das últimas festas familiares a que compareceu foi o casamento de minha filha Fábia em julho de 93. A gente não sabia, mas ele partiria meses depois, na véspera de meu aniversário, quando eu corrigia provas do vestibular da Federal.
Vovó Maria, sogra de Venerando
Quando eu terminei o segundo grau, eu já falava inglês e francês, seguindo o exemplo de meu primo e ídolo Luiz Roberto que faleceu no mesmo ano em que dançou comigo a valsa dos meus quinze anos.
Eu gostava muito de ler, escrever, mas tinha dúvidas sobre a escolha da graduação. Ele foi taxativo! Possivelmente logo eu me casaria e teria filhos. O magistério me daria maior flexibilidade para conciliar a vida profissional e familiar... Segui seu conselho!
Vovô João Araújo, seu sogro.
Um dia eu lhe contei que queria escrever a história de minha família, destacando a vida de meu pai que muitos perderam a chance de conhecer fisicamente. Ele aconselhou-me a fazê-lo logo. 
Confessou-me que também havia tido essa ideia, mas foi adiando e, quando o percebeu, o tempo havia passado. Prometi que o faria, mas também fui adiando... 

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