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Juliana equipada para o sol goiano |
Nosso final de semana prolongado foi bastante alegre com a presença de filhos e netos. Em algum momento, conversávamos sobre a falta de ferrovias no país e eu me lembrei da estação ferroviária de Goiânia e de sua importância na minha meninice.
Quando eu era criança, minha mãe costumava passear com seus filhos pela Avenida Goiás, bem no centro de Goiânia e próxima à nossa casa. Geralmente, íamos ao Coreto da Praça Cívica. Outras, visitávamos o escritório do papai na avenida Anhanguera com direito de parar na sorveteria do senhor Alberto Costa - A Fonte Expressa!.
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Matheus na Shamballa. Acima
retrato pintado por Ione Araujo |
Mas, algumas vezes, mamãe nos conduziu até a estação ferroviária e acompanhávamos o movimento de chegada e saída do trem que ela chamava de Maria Fumaça. Minha memória registra que pode ter sido logo depois de uma inauguração oficial da estação, em meado da década de 50.
Só mais tarde viajei naquele trem. Primeiramente, um pequeno trecho em excursão promovida pela escola. Mais tarde, talvez em 67, em companhia da minha amiga Gilzelda Gregorim, de seus irmãos Filhinha e Nenê, mais outros dois amigos. Viajamos felizes até Pires do Rio para visitar conhecidos. O trajeto era de 220 km e levamos cerca de sete horas para chegarmos ao nosso destino! Mas minha cunhada Ione viajou de trem com meu irmão Marco e os filhos para Ribeirão Preto na década de oitenta! Ela tinha medo de viagens de carro ou avião na época! Agora, apenas um dos vagões jaz exposto no prédio da estação para contemplação turística.
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Estação Ferroviária de Goiânia, 1957. |
Esta estação tem uma história de décadas de construção. Havia certa disputa entre os goianos e os habitantes do Triângulo Mineiro que outrora também foram goianos...
Depois de mais de uma década desde o início da instalação dos trilhos, em janeiro de 1920, o governo federal assumiu a administração da Estrada de Ferro Goiás, que foi autorizada a explorar o transporte ferroviário na região do Triângulo Mineiro e em Goiás.
Então, a linha Araguari-Roncador, com 234 quilômetros de extensão, foi incorporada à nova Estrada de Ferro Goiás. Nos primeiros anos da década de cinquenta do século XX, a Estrada de Ferro Goiás já percorria todos os seus 480 quilômetros de extensão.
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Outra imagem de nossa estação. |
A chegada dos trilhos da ferrovia, em solo goiano, teve uma importância fundamental para o desenvolvimento da economia da região, dominada, até então, por comerciantes das cidades do Triângulo.
Desde a construção, em 1907, do ramal ferroviário que ligava a cidade mineira de Araguari à cidade goiana de Catalão, a cidade de Goiandira era o ponto de encontro das estradas e os comerciantes mineiros vinham sofrendo prejuízos em seus negócios. Pois, a partir de 1915, as cidades do sudeste de Goiás acabaram assumindo o controle do comércio regional, antes dominado pelas cidades do Triângulo Mineiro.
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Foto mais atual do prédio da estação. |
A cidade mineira de Araguari, no entanto, continuou tendo significativa participação no comércio de Goiás, servindo de ponto de integração com as regiões sul e sudeste do País.
A disputa entre mineiros e goianos na região servida pela Estrada de Ferro Goiás acabou comprometendo o futuro da Companhia. A empresa entrou em séria crise financeira e administrativa, o que dificultou e impediu a aplicação dos programas de reaparelhamento de suas linhas. A construção da nova capital federal provocou a expansão das rodovias e consequentemente as ferrovias passaram a ter um papel de menor importância na época.
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Perus separados por brigarem pela perua |
Mas em 1957, todas as empresas ferroviárias federais foram englobadas em uma sociedade por ações, inclusive a nossa Estrada de Ferro Goiás.
Atualmente, o território goiano é servido por 685 quilômetros de trilhos, pertencentes à Ferrovia Centro Atlântica, subsidiária da Companhia Vale do Rio Doce e sucessora da antiga Estrada de Ferro Goiás e da Rede Ferroviária Federal. Essa empresa ferroviária percorre com seus trilhos a região sudeste do Estado, passando por Catalão, Ipameri, Leopoldo de Bulhões, chegando até Anápolis, Senador Canedo e indo até a capital federal. Por enquanto, a Centro-Atlântica promove o escoamento de boa parte da produção econômica goiana, embora tenha sua capacidade de transporte limitada à sua pouca extensão.
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Matheus, Luciana, Otávio e Juju, 08..09.12 |
Essa Centro-Atlântica transporta produtos industrializados e insumos, tais como: derivados de petróleo, contêineres, fertilizantes, produtos agrícolas, minérios, produtos siderúrgicos, cimento, produtos químicos, entre outros.
A origem da FCA está no processo que privatizou a Rede Ferroviária Federal S.A. Isto levou a leilão a Malha Centro - Leste em 14 de junho de 1996, integrando o Programa Nacional de Desestatização. O início da operação se deu em 1º de setembro do mesmo ano.
Na estação de Goiânia há uma placa com a data de 11 de novembro de 1952 marcando a chegada do primeiro trem noturno ali. Suas instalações exibem o estilo art-déco. O edifício possui na área interna principal alguns murais de frei Nazareno Confaloni, introdutor do modernismo em Goiás, pintados em 1953.
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Nossa Avenida Goiás, neste 06 de setembro. |
Durante mais de vinte anos serviu como estação ferroviária de Goiânia sendo desativada na década de 1970. Com a extinção da Estrada de Ferro de Goiás, a locomotiva n.º 11, símbolo da estação, mais conhecida como Maria Fumaça, foi colocada como exposição na parte externa da antiga Estação.
O prédio passou por várias reformas; em 1985, por exemplo, foi adaptado para atender às necessidades do Restaurante do Centro de Cultura e Tradições Goianas, hoje extinto. Em 1987, foi criado o Centro Estadual de Artesanato de Goiás, que passou a funcionar desde então, no prédio da estação. O edifício abriga hoje a cooperativa dos artesões de Goiás e a Banda Marcial da Prefeitura de Goiânia - Projeto Musicalidade. A última reforma aconteceu em 1999.
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Ainda a nossa Avenida Goiás. |
O prédio é tombado pelo Governo do Estado desde 1998. Por volta de 1984 foi noticiado que a RFFSA e a prefeitura de Goiânia haviam fechado um acordo, em que a prefeitura ficaria com o terreno do pátio ferroviário, de localização central, no qual foi construída uma nova estação rodoviária; e em troca a ferrovia receberia um terreno bem maior, fora da cidade, para instalar um pátio maior e mais espaçoso.
O pátio, realmente, foi transferido para a estação de Senador Canedo, a cerca de 20 km da cidade de Goiânia e a oito quilômetros de nossa Shamballa. Trens de passageiros não chegam ao prédio de Goiânia desde os anos 1980. Agora a nossa Presidenta Dilma Roussef anuncia grande investimento nas Ferrovias Brasileiras... Vamos torcer para que isso aconteça mesmo!