quarta-feira, 26 de setembro de 2012

SHERAZADE


José Araújo, Didi e Marco, 1944.
Com a chegada das chuvas, as cigarras proliferam, as árvores brotam e a passarada parece mais feliz em meio à vegetação, agora toda verdinha. Hoje, apareceram alguns macacos grandes nas árvores ao fundo da chácara.  Como podamos a ingazeira, eles não ficam mais no pátio. 
Aleixo encontrou filhotes de quero-quero já grandinhos correndo pela relva e os trouxe para me mostrar sob os protestos da mamãe quero-quero. Aproveitei e fotografei o casalzinho que finge timidez, parecem quase mortos, mas, se os soltamos, fogem a toda velocidade. Depois, fomos devolvê-los ao lar campestre para aprovação da brava mãezona.
Lembrei-me de que a arte de contar histórias está sumindo, infelizmente. Mas o contador de histórias sempre ocupou um lugar muito importante em outras épocas. As famílias não têm mais a união de outrora, as conversas entre amigos se tornaram banais. 
Casa Araújo, Goiânia, 1940.
Uma vez, eu usei o pseudônimo de Sherazade. Esse é uma variante do nome da narradora da coleção de contos árabes das Mil e uma noites! É que sempre gostei das histórias. Aliás, contar histórias une as famílias, anima as conversas, torna a aula agradável, reata o diálogo entre familiares, traz sabedoria aos adultos, torna um jantar interessante, aguça a inteligência, ilustra palestras e conferências.  E há sempre uma história adequada à ocasião!
José Araújo, pioneiro
em Goiânia, 1938.
Parece que tenho novo projeto à vista. A sugestão é de minha irmã Clélia. Ela visitou meu blog e lembrou que poderíamos tentar resgatar a história de nosso genitor. Sugeriu que fôssemos à busca da saga do nosso pai, da histórica viagem que ele fez no lombo de um animal, partindo do sertão de Pernambuco até chegar à cidade de Goiás. Papai não gostava de relembrar o passado, sofreu muito naquela viagem, mas Clélia lembrou-se de alguma coisa que ele deixou escapar e pode ter compartilhado com outras pessoas também. 
Ela se lembra de ele descrever os apuros por que passou escondendo-se dos cangaceiros que vagavam pelo sertão nas primeiras décadas do século passado. O bando de Lampião atuou pelo sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930. Papai nasceu em 1906 e acreditamos que veio para Goiás na década de 20. 
Clélia ouviu o depoimento do irmão de seu antigo chefe - Modestino Hermano -, que papai teria chegado a Goiás com peles raras, e que conseguiu exportá-las naquela ocasião. 
Praça Cívica em Goiânia, 1942.
Naquele tempo, não era proibido, mas ele foi o primeiro cidadão em Goiás a exportar. O senhor José Hermano, que ainda está vivo e lúcido, de acordo com suas deduções, contou-lhe essa história há alguns anos. Não sabemos de mais ninguém contemporâneo de nosso pai que ainda esteja vivo, mas é provável que a gente possa descobrir alguém. 
Papai teve um monte de empregados no antigo armazém de Goiás e também no que abriu aqui em Goiânia. Um deles se tornou um homem com bastante prestígio político e ajudou minha irmã na época em que ela foi aprovada no concurso do BASA.  
José Araújo criava  ema no quintal.
Esse senhor intercedeu para que o Banco da Amazônia lhe oferecesse a vaga em um local no qual ela pudesse dar continuidade ao seu bacharelado em Direito, recém-iniciado.  O antigo amigo de José Araújo fez questão de reiterar que a ajudou em memória de nosso pai, a quem ele devia muito. Seu nome é Múcio Teixeira, mas temos esperança de que possa haver outros ainda...
Residência de José Araújo.
Minha sobrinha Tarsila sonha em fazer um filme, futuramente, em parceria com o primo Leandro, sobre o avô e os pioneiros de Goiânia. Quem sabe a gente não começa uma pesquisa que possa ajudá-la em seu projeto?

5 comentários:

  1. Oi Regi,
    Vou conseguir o endereço do Sr. Hermano para que vc consiga extrair dele os dados que necessitamos. Acredito que ele deve saber também sobre algum ex-empregado do papai. Vou tentar visitar aquela amiga que lhe falei para obter o endereço. Pena que a gente nunca se lembrou de conversar com a tia Hermínia a respeito. Será que ela nunca contou histórias do passado para a filha adotiva?... Iraídes??? O que vc acha?
    Será que o Marco Antonio se lembra de alguém que trabalhou com José Araujo?
    Lembro-me que quando ia à cidade de Goiás, com minha amiga Gracinha, nos tempos da adolescência, sempre conversava com gente que tinha conhecido papai. Naquele tempo, para os habitantes da antiga capital, era de fundamental importância saber, antes de iniciar a conversa, quem era nossa família...dizem que isso não mudou muito...hehehe. O tio da Gracinha era o sr. Goiaz do Couto, figura ilustre da cidade, irmão da pintora Goiandira. Todos eles falavam muito bem do antigo comerciante da velha capital. Mas, por lá, acho que já não tem mais ninguém que esteja vivo e lúcido para falar a respeito. Mas, aqui em Goiânia acredito que podemos encontrar alguns. Vamos procurar. Quero muito ver esse roteiro escrito.
    Bjo.
    clélia

    ResponderExcluir
  2. Fiquei emocionada com o texto, Tia Ré!
    Mais ainda com as fotos... como eu gosto de fotografia, me transporta para uma lembrança que eu nunca tive, para um lugar que nunca fui, mas que sinto tão meu.
    Você não tem aquela foto do meu avô com as emas em melhor qualidade, maior?
    Queria muito fazer este filme sim... olha, o Festival de Brasília deste ano premiou dois documentários bem pessoais, um que acompanha a gestação da mulher do cineasta e outro sobre o suicídio da irmã de outra diretora. Acredito muito nisso, quando a gente busca o pessoal, o que realmente nos importa, acaba atingindo muitas outras pessoas também...

    ResponderExcluir
  3. Tata, você é a artista da família, mas tenho sensibilidade e junto com sua mãe vamos atrás dos dados para vocês transformarem em filme oportunamente. Estou certa de que vocês têm todas as condições para realizar um magnífico trabalho e podem contar com a minha ajuda!
    Ah, guardei alguns livros sobre nossa cidade para você!

    ResponderExcluir
  4. Tia Ré, você é generosa!
    E uma artista! Sensibilidade você tem mesmo de sobra... com a ajuda de vocês e o interesse do Leandro, podemos sim seguir adiante!

    ResponderExcluir
  5. E já comecei as pesquisas, Tata. Assim que tiver dados mais relevantes, vou compartilhar com vocês! Abreijos

    ResponderExcluir