sexta-feira, 26 de novembro de 2010

POEMAS FAVORITOS EM PRESENTE DE MEIGA


Didi, Gomes, Regina, Wilna, 25.11.1996.
DOAÇÃO  

Doa-se um coração
cheio de amor

que não passa.

Ele vai de graça

e sem trapaça,

mas exige

sensibilidade.

Quem o receber

terá que reconhecer

sua complexa composição.

Doa-se um coração

Do-ente de amor.

Quem o aceitar,

também terá

muito amor a doar.

Não pode ser qualquer amor

Tem de ser

Daquele amor

que respira

saudade

do-eu.

Doa-se um coração

Com tradições celtas,

Não será qualquer um

A recebê-lo

Almeja-se

À sabedoria

Druídica.

Doa-se um coração

Iluminado de ternura

Ele traz aquele amor

De rainha capturada,

Tem sangue cigano,

Segredos de sacerdotisa,

Pureza da criança milenar.

Doa-se um coração singular

Sensível à realeza

E à verdade

Ao conhecimento

E à compreensão,

Sobretudo

Que produz amor.

Doa-se um coração

Capaz da compaixão

Que sofre-espera

A bênção sagrada

Dos arcanjos

De sua contemplação.

Ilustração do poema feita por José Antônio GOMES de Sousa.
PRESENTE DE MEIGA   

Tentava imaginar o presente.

Não contava com este tempo

No passado,

O que presentear?

Embora o tempo presente

Estranho,

A vontade permanece?

Pensou oferecer-lhe

Aquela lua azul lá fora

Ao som colorido

E perfumado do sino

Com gosto

Dos brincos de princesa

Que tem até anjos

Para atender

Qualquer um des seus sonhos.

Se pudesse ser

Presente em cada um

E encantá-lo

Mais e sempre,

Ser seu presente

Em todo tempo

Presente presente,

passado,

futuro

sempre.

Acordou...

Três caixas de bombons,

Uma para cada tempo

Que não pôde ser aceite.

ARAUJO, Regina Lúcia de. In: Presente de Meiga. Ed. PUC-Goiás, 1996.

O presente sobre a mesa. De Meiga. Não conhecia ninguém com esse nome: amável, caroável, bondosa, bruxinha boa. Na certa, armadilha. Supus. Deixei ali. Minutos depois, olha eu, de novo, às voltas de novo com o embrulho. Chocolate, bombons, uma jóia? "tentava imaginar o presente/ Não contava com esse tempo/ No passado". Abri. A primeira capa. História de náufrago, de muitas eras. Um livro. Desfolhei. Propunha-me a me ensinar a navegar. Eu, um marinheiro sem viagem.
Entrei na caixa. Fiz-me ao mar. Viajei. magicamente vi a vida interna de Meiga: ela me contava.Vinha de longe, do escuro do mundo, a explosão. A morte morreu, sobreviveram, ela e a vida. Começou a luta: solidão no encontro, queda no voo, sonho na dor, identidade nos fragmentos. Dos escombros, sacudiu a poeira. Chegou ao presente.
Sofreu de desejo -"do completar-se, da expectativa do niilismo, da trombada de sonhos, do mar intransitivo, do caos interno, da busca vã, do voto perdido, do silêncio do próximo, do vencer o nada, da individualidade doída, chegou ao trânsito. Buzinas. Despertou-se. Buscou saída.
Foi à janela. Grade. Chovia. Viu a chuva. " Sussurrantemente compassada/ O cenário." Pensou na flor, esperou a rosa. Amor- Perfeito. Imaginou. A pátria de poetas. Poemas. Constituição de versos. Olhou. Além das aparências, a vida. Até controlou uma "canção noturna". Mas veio o tédio. Tristeza lânguida do embalo. O vazio.
Ainda chovia na vidraça transperente. Cerrou os punhos. Pegou pedras invisíveis: fez estadas no pântano. Tomou dos sonhos: pôs na mala. despiu-se das fantasias: " tornou-se avessa ( inperfeição)". Inventou palavras "do - ente": explicou a dor. Até cansar. Pr, ostar-se. Amou. Fez presente. Dos escombros, bombons; do vazio, papel; da dor, o nó; doou-se. Enviou-se a nós. Leitores. No centro, o coração. Vida em flor. Perfumados versos. Seu primeiro livro.
Apresentação do livro  Presente de Meiga,  feita pelo colega escritor: Lacordaire Vieira


2 comentários:

  1. É sempre um prazer ouvir seus poemas, porque embora sejam escritos, eles tem uma enorme musicalidade.

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  2. Também gosto bastante de alguns deles! E acabei de pensar que minha vida é um blog aberto,aliás dois, neste enquanto! Isto será uma epígrafe de próxima postagem...Hehehe

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