quarta-feira, 30 de março de 2011

LEMBRANÇAS REAIS DO BAÚ

Regina, 2011.
"Nada jamais continua. Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança das outras vezes perdidas, atiro a rosa do sonho nas tuas mãos distraídas." Mário Quintana

Bené veio morar lá em casa quando eu tinha uns treze anos. Mamãe acolheu nesta mesma época outra moça que havia fugido da fazenda de seus pais – a Elza. Esta ouvira no rádio a divulgação das obras desenvolvidas pelo Centro Espírita, vindo para Goiânia. E minha mãe a trouxe também para nossa casa. Marco, Clélia, Bené, Elza e eu estudamos no Lyceu de Goiânia, a partir de 62. Pela manhã iam a Clélia e a Elza e, na parte da tarde, a Bené e eu. Assim, havia sempre duas pessoas que podiam ajudar nas tarefas domésticas e tomar conta das gêmeas que eram pequenas.

Bené e minha mãe - Dona Didi - em Caldas
Novas, 1997.
Minha convivência com a Bené me fez um bem enorme. Eu era tímida, meio complexada por excesso de peso e ela, apesar da pouca diferença de idade, exercia o papel de mãezona. Ela preparava uns mexidinhos que nunca esquecerei! Usava os restos de comida do jantar do dia anterior! Nós brincávamos e até lutávamos fisicamente no chão desgastando a nossa energia bloqueada. Ela era minha confidente e eu compartilhava com ela os meus sonhos e amores platônicos. Lembro-me de um moço que eu encontrava quando ia para o curso de inglês e a quem eu apelidei de good afternoon. Eu nem tinha coragem de parar para conversar com ele, mas passava sempre por onde ele estava e nos cumprimentávamos desejando ao outro - boa tarde - em inglês!
Bené me estimulava a cultivar amizades e isto foi muito positivo em minha vida. As nossas conversas eram sem fim e sei, hoje, que eram terapêuticas! Quando nós duas morávamos no centro da cidade bem mais tarde, costumávamos fazer caminhadas diárias em que conversávamos o tempo todo. Isso ainda acontece quando vou visitá-la em Caldas Novas! Ah, aos quinze anos Bené queria ter o cabelo mais claro, meio ruivo e costumava enxaguá-lo com chá de casca de cebola...

Taninha, Clélia, Professora Maria Helena Café, Iris Rezende Machado
e Bete,  no IEG, 1968.
Minha mãe tinha o hábito de, à época da colheita, trazer sacos de milho da fazenda para a gente fazer pamonha! Fazia muita sujeira em casa, mas como era boa aquela trabalheira cúmplice! E que delícia o tempero inigualável de seu curau, das pamonhas de sal e doce, do bolo assado. Mais tarde eu repeti a façanha algumas vezes em minha casa e na fazenda do Maranhão. Hoje prefiro visitar a Pamonharia Frutos da Terra!

Bem, dizem que meus bolos são muito bons! Eu adoro cozinhar, desde que não seja diariamente! Mas foi com Dona Didi que aprendi a fazer bolos! Eu era ainda adolescente quando ela me disse que meus bolos estavam melhores que os que ela fazia e, a partir de então, era eu que cuidava dessa tarefa semanalmente, até me casar em 1969.
Celina, Regina, Sônia, Júnior, Clélia, Luiza e filho,
na chácara Shamballa, em 2005.
Eu tinha verdadeira paixão por meu primo Luiz Roberto. Aos quinze anos tive a minha festa e lembro-me de que dancei a valsa com ele. Infelizmente, ele morreu nesse mesmo ano em um acidente de avião. Eu me culpei por bastante tempo porque ele havia passado lá em casa numa tarde... Tinha estado fora de casa desde muito cedo, fazendo o seu alistamento militar. Minha mãe não estava presente e eu poderia ter feito um omelete para ele, mas não o fiz... Vejam as bobagens com que os adolescentes se preocupam e por que sofrem!

Eu não cursei o terceiro ano do Normal. Prestei supletivo e ingressei na Federal, após passar no vestibular. A turma do terceiro ano da Clélia não aceitou o paraninfo imposto pelo regime ditatorial da época e fizeram formatura à parte, tendo o Iris Resende Machado como padrinho. Neste mesmo tempo,  68, eu já estava na faculdade cursando o primeiro ano do curso de Letras. Eu lecionava no Centro Cultural Brasil EUA há algum tempo. E meu sonho era viajar para o exterior. A UFG entrou em greve e viajei com a Inês de Godoy.

Postal adquirido na Cidade  Luz, em 1968.
Essa primeira viagem à Europa era a concretização de um sonho acalentado desde criança. Nunca esquecerei tudo que vivi – sonhos, aventura e ilusão, recheados e cobertos com muita imaginação!
Minha primeira visita a Paris, Londres e outros dez países, incluindo as duas Alemanhãs da época! Lembro-me de que trouxe da Espanha uma peruca para mamãe, um xale de renda branca que foi vendido para presentear a dona Maria Helena Café e um terço de pétalas de rosa que eu quis dar para a Mãe Francisca. Fiquei muito decepcionada quando ele foi repassado à minha irmã Clélia. Afinal, os espíritos não precisam de coisas materiais! Hehehe

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