Regina vasculhando seu baú de memórias, 2011. |
Sempre fui muito amiga da Helga e fiquei feliz quando ela se casou pela segunda vez e passou a cultivar novamente a esperança de ser mãe. Seu companheiro Uárian era um grande pianista e tinha uma chácara próxima de Goiânia, descendo pelo antigo bairro do chamado Palmito. Ele nos convidou para jantar lá algumas vezes e éramos muito bem recebidos com música de excelente qualidade e a presença de muitos amigos que esperavam pelo pato de que ele se orgulhava de preparar. Isso demorava bastante devido ao seu espírito artístico...
Na realidade, ele chegava, acordava o caseiro pedindo que pegasse os patos e os limpassem. Então, ele "engessava" cada pato com sal e o assava na grelha. Claro que isto levava quase a noite toda. Como Helga nem eu nunca bebemos álcool, ficávamos conversando e era bastante agradável. Lembro-me de que meu ex e eu levávamos Otávio e Fábia que eram pequenos. Eles dormiam a caminho da chácara no carro, lá nós os colocávamos na cama e eu ficava velando o seu sono enquanto conversava com minha amiga.
Regina, Didi, Otávio, Fábia e sobrinhos, 1974. |
Difícil esquecer a calma da minha amiga cientista – Divina. Sua mãe fazia a tanga do Tarzan para seus filhos e eles brincavam subindo nas árvores de sua casa no setor Pedro Ludovico. Isto acontecia aos domingos, enquanto esperávamos o almoço que ela preparava tão bem! Era o único momento que ela tinha de estudo para seu curso de biologia e ela se desligava, estudando absorta, enquanto a gente acompanhava as artes de seus filhos com o coração nas mãos.
Quando eu estava esperando o Otávio, tínhamos uma chácara na estrada velha de Piracanjuba. Eu assistia às aulas na faculdade até a quinta à tarde e, depois, pegava o ônibus e descia no restaurante Porta Aberta, no Km 57, da BR 153. Álvaro estava me esperando por lá com um cavalo. Eram apenas quatro quilômetros até a fazendinha, mas havia algumas lombadas na estrada de terra. Ele ia a pé e eu montada. Isto aconteceu até os sete meses da gestação. Lembro-me de que algumas vezes a Divina e o Baixo nos visitaram lá e este elogiou os canapés que eu preparava. Bené e Raimundo também foram passar um final de semana conosco quando seu filho Aurélio tinha poucos meses de idade.
Morávamos nos fundos deste prédio do CEIC. |
Eram tempos difíceis. As crianças estavam pequenas, cursava a minha graduação em Letras e lecionava paralelamente. Tínhamos muitas dificuldades financeiras e, frequentemente, eu ficava sem empregadas para me auxiliarem. Um dia, estava tão cansada e revoltada que juntei todos os meus poemas e os joguei pelo muro no lote vazio ao fundo. Quando a tempestade passou e chegou a bonança eu me arrependi de minha impulsividade. Mas era tarde demais! Alguns desses poemas puderam ser publicados porque minha colega do curso normal que mora nos EUA veio visitar-me, no final de década de oitenta, e me trouxe cópias de alguns deles que ela havia guardado. Estão no meu primeiro livro de poesia – Presente de Meiga.
Divina, seu neto Luis Gabriel e eu, no dia de meu aniversário em 2004. |
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