segunda-feira, 28 de março de 2011

BAÚ DE MEMÓRIAS


Regina vasculhando seu baú de memórias,
2011.
Sempre fui muito amiga da Helga e fiquei feliz quando ela se casou pela segunda vez e passou a cultivar novamente a esperança de ser mãe. Seu companheiro Uárian era um grande pianista e tinha uma chácara próxima de Goiânia, descendo pelo antigo bairro do chamado Palmito. Ele nos convidou para jantar lá algumas vezes e éramos muito bem recebidos com música de excelente qualidade e a presença de muitos amigos que esperavam pelo pato de que ele se orgulhava de preparar. Isso demorava bastante devido ao seu espírito artístico...

Na realidade, ele chegava, acordava o caseiro pedindo que pegasse os patos e os limpassem. Então, ele "engessava" cada pato com sal e o assava na grelha. Claro que isto levava quase a noite toda. Como Helga nem eu nunca bebemos álcool, ficávamos conversando e era bastante agradável. Lembro-me de que meu ex e eu levávamos Otávio e Fábia que eram pequenos. Eles dormiam a caminho da chácara no carro, lá nós os colocávamos na cama e eu ficava velando o seu sono enquanto conversava com minha amiga.

Regina, Didi, Otávio, Fábia e sobrinhos, 1974.
Antes dessa época, quando ainda estava grávida de meu primeiro filho, costumávamos sair com dois casais amigos: Divina e Baixo, Dora e Edésio. Nós saíamos juntos para beber chope e comer algum tira-gosto e eu enjoava o tempo todo, mesmo tomando o bendito comprimido Debendox, receitado pela minha ginecologista da época, a doutora Iraydes.

Difícil esquecer a calma da minha amiga cientista – Divina. Sua mãe fazia a tanga do Tarzan para seus filhos e eles brincavam subindo nas árvores de sua casa no setor Pedro Ludovico. Isto acontecia aos domingos, enquanto esperávamos o almoço que ela preparava tão bem! Era o único momento que ela tinha de estudo para seu curso de biologia e ela se desligava, estudando absorta, enquanto a gente acompanhava as artes de seus filhos com o coração nas mãos.

Quando eu estava esperando o Otávio, tínhamos uma chácara na estrada velha de Piracanjuba. Eu assistia às aulas na faculdade até a quinta à tarde e, depois, pegava o ônibus e descia no restaurante Porta Aberta, no Km 57, da BR 153. Álvaro estava me esperando por lá com um cavalo. Eram apenas quatro quilômetros até a fazendinha, mas havia algumas lombadas na estrada de terra. Ele ia a pé e eu montada. Isto aconteceu até os sete meses da gestação. Lembro-me de que algumas vezes a Divina e o Baixo  nos visitaram lá e este elogiou os canapés que eu preparava. Bené e Raimundo também foram passar um final de semana conosco quando seu filho Aurélio tinha poucos meses de idade.

Morávamos nos fundos deste prédio do CEIC.
Muitos dos filhos de Dona Didi moraram algum tempo, depois de casados, no barracão nos fundos do centro espírita. Papai, quando doou o lote para a instituição, havia construído uma moradia para o zelador que acabou se desligando do centro posteriormente. Eles preferiram não alugar o imóvel por questões energéticas. Eu morei lá por duas ocasiões, antes de depois de morar no Maranhão. Acho que o Marco, o Júnior e a Celina também o fizeram com as devidas famílias!

Eram tempos difíceis. As crianças estavam pequenas, cursava a minha graduação em Letras e lecionava paralelamente. Tínhamos muitas dificuldades financeiras e, frequentemente, eu ficava sem empregadas para me auxiliarem. Um dia, estava tão cansada e revoltada que juntei todos os meus poemas e os joguei pelo muro no lote vazio ao fundo. Quando a tempestade passou e chegou a bonança eu me arrependi de minha impulsividade. Mas era tarde demais! Alguns desses poemas puderam ser publicados porque minha colega do curso normal que mora nos EUA veio visitar-me, no final de década de oitenta, e me trouxe cópias de alguns deles que ela havia guardado. Estão no meu primeiro livro  de poesia – Presente de Meiga.

Divina, seu neto Luis Gabriel e eu, no dia de meu
aniversário em 2004.
Meu ex marido não tinha qualquer dom para ajudar-me com as crianças pequenas. Uma vez eu consegui convencê-lo a dar a mamadeira para a Fábia, enquanto eu cuidava do Otávio. Bem, minha filha estava cheia e ele forçou para que ela tomasse o restinho final da mamadeira. Ela vomitou no pai e ele ficou de mal de mim! Tirou toda a roupa suja, jogou no chão, trocou-se e foi para o jardim, xingando-me, cheio de razão! Eu fui correr atrás do prejuízo como sempre acontecia...

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