quarta-feira, 9 de março de 2011

OTÁVIO

Otávio, 2005.
Otávio, aos 13 anos, para primeira
carteira profissional.
Meu filho Otávio foi esperado ansiosamente. Eu queria ser mãe e havia perdido o meu primeiro filho com apenas três dias, no ano anterior, depois de uma cesariana precedida por pré-eclâmpsia. Sei que houve um contrato sagrado, porque me lembro da lucidez percebida no momento de sua concepção!

Embalá-lo no colo foi algo indescritível que só as mães podem compreender. Ele desenvolveu-se rapidamente. Alegre, inteligente, esperto, espírito muito evoluído. Aos quatro meses já se sentava e tinha os dois primeiros dentinhos. Aos sete, amanheceu em pé do berço. A partir daí andava por toda a casa arrastando banquinhos de fórmica e, um dia, aos nove meses, saiu correndo sozinho, enquanto almoçávamos! Levei um susto e corri atrás, mas ele não caiu e nunca mais deixou de andar. Logo aprendeu a molhar as plantinhas do jardim e comprei-lhe um piniquinho para que ele aprendesse a não precisar de fraldas.

Otávio e Fábia, 1976, fotografados pela
Tia Clélia e Tio Val.
Quando a sua irmã Fábia nasceu, ele tinha apenas 13 meses e já bebia leite no copo. Mas teve muito ciúme e chorava a cada vez que a via mamar. Resumindo, Fábia teve que acabar tomando a mamadeira no sofá e ele tinha que vir ao meu colo. Quando Fábia nasceu passei os primeiros quinze dias na casa de minha mãe. Eu tinha feito cesáreas por três anos seguidos, fiquei sem empregada e meu marido viajou para conhecer uma fazenda que havia comprado no Maranhão, sem visitá-la antes. Ao retornarmos para nossa casa, Otávio pegou um sapato do pai e o segui para ver o que ele ia fazer. Ele tentou jogá-lo na irmã por cima da grade do berço.

Bem, ele aprendeu a engatinhar quando Fábia tentava fazê-lo e, por um tempo, regrediu em tudo que havia aprendido precocemente. Mas foram crescendo e se tornaram inseparáveis. Como era bonito vê-los brincando juntos. Pareciam gêmeos! Lindos, perfeitos, inteligentes, saudáveis.

Otávio, 1977, no Flamboyant. Claro que o
papai Noel era seu Tio Júnior!
Aos quatro anos matriculamos o Otávio no Jardim. Haviam aberto uma escolinha mais ou menos próxima – Pinguinho de Gente – com poucos alunos e julguei ideal. Sua primeira professora foi a Gláucia Machado e eles se adoravam. Meu filho sempre foi o melhor aluno em todos os níveis, ao longo de sua vida, sempre bem humorado, conquistava colegas e professores. Quando eu acordava às 6h ele já estava pronto com seu uniforme e os objetos no braço.
Passamos por várias mudanças, de casa, de cidade, de estado. Otávio sempre se adaptou bem a todas as situações. Eu os eduquei praticamente sozinha. Além de sua irmã Fábia, tive o termo de guarda e responsabilidade de minha sobrinha Renata, dos nove meses aos 11 anos. Exceto por um semestre, em 1982, em que adoeci e não conseguiram diagnosticar a doença, acabando por ter sido tratada de TB não localizada. Então, minha mãe levou a Renata consigo por alguns meses.


Otávio e nosso gatinho maranhense, na casa
em Porto Franco, MA, 1979.
 Eu me acostumei a compartilhar tudo com o Otávio. Por uma razão ou outra, seu pai estava sempre distante. Assim, senti muito a sua falta quando foi fazer a graduação longe de casa. Mas foi a sua escolha e respeitei. Ele foi aluno exemplar e terminou o curso já trabalhando. Nunca gastei com livros. Ele estudava na biblioteca do INATEL.

Ao terminar a graduação e voltar para casa, lembro-me de que me abraçou junto com seu pai e disse que, até que enfim, estávamos juntos. Eu tinha resolvido me divorciar, mas não tive coragem de fazê-lo, então! Adiei a decisão por mais um ano. Na época, ele passou em um concurso em Brasília e mudou-se para lá. Eu comprei um apartamento novo, porque havia deixado a casa para meu ex-marido, uma vez que nossa filha Fábia estava casada, tinha um filho e todos moravam no mesmo lote.


Otávio, Luciana, Regina e Arthur, 2003.
 Ele foi trabalhar em Brasília. No primeiro fim de semana me perguntou se poderia continuar comigo nos finais de semana. Ele tinha uma namorada e vinha visitá-la com freqüência. Claro que lhe disse que tudo que era meu, também era dele e a cada weekend nos reencontrávamos. Seu relacionamento com a namorada vivia em crise e a gente imaginava que se eles casassem não duraria muito. Isso aconteceu algum tempo depois, mas continuam juntos em meio a muitas crises, agora pais de dois filhos. Todo relacionamento é um grande aprendizado e torço para que todos nós assimilemos as lições que a escola da vida nos traz.



Otávio e Regina, na Shamballa, em 8.3.2011.
 Lembrar ou reencontrar o Otávio me traz o sentimento da genuína dimensão amorosa. Não importa o tempo /espaço, sempre percebo o mesmo amor que senti ao abraçá-lo pela primeira vez  na presente encarnação. E nossos encontros e desencontros apenas comprovam que o verdadeiro amor supera quaisquer imperfeições de seres em evolução! Oro ao cósmico, envio Reiki, a cada vez que lembro e sempre agradecerei a Deus a bênção dessa convivência, depois de momentos ou de vidas! A principal leitura desta lição de vida é a questão do desapego que estou treinando desde as mais remotas lembranças...

2 comentários:

  1. Oi, Regina, lindo seu texto sobre o Otávio e esse amor tão sublime que só as mães podem compreender (talvez, infelizmente, nem todas). Gostei de ler seu texto, apesar de já conhecer toda a história, e me senti próxima por compartilhar esse sentimento de plenitude no relacionamento com meu filho. Gostei, também, de rever o Otávio e saber que está bem.
    Beijos
    Helen Amorim

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  2. Sim, Helen, mas a melhor notícia é a cura do Frederico. Voltou às aulas neste semestre. Está pintando quadros maravilhosos e preocupado com o vestibular daqui a dois anos. Quer ser psicólogo ou psiquiatra, sabia?
    Estamos todos muito felizes e continuamos orando e enviando Reiki, gratos ao cósmico!
    Regina

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