quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

HIPÁLAGES


Aleixo e Regina, em Granada, Es, 19.09.11.
Agora chove fininho aqui na Shamballa. Adoro este tempo! A chácara exibe tons diversos de verde molhado, em contraste com o colorido das flores. Estivemos na cidade mais cedo, ultimando obrigações que antecedem a mudança de cenário. Pretendo passar meu aniversário no Rio este ano. Ano passado optamos por curtir Natal, em janeiro, e visitamos a Pousada do Farol, no solo potiguar. Hoje, Aleixo me disse que sou a única pessoa que ele conhece cujos órgãos ou partes do corpo são autônomos! Creio que é meu jeito de expressar. Segundo ele, estou sempre dizendo que meus pés sentem frio, meu nariz percebe o cheiro de chuva no ar, meu joelho meteorológico antecipa qualquer friagem...
Brasigóis Felício, Regina e Lei, na
Pousada do Farol, RN, 17.01.12.
E lembrei-me de minhas aulas de literatura quando selecionava exemplos de hipálage para ajudar os alunos na fruição dos textos. Então, veio-me à memória o belo soneto de Júlio Salusse, intitulado Os Cisnes  que é considerado uns dos mais belos poemas em língua portuguesa. 
A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,
Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.
Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,
Aleixo e Regina, na areia dourada
da Pousada do Farol.
Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne! 
A hipálage é uma figura de linguagem que se caracteriza pelo desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras, quanto à semântica, de forma a criar uma transposição de sentidos. Uma das formas mais frequentes consiste na atribuição, a um substantivo, de uma qualidade (adjetivo) que, em termos lógicos, pertence a outro. Por exemplo, saudade é um sentimento que encontrou significado em nossa cultura e os cisnes de Salusse também sentem saudade devido ao recurso estilístico do poeta! 

Um comentário:

  1. Oi, Regi,
    Que eu me lembre, nunca tinha ouvido falar nesse vocábulo: hipálage. Vivendo e aprendendo...hehehe
    Quanto ao poema Os Cisnes, é um dos que sei de cor desde os tempos de adolescente. No entanto, hoje, com a maturidade, embora continue achando ele muito lindo, não concordo nem um pouco com a "praga" do cisne sobrevivente. Imagina! Condenar o outro à solidão! rsrsrs
    beijos!
    clélia

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