Regina, no Rio, janeiro, 2013. |
Muita coisa desaparece de repente, sem que a gente perceba. Lembro-me do refrigerante Crush que parou de ser fabricado há muitos anos. Do sabão em pó Rinso, aquele da brancura Rinso que desapareceu das prateleiras dos supermercados sem que a gente se desse conta!
E não foi só o refrigerante e o sabão em pó que nos deixaram na mão. Lembro-me, ainda, da presuntada Swift, dos discos Copacabana, do catálogo telefônico, da piteira, do slide, da calça Far-West, do tênis Kichute, do leite pasteurizado em garrafas de vidro, entre outros. Mas onde foi parar o faquir da minha infância?
Marco, Regina e Júnior, 1955. |
Nos meus tempos de criança em Goiânia, de vez em quando aparecia um faquir na cidade. Era uma atração e tanto! O homem era pele e osso, olhos fundos, usava um turbante na cabeça e ficava ali sentado numa cama de pregos dentro de uma redoma de vidro, dias a fio.
Papai contava a novidade porque seu escritório era na Avenida Anhanguera onde tudo acontecia àquela época e uma vez alguém me levou para vê-lo. Observei que ele ficava ali sentado na cama de prego, imóvel e olhando para o infinito, sem o menor sinal de dor.
Mas eu soube que havia faquir mais ousado, capaz de caminhar em brasas como se estivesse pisando ovos. E outros ficavam dias, semanas, meses, sem comer. Se era verdade ou não, eu nunca soube, mas esse tal faquir era uma atração na capital goiana dos anos 60.
Suzy King, 1959. |
A definição correta de Faquir é um substantivo masculino cujo plural é faquires. Diz assim: nome dado ao indivíduo que se exibe submetendo-se a suplícios e jejuns para dar provas de resistência a dores físicas e privações.
Portanto, nada fácil! E diziam que todo faquir vinha da Índia. Todavia, aqueles eram bem brasileiros... Agora, vi em um jornal local, nesta cidade maravilhosa, que existiu um faquir do sexo feminino no Rio, na década de cinquenta. Seu nome artístico era Suzy King. Aleixo me diz que se lembra dela vagamente, porque a fama da atriz coincidiu com a sua transferência dele do interior para esta capital.
Aniversário no Rio:17.01.2013. |
Georgina Pires Sampaio nasceu no Rio Grande do Sul em 28 de agosto de 1917. Ela iniciou sua carreira artística em 1939, em São Paulo, sob o pseudônimo Diva Rios, cantando sambas e marchas. Mais tarde, no Rio de Janeiro, seguindo o caminho aberto por Luz del Fuego, passou a se apresentar com cobras em espetáculos de canto e dança em circos e teatros, usando o nome Suzy King.
Apresentava-se como bailarina exótica ou rival de Luz del Fuego. Georgina seguiu por toda a década de 50 ganhando por diversas vezes manchetes nas primeiras páginas dos jornais, mais pelas confusões que provocava com suas cobras e seu corpo do que por motivos essencialmente artísticos.
Regina, no Arpoador, Rio, 18.01.13. |
Atrevida, não se limitou ao canto e à dança, chegando a escrever uma peça que foi censurada. Suzy King se tornou, durante o auge do faquirismo no Brasil, uma faquiresa, o que também lhe rendeu grande publicidade e mais escândalos.
Desapareceu, porém, nos anos 60, quando o cenário político do país e a pretensa modernização que visava sofisticar o gosto do povo brasileiro contribuíram para o fim dos que, como ela, eram os artistas do povo - faquires, bailarinas exóticas, vedetes... Tudo passa, mesmo! Um mundo inteiro de emoções baratas enterrado sob a repressão e novos vícios populares. Mas alguns saudosistas persistem...
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