terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O ENGENHO DA FAMÍLIA NUSS



Aleixo e Regina no sítio da prima Cida Nuss.
Fomos ao Museu de Artes e Ofícios, na Estação Central do Brasil e vimos que o trabalho está representado ali pelas ferramentas e equipamentos utilizados pelos trabalhadores brasileiros em séculos anteriores. 
Achei deveras interessante toda essa trajetória e em quase todos os objetos pude focalizar um pouco a história da família dos trabalhadores que buscavam nas necessidades humanas a sua sobrevivência: o sapateiro, o padeiro e o leiteiro, quando esses últimos passavam em nossa porta. 
Casa da família Nuss, 1960.
Lembrei-me do engenho conhecido em minha infância. Aqueles grandes tachos, a concha para mexer o caldo de cana que não podia empelotar, a mesa e os enormes recipientes de madeira, esperando receber o melado para moldar a rapadura na fazenda de seu Henrique e Dona Itamar que papai nos levava para visitar. 
Aleixo lembrou que o engenho de cana da família Nuss era tocado por uma junta de bois e ele tinha que acordar às 5h da manhã para tocar os bois. Relatou que, ele, muito espertinho, enganchava-se na maromba onde ficava presa a corrente dos bois para não precisar ficar andando o tempo todo atrás dos bois. Meu marido conviveu bastante com os avós e tios devido à doença de sua mãe Dona Joaquina quando era bem pequeno.
Casinha de Dona Joaquina Nuss.
O engenho era mais para quem produzia em maior quantidade para ter açúcar mascavo, melado e rapadura para o ano inteiro e também suprir necessidades de terceiros, como colonos, filhos e outros. No caso dos avós do Aleixo, produziam muito e ele se lembra de ter visto a produção durar de um ano para o outro, quando eles davam um fim ao produto velho para desocupar lugar para uma nova safra ou pulavam um ano de moagem. 
Igreja de São Pedro do Paraíso, RJ.
Havia, também, as engenhocas, que eram manuais e produziam apenas o caldo de cana para uso no dia a dia, faziam apenas o melado para adoçar o que fosse necessário, era coisa simples de fazer, bastavam alguns pedaços de madeira de boa qualidade e muita gente tinha, pois a cana era plantada em pequenas moitas aqui e ali e mesmo os colonos podiam ter sem qualquer interferência, coisa que mudou com as novas leis, como usucapião... Então, os proprietários começaram a tomar novas medidas para não perder parte de suas terras. Aleixo, quando criança, se achava um menino pobre, mas depois de adulto, pôde avaliar a imensa riqueza em que viveu com sua família, num sentido amplo. 
Avô João Nuss e netos.
Sentimos uma espécie de melancolia saudosista ao assistir ao vídeo de um trabalhador mexendo o caldo de cana que já estava no ponto. Aleixo se lembrou da fazenda de seu avô na infância. Viu o seu Silvio muitas vezes fazendo isso, mexendo o caldo até o ponto da rapadura, sem parar, naquela enorme tacha de cobre. Posso ver a cena enquanto ele a descreve pela lembrança! Seu Silvio, pai do Aleixo, era um homem com mil habilidades e duro na queda. Trabalhava do nascer do dia até o anoitecer, quando ainda restavam muitas outras atividades com: descascar milho, catar feijão, entre outros. 
Irmãos Nuss, 1991.
Pensamos em como o tempo passa. Aleixo me disse que sua avó mandava seus inúmeros netas e netos que a visitavam debulhar espigas de milho na mão e doía muito, mas, para eles era só festa, experiência de criança. Eu também debulhei muito milho e feijão a pedido de mamãe que procurava sempre nos manter ocupados!
José Araújo e sua ema.
Aleixo me disse que na fazenda aquilo era o trabalho diário: debulhar milho, socar café, fabricar o fubá no moinho. Aquela broa de fubá mais grosso, aquele café moído na hora e perfumando o ambiente! Não tinha nada melhor.  Sua avó, mãe e tias eram danadas na cozinha, seus quitutes eram de fazer inveja!
Ilustração de engenho.
Na minha infância, a gente costumava ir pra roça e íamos cantando as cantigas daquele tempo... Minha mãe era mineira e a gente entoava: "Quem parte leva saudades de alguém... Oh! Minas Gerais, oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais... Estrela D'alva, no céu desponta... Como pode um peixe vivo, viver fora d'água..." Sereno, eu caio, eu caio... Até chegar lá era só animação e expectativas das artes que podiam acontecer! 
Engenho de moer cana.
Lei ainda me lembrou de que naquela época, nas reuniões, a própria família preparava todos os quitutes: eram mais de 30 tipos de doces diferentes, queijos, broas de fubá, a gente se fartava e depois os adultos iam ao arrasta pé e a criançada também se animava, isso tudo com luz de lamparina de azeite ou querosene.
Outro engenho antigo.
Esse museu despertou-nos tantas emoções. Foi inspiração da chuvinha que não nos motivou a ida à praia cedo. Engraçado que a gente não liga muito para os museus da nossa cidade e perdemos muito. Quando a gente viaja para o exterior costuma visitar os museus e às vezes negligencia aqueles que estão ao nosso alcance. Quero continuar as visitas aos outros museus tanto de Goiânia como do Rio! 

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