Regina, 2010. |
Aos seis anos, fui matriculada em tradicional colégio católico de nossa capital. Eu era muito tímida àquela época, fruto de educação bastante estóica. As crianças, então, eram as últimas a terem qualquer direito de expressão e eram praticadas ações que, hoje, seriam altamente condenadas.
Já falei antes da exigência das freiras agostinianas de as crianças assistirem à missa diária antes do início das aulas às 7 h da matina. Graças ao cósmico, fui dispensada depois de alguns desmaios.
Quase todo mundo em Goiânia era muito católico na década de cinqüenta. Não existiam tantos evangélicos como hoje. Mas meu pai havia se convertido ao espiritismo e chegado à conclusão de que o que importa é o que sai da boca e não o que entra. Assim, se antes não comíamos carne às quartas e sextas feiras da quaresma, eles passaram a permitir que isso acontecesse para a alegria da garotada.
Quase todo mundo em Goiânia era muito católico na década de cinqüenta. Não existiam tantos evangélicos como hoje. Mas meu pai havia se convertido ao espiritismo e chegado à conclusão de que o que importa é o que sai da boca e não o que entra. Assim, se antes não comíamos carne às quartas e sextas feiras da quaresma, eles passaram a permitir que isso acontecesse para a alegria da garotada.
Regina e Clélia, em 1958, já no Externato São José, das dominicanas. |
O bacalhau do porto que meu pai adorava ficou cativo das sextas-feiras santas. Nos outros dias, assim como durante o ano inteiro, comíamos peixe, sim, mas porque meus pais gostavam muito e minha mãe era especialista em calderadas! No dia-a-dia, a carne predileta lá em casa eram os bifes de filé mignon! Mas carne nem era o meu alimento predileto. Eu levava lanche porque não tomava nada antes de sair de casa!
Naquele dia, como havia sobrado bife do jantar anterior, minha mãe me preparou um sanduíche de pão francês com um deles, do que eu gostava muito. No intervalo do recreio, as freiras rezavam com as crianças que eram autorizadas a abrirem as lancheiras e estenderem os guardanapos sobre a carteira. A irmã passava fiscalizando como as crianças comiam, antes de permitirem que as alunas saíssem ao pátio para as brincadeiras diárias. Nesse dia, em minha sala, estava a madre superiora que eu temia muito por ter assistido a um de seus ataques de fúria quando chutou uma das internas.
Regina em seu nono aniversário, 1957, em Goiânia. |
Eu havia terminado de rezar com a turma: - “Abençoai, Senhor, este alimento que vamos tomar, dai-o aos pobres que não o tem. Amém”. De repente, ela parou ao meu lado e tomou, aos gritos, o sanduíche de minhas mãos. Retirou o bife que o recheava, atirando-o ao longe e proferindo impropérios em voz bastante alterada. Eu tremia de medo, mas, resignada, peguei o pão de volta, percebendo que ainda continha o molhinho da carne... E preparava para abocanhá-lo com fome, quando ela percebeu a satisfação nos meus olhos famintos e mudou de idéia, tomando também o meu pão e atirando-o ao longe!
Eu estudei lá no Colégio Santo Agostinho dos seis aos oito anos e não tenho saudade! Depois fomos para outro colégio, também de freiras católicas, mas um pouco melhor em termos educacionais.
A minha convivência com as freiras daquela época contribuíram para me afastar do catolicismo por um bom tempo. Todavia, bem mais tarde trabalhei ao lado do Padre César, no Colégio Dom Orione, lá em Tocantinópolis. Admirei muito o seu trabalho como educador convicto, atuando também junto aos índios aculturados da reserva indígena. Assim, percebi que em todas as seitas há gente de todos os tipos! Aprendi demais com a conduta cristã do querido Pe. Cesare e agradeço muito ter privado de sua convivência.
E ao retornar do Maranhão, na década de 80, fui trabalhar numa instituição católica, a PUC de Goiàs, onde permaneci por 27 anos.
Sou católica e amo as tradições e ritos da religião, mas não comungo com certos exageros nem com comportamentos como esses relatados e tantos outros que são cometidos em nome de Deus ou mesmo da religião (dos dogmas). Acredito que em todos os espaços em que habita o homem há falhas e como você disse "seres de todos os tipos". Foi assim também em meu sonho revolucionário, quando acreditamos que poderíamos mudar o mundo com a ação de homens melhores, mas descobri, para meu espanto e desilusão, que os homens de esquerda não eram melhores e que, em sua maioria, eram machistas e preconceituosos, claro, aqui, também, com raras e gratas exceções.
ResponderExcluirBeijos
Helen
From: Clelia Araujo
ResponderExcluirTo: regina araujo
Sent: Thursday, April 28, 2011 2:35 PM
Subject: RE: visitem os blogs e os divulguem por favor!
oi regi,
hoje tirei um tempo pra ler tudo o que eu não tinha lido nos blogs...tinha algumas postagens antigas que eu não tinha lido.
Não sabia que vc tinha pressão alta...aliás, normalmente, quem desmaia é quem tem pressão baixa. Sei disso por causa da Meméia e da Pri, que já me deram muitos sustos, ao desmaiarem na minha presença. Ambas tem pressão bem baixa. No seu caso, penso que é mais alergia a multidão. Lembro bem de uma das vezes, quando houve uma missa campal e vc desmaiou. Fiquei com inveja porque vc se livrou de ficar em pé naquele calor....hehehehehe...
Eu sempre pelejei pra desmaiar e nunca consegui.
Desde que cheguei da Bahia estive envolvida com duas providências, que não podiam ser adiadas: visita a meus médicos e o bendito imposto de renda. Ontem, finalmente, consegui transmitir a minha declaração e a a final do espólio do Sérgio. Acredita que só no ano passado consegui fechar esse ciclo? Quanto aos médicos, ainda falta terminar os exames do gastro. Voltei péssima da Bahia depois de comer aqueles petiscos maravilhosos. A minha hérnia de hiato protestou veementemente e desencadeou outros probleminhas. Ia fazer hoje a endoscospia, mas esqueci do jejum, que tem que ser de 12 horas...então, só semana que vem porque amanhã quero ver o casamento real.
Mandei o endereço do Gu pelo MSN, vc viu?
beijo!
clélia