sexta-feira, 6 de abril de 2012

SEXTA-FEIRA SANTA


Regina, no Hyde Park, em Londres, 2010.
Eu sempre quis assistir à Procissão do Fogaréu, mas isto ainda não aconteceu. Essa é uma tradicional procissão católica realizada anualmente na cidade de Goiás, na quarta-feira santa.
A procissão encena a prisão de Jesus Cristo e tem início a zero hora da quarta-feira santa, com a iluminação pública apagada e ao som de tambores, à porta da Igreja da Boa Morte, na praça principal da cidade. Os penitentes, vestidos em indumentária especial e representando soldados romanos, seguem então para a escadaria da Igreja de N. S. do Rosário, onde encontram a mesa da última ceia já dispersa. Em seguida, avançam na direção da Igreja de São Francisco de Paula, que simboliza o Jardim das Oliveiras, onde se dará a prisão de Cristo.

Imagem de Jesus na cura dos leprosos.
Este é representado por um estandarte de linho pintado em duas faces, obra do artista plástico oitocentista Veiga Valle.
A Procissão do Fogaréu foi introduzida em Goiás pelo padre espanhol Perestelo de Vasconcelos, em meados do século XVIII. A indumentária utilizada pelos penitentes caracteriza-se por uma túnica comprida e por um longo capuz cônico e pontiagudo, guardando fortes semelhanças com as vestimentas que ainda hoje são comuns nas celebrações da semana santa na Espanha. Trata-se, com efeito, de um traje de origem medieval, o qual era costumeiramente utilizado por penitentes que assim podiam expiar seus pecados sem ter que revelar publicamente sua identidade. Combinei com Aleixo de ir a Goiás no próximo ano, mas sei que esta cerimônia acontece em outras cidades brasileiras, no sul e no Maranhão.
Imagem de Jseus Cristona na crucificação.
O dia de hoje constitui uma das datas mais emblemáticas para o Cristianismo: Sexta-Feira da Paixão. Momento de fé contrita, solene, que registra a prisão, o julgamento, o suplício, a crucificação, morte e o sepultamento de Jesus Cristo. A definição da data, baseada nos costumes ancestrais herdados da religiosidade judaica, é contada retroativamente a partir do Domingo de Páscoa, marco supremo da ressurreição do Messias.
A antiguidade da data pode ser comprovada pela flutuação do dia santificado, dotado de mobilidade dentre a rigidez dos calendários definidos como referências universais desde os tempos do poder romano. O dia certo, a cada ano, é definido como sendo a primeira sexta-feira depois da primeira lua cheia após o equinócio do outono, em nosso hemisfério sul. No hemisfério norte é o equinócio da primavera. Ou seja, a sexta-feira santa pode acontecer entre 20 de março a 23 de abril.
Jeseus na Samaria.
Percebe-se, portanto, uma incontornável reafirmação de milenares vínculos sociais traduzidos como referências religiosas de tamanha força que chegam a ultrapassar as próprias crenças, impondo-se aos calendários civis, convertendo-se em feriados para boa parte dos países de tradição católica, alcançando, assim, praticamente todas as demais opções de credo.

Jesus Cristo.

No Brasil, esta data tem força singular, sendo um momento respeitado em todo o território nacional, devidamente incorporado às datas comemorativas mais fortes. Ao longo dos anos, a Sexta-Feira Santa foi se impondo aos costumes nacionais e o consumo de frutos do mar, nesta data, passou a ser um traço cultural forte, praticado inclusive por grande número de não cristãos.
A encenação da Paixão de Cristo, ocupando ruas de incontáveis cidades brasileiras também se consolidou como característica nacional, chegando a criar uma cidade cenográfica: Nova Jerusalém, em Pernambuco.
 
Celina, Regina, Sonia, Júnior, Clélia, Lu
e filho Angelo, na Shamballa, 2005.
Apesar do agradecimento, o dia também é utilizado para realização de jejuns e hábitos abstêmios. Essa é maneira encontrada por alguns seguidores para refletir sobre o sofrimento vivido por Jesus em suas últimas horas - antes e durante a crucificação que salvaria a humanidade.
Para isso, além da procissão, as igrejas também realizam nesses dias outros encontros, como orações, missas e encenações.
Não estamos diante de um simples feriadão, mas frente a um momento de grande força popular, capaz de extrapolar os próprios limites religiosos e de estimular reflexões sobre os valores éticos e sociais. Não deve ser desperdiçada, portanto, a oportunidade de se fazer uma reflexão sobre a vida! Afinal, logo vem a Páscoa que quer dizer passagem! Passagem para um período melhor!

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