HELGA BROCKES

“O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.” Mário Quintana

Helga em  junho de 2002.

Alguns a chamavam de Kátia. Era o nome que sua mãe desejava quando ela nasceu, mas o pai a registrou como Helga! Agora, faz oito anos que minha amiga mudou de andar!
Nós sempre nos falamos em datas especiais ou quando uma precisava da outra! Ela foi minha irmã sempre e esteve ao meu lado nas épocas mais difíceis de minha caminhada! Liguei para ela naquele natal e depois no ano novo, convidando-a a vir estar conosco... Mas ela alegou que o trânsito ficava difícil nessa época, que estava com uma gripe e preferia ficar em casa!

Assim, só estranhei quando ela não apareceu no dia 17, data de meu aniversário e que ela nunca havia esquecido! Então, tentei falar com ela, mas o telefone nunca foi atendido e reclamei ao nosso amigo comum – Ricardo Abrahão! Ele não envidou esforços para saber notícias dela e, dois dias depois, soube que ela estava internada em hospital goiano tratando uma leucemia!

Helga tem uma roseira lá na Shamballa
que está sempre florida!

Liguei para o hospital e falei com ela pessoalmente que imediatamente me tranquilizou. Não queria que eu fosse visitá-la para não atrapalhar a redação de minha tese, mas aceitaria, sim, que Aleixo o fizesse e lhe levasse um jarro com flores para o seu quarto! Isto foi providenciado a seguir e passei a ligar-lhe diariamente nos dias consecutivos.

Tia Dione, Helga, Regina e Aleixo,
em Pirinópolis, 2002.

Todavia, no terceiro dia amanheci querendo visitá-la e o fiz! Comprei mais flores e plantas, o biscoito de sua predileção e esperei o horário de visitas matinais à porta do hospital! Estivemos lá durante todo o tempo permitido e assistimos à sua primeira aplicação de quimioterapia. Ela conversou conosco animadamente, apesar de um pouco pálida. Estava linda, toda produzida, com camisola comprida, olhos azuis risonhos e a linda cabeleira dourada!

Disse-lhe que Ricardo viria para visitá-la logo, mas ela brincou sugerindo que nós devíamos esperar uns dias, até que ela terminasse o tratamento que estava iniciando ali. Então, iria para casa e aceitaria que ele viesse cuidar dela! Pretendia comprar um pinico cor de rosa para que ele tivesse bastante trabalho diariamente, limpando-o a cada vez que ela o usasse! Confidenciou-me, ainda, com a inteligência de seu bom humor, bondoso, que não suportaria ficar careca! Assim, eu teria que providenciar uma linda peruca com cachos dourados, igualzinha aos seus cabelos, para quando ela precisasse dela! Eu lhe prometi, claro! Relatou-nos, ainda que, no dia anterior, havia recebido a visita de 51 pessoas queridas, sobretudo parentes de Pirinópolis, que lhe trouxeram tudo de que ela gostava de comer, inclusive frango com pequi!

Regina, Helga e Ricardo Abrahão, no Mosteiro de São Bento,
em S. Paulo, 2001.

Mais tarde, percebemos que ela queria que a gente saísse e ela acabou me pedindo que eu ligasse, assim que chegasse a casa, para a nossa amiga Maria de Lourdes e lhe pedisse encarecidamente que fosse visitá-la naquele mesmo dia! Eu devia preocupá-la, dizendo que ela estava muito mal para que ela fosse lá logo!

Eu o fiz, deixando recado com sua empregada de que Helga estava quase partindo...Assim, ela compareceu ao hospital no final da tarde, junto com o marido Dr. Salomão e o filho médico recém formado! Ela queria pedir a Lourdes Esselin que arranjasse emprego para o Ricardo, em Goiânia, conforme soube depois!

Todavia, durante aquela visita, ela realmente foi embora, deixando-nos o vazio de sua querida presença física!

“A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar”. Rubem Alves