segunda-feira, 25 de outubro de 2010

AINDA LEMBRANÇAS DA MINHA INFÂNCIA


“O essencial faz a vida valer à pena. Basta o essencial! Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo”. Rubem Alves

Regina em 2010.
Meus pais adoravam comemorar os nossos aniversários e sempre vou lembrar-me dos salgadinhos, doces, enfeites, preparados com capricho e muito trabalho carinhoso para as celebrações. A expectativa da festa e o seu acontecimento eram pura alegria. Convivemos bastante com nossos primos maternos, os cinco filhos da Tia Hilda e os dois primeiros da Tia Agda. Mais tarde repeti a experiência festejando os aniversários de meus filhos e compartilhando as festinhas dos sobrinhos e netos.

Como havia pouca diversão naquele período em Goiânia, qualquer aniversário, casamento ou batizado era um acontecimento muito esperado. Marco, Clélia e eu ainda pegamos a festa de carnaval da ANAG. Minha mãe dificilmente podia ir porque ela estava freqüentemente grávida ou com filho pequeno e papai costumava comprar confete, serpentina e lança-perfume e nos levar fantasiados às matinês carnavalescas.

Em 1950, ele comprou um carro importado, um NASH vermelho conversível e levava os dois filhos mais velhos pela cidade. Engraçado que nunca soubemos que o lança-perfume de metal vindo da Argentina servisse para outra coisa a não ser esguichar nos olhos dos outros... Pode?!

Regina em 1950.
Papai tinha muita superstição em relação ao mês de agosto e foi no dia primeiro de agosto que ele saiu com o meu primo Carlos, filho do Tio Venerando e bateram o Nash. O carro precisou ser totalmente reformado, eles quebraram costelas e tiveram alguns ferimentos sem grande importância. Eu tinha apenas dois anos e meio, mas ainda me lembro de eles entrarem pela garagem, na rua cinco, machucados e contando os detalhes da capotagem que teria acontecido na estrada sem asfalto de Bela Vista, àquela época.

Tio Venerando costumava nos visitar diariamente e estava sempre alegre, idealista, então. Sempre me rodava e tentava me ensinar a dançar tango. Com o tempo afastou-se do tudo, infeliz com a morte precoce de quase todos os filhos. Depois da morte de papai ele nunca mais foi à nossa casa e um dia me explicou que não suportaria as lembranças do local. Seu filho Hírcio gostava de briga de galos e vivia envolvido com brigas. Andava de lambreta e nós, as crianças, o olhávamos com admiração censurada. Nos finais de semana papai e mamãe nos levavam de carro até à Praça Cívica. Todos nós adorávamos brincar de pique, comer pipoca e algodão doce.

Clélia, Sônia, Zezinho, Regina e Marco, 1957.
Nosso passeio dominical incluía a visita ao Horto para ver os bichos, antes de visitarmos a vovó. Mas, quando vovó Maria Magdalena ainda morava à Avenida Anhanguera, ela costumava passar para me levar à missa na Igreja Coração de Maria onde fui batizada. Aconteceu de ela levar a mim e a Clélia num domingo cedinho e às nove horas o seu filho -Tio Augusto- passar com Tia Raquel e nos levar ao culto ecumênico da Igreja Presbiteriana. Esse era muito mais divertido que a missa em latim! Sempre me lembro do cheiro da igreja: roupas domingueiras, flores, velas, mofo. Nunca gostei de multidão e as missas eram bem cheias naquele tempo.

Marco e Regina, em seu batizado.
Durante a semana eu costumava acompanhar o Marco a suas aulas particulares. A gente passava pelos lotes vazios do centro onde morávamos. Uma vez, o Marco foi agredido por moleques da rua e eu o defendi corajosamente jogando carrapichos nos meninos que tentavam bater-lhe, mas esses me acharam tão insignificante que nem revidaram.

Antes de aprender a ler, minha mãe me colocou na aula de piano com Dona Mafalda, por meio do método colorido. Depois estudei com a Nizinha, minha prima, também filha do tio Venerando. Lembro-me de que no dia da queda do Getúlio Vargas fiquei muito feliz, porque não houve aula no Colégio Santo Agostinho, nem de piano!

Lembrança de aniversário do Marco, 1949.
Lembrança de aniversário da Regina, 1957.











Mais tarde tive aulas de piano com a Dª Diana Spencière e, por último, com a sua irmã, Dª Hebe, tia da Annunziata. Quando entrei para o Conservatório de Música, lembro-me de que fui examinada pela Belkis Spenciére que era muito amiga de minha mãe. Portanto, não foi por falta de bons professores, e sim de talento musical que me tornei apenas apreciadora da boa música.

Divina de Paula era minha colega de classe no Externato São José desde os nove anos de idade, além de  vizinha. Joaninha Macedo tornou-se minha amiga no ano de 57, quando freqüentamos o Colégio Maria Auxiliadora. Helga Brockes foi minha professora de inglês já na adolescência e Bené passou a fazer parte de minha vida, em 62. O reencontro de afins propicia a amizade reconstruída ao longo dos anos  e é para sempre, transcendendo até mesmo as mudanças de plano espiritual...

Um comentário:

  1. Comentário do querido amigo Abrahão, de Sampa/ Sta. Rita do Sapucaí., em 25.10.2010

    Que recordações maravilhosas!
    Regina, tudo isso merece um livro todo encadernado!!!!
    Ricardo Abrahão

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