segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Estação das Cigarras na Shamballa


Tenho tido um sonho recorrente. No texto onírico tento separar duas pequenas lembranças, objetos, talvez, para guardar como recordação da viagem ao UK. Nos sonhos sucessivos, fico escolhendo, mas não chego a um consenso até o novo sonho...

Cigarra adulta.
Desde que chegamos tem chovido bastante na Shamballa e este tempo é muito agradável. As cigarras cantam muito pela manhã e à noitinha, mas não tem sido com o furor que ouvimos quando adquirimos a chácara há alguns anos atrás. Nestes dois últimos anos, a chuva atrasou bastante e presumo que tenha afetado o desabrochar das ninfas.

As cigarras são insetos de asas grandes, transparentes e com nervuras bastante salientes, possuem no alto da cabeça três ocelos, isto é, órgãos visuais de alguns animais inferiores. O macho, quando canta, produz um só estridente, não só por meio de fricção - como acontece com os grilos e gafanhotos -, mas servindo-se de um aparelho especial situado na face ventral da base do abdome. Duas cavidades dotadas de membranas distendidas funcionam como os timbales, ou seja, uma espécie de tambor metálico de forma hemisférica, que vibram em conseqüência de contração brusca dos músculos. Cada espécie tem um canto peculiar, sendo que as maiores fazem um barulho infernal, sobretudo nos dias de excessivo calor.

Chácara Shamballa.
Geralmente, a cigarra é considerada como extremamente nociva à agricultura e aos vegetais. Muitos produtores, principalmente os de café, fazem questão de ressaltar que seu único lado positivo é o de servir de alimento a predadores. Acontece que ela, enquanto ninfa, às vezes leva vários anos para completar sua metamorfose, como no caso da cigarra que vive dezessete anos, espécie encontrada nos Estados Unidos e que demora esse tempo todo para atingir a fase adulta. É o inseto de vida mais longa que se conhece e elas se escondem embaixo da terra durante quase duas décadas, sugando as raízes das plantas para se alimentar. Com o objetivo de abrir um caminho subterrâneo ao longo destas, as larvas de sua espécie têm as patas anteriores providas de curiosas cavadeiras. Findo esse prazo, elas finalmente emergem, fincam as unhas na casca da árvore de cuja seiva elas se alimentaram e saem da pele, a qual se fende nas costas e permanece intacta, representando perfeitamente o corpo do inseto.

Regina junto à natureza,  no U.K.
O termo cigarra é a designação comum dada aos insetos de uma família (cicacídeos) pertencente à classe dos homópteros, que reúne a cochonilha, o pulgão, a jequitiranabóia e outros mais. Existem no mundo mais de 1500 espécies de cigarra, a maioria delas vivendo nos trópicos ou na bacia do Mediterrâneo. São facilmente reconhecidas não só pelo seu tamanho grande, que varia entre 15 e 65 milímetros de comprimento, mas também graças à cantoria entoada pelos machos para atrair as fêmeas da espécie, principalmente no período quente do ano. Embora esse som seja emitido durante o dia inteiro, se torna mais evidente ao entardecer e amanhecer, e menos intenso nas horas em que o calor aumenta.

Cigarra fotografada na Shamballa pelo Aleixo.
O ciclo de vida da cigarra obedece a um roteiro que praticamente tem início quando as fêmeas adultas são fecundadas pelos machos durante o período em que eles estão em grande agitação, promovendo sua intensa cantoria. Logo após a postura elas morrem, deixando os ovos depositados nos ramos e folhas das árvores, e quando estes eclodem, as ninfas descem e se enterram no chão, onde, dependendo da espécie, permanecem de 4 a 17 anos, sobrevivendo graças à seiva sugada das raízes. Depois desse período elas cavam túneis, abandonam o solo, sobem nas árvores e sofrem uma metamorfose denominada ecdise ou muda, tornando-se adultas, prontas para o acasalamento que ocorre no Brasil na época da primavera, entre setembro e novembro, quando várias espécies se entregam à derradeira tarefa, que é a da reprodução.

Entre os insetos, as cigarras são as únicas que produzem o som estridente que todos conhecem. Algumas das espécies maiores conseguem atingir os 120 decibéis com facilidade, enquanto as espécies menores realizam a proeza de alcançar uma sonoridade tão aguda que seu canto simplesmente não é percebido pelo ouvido humano, embora os cachorros e outros animais possam chegar a uivar de dor por causa dele.

O mecanismo usado pelas cigarras é complexo: os timbais (de timbales) são um par de membranas localizadas no abdome, que se contraem e relaxam em conseqüência da contração e da descontração muscular, originando o som que por sua vez é amplificado por bolsinhas de ar. O que os cientistas não conseguiram entender, até hoje, é como esse mecanismo produz um barulho tão estridente.

E haja ouvidos para agüentar o seu som estridente! Dizem que até mesmo as cigarras se protegem contra o volume intenso de seu próprio canto. Tanto o macho como a fêmea dessa espécie de insetos possuem um par de grandes membranas que funcionam como orelhas. Elas são os tímpanos, conectados ao órgão auditivo por um pequeno tendão que reage quando o macho canta, dobrando-os para que o som alto não lhes provoque danos.

O que pouca gente sabe é que esse canto agudo e penetrante tem dupla utilidade: além de atrair uma parceira, ele mantém os pássaros distantes, pois além de ser doloroso ao ouvido sensível das aves, também interfere em sua comunicação, dificultando a caça em grupo.

Árvores na Shamballa.
Muitas espécies de cigarra têm períodos diferentes de amadurecimento, com ciclos vitais de duração variada, enquanto as larvas ficam sob a terra. Mas sete espécies do gênero Magicicada têm uma característica adicional: elas são sincronizadas, ou seja, saem do chão todas ao mesmo tempo, para cerca de duas semanas de canto ensurdecedor, acasalamento e postura de ovos. Como vimos, a cigarra é um inseto de fases incompletas. Ovo→Ninfa→Inseto adulto.

A população antiga acreditava que o canto da cigarra é o sinal que ela está chamando chuva, por isso seus cantos em dias quentes. As cigarras não se alimentam de moscas, vermes ou grãos. Quando jovens, elas sugam a seiva das plantas pela raiz e injetam toxinas. Na fase adulta elas também se alimentam da seiva, mas, desta vez, sugada pelo caule e folhas das plantas.



As cigarras estão presentes em quase todas as regiões do mundo, tanto em climas quentes como frios, e têm poucos predadores. Na fase adulta, são alimento para pássaros e enquanto ninfas são atacadas por besouros, alguns mamíferos, como o tatu, e quem diria, por formigas predadoras que vivem nos solos.



Quando falhamos ao tentar pegar uma cigarra, na hora que ela foge, ela costuma urinar, termo conhecido no ditado popular. Na realidade, na hora que ela levanta vôo, ela elimina o excesso de líquidos para deixar o corpo mais leve e facilitar a fuga. Outros dizem que seu ventre é fraco e o impulso do vôo faz com que ela elimine o que está armazenado. Na verdade, ela esta eliminando a seiva retirada da árvore e não necessariamente pondo em alvo quem a ataca, pois isso não só acontece na hora do vôo, mas também durante a extração da seiva. Mesmo assim, após analises, foi verificado que o que sai como sendo o “mijo” da cigarra, praticamente só tem água, não sendo constatado quase nenhum resíduo tóxico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário