sábado, 2 de outubro de 2010

A CONFUSÃO DAS LÍNGUAS NO UK


SERIA LONDRES UMA VERSÃO MODERNA DA TORRE DE BABEL?
 por Aleixo Nuss de Oliveira

Segundo especialistas em história bíblica, a Torre de Babel teve  a sua construção iniciada com o objetivo de se alcançar o céu para que alguns poderosos da terra pudessem enfrentar Deus, uma vez que eles se sentiam ameaçados pela existência de um ser poderoso e supremo. Sua idealização é atribuída a muitos, porém nenhuma prova conclusiva existe. É algo semelhante à arca de Noé.
Para os judeus, Babel significa confusão. Deus teria castigado seus idealizadores, provocando tal confusão lingüística que seus objetivos, de se fixar num só lugar e falar uma única língua que se espalharia pelo mundo, se dispersaram e tiveram de se comunicar em milhares de outras línguas que iriam adquirindo durante os séculos, em grupos isolados e autônomos, em cada canto do planeta. Essa teoria de uma única língua matriz é rejeitada há muito tempo pela história da lingüística.
Aleixo em Londres.
A comunicação entre os seres humanos se processa de muitas maneiras. A comunicação plena é aquela que satisfaz na íntegra o transmissor e o receptor, ou seja, ambos sintam que a comunicação foi recíproca. Todos nós sabemos que mesmo entre pessoas nativas de uma mesma língua o ato da comunicação pode ser complicado, as grandes organizações têm sérios entraves em razão disso. Existe a comunicação de sobrevivência, aquela dos negócios, por exemplo, mas esta modalidade fica longe de ser completa, não preenche todas as lacunas. Para que haja a verdadeira comunicação, o sentimento entre as pessoas que se comunicam deve gerar satisfação e, em muitos casos, até mesmo felicidade. Para ilustrar as dificuldades da comunicação oral, basta que se passe uma frase simples para uma pessoa que a repassará a outra logo em seguida e, assim por diante, até alcançar um número de vinte pessoas. Veremos o estado de confusão que esta frase nos apresentará no final. Agora, imagine o estado de um texto passado de pai para filho, oralmente, por centenas de anos, pois os registros escritos são relativamente recentes na história.
Anos passados, quando morei em Londres, tive dois amigos chineses, que por sinal falavam muito bem o inglês. Um belo dia, eles simplesmente desapareceram por um bom tempo. Quando os encontrei novamente, nós nos sentamos à mesa para um café a fim de contarmos nossas histórias. Eu perguntei aos dois por que eles sumiram. Eles deram o risinho característico e disseram: "estávamos  felizes com os nossos familiares na China,   falando chinês o tempo todo". Eu perguntei por que eles não se sentiam felizes falando inglês, já que o falavam tão bem. Disseram: “bem, de certa forma, sim, mas nada se compara com a comunicação sem preocupação com barreiras culturais, quando você entende e é entendido em cada gesto, cada som, cada olhar. O que falamos em inglês é apenas para a sobrevivência”. Esta passagem, para mim, é uma prova viva de que a linguagem e a felicidade estão diretamente relacionadas. Muitas pesquisas já feitas com grupos que se comunicam sem barreiras e grupos que somente se comunicam para o essencial provam que o primeiro grupo tem mais saúde e mais alegria de viver.

Torre BT, em Londres, vista da Fitzroy Square.
Até pouco tempo atrás eu me questionava quanto ao que seria a comunicação ampla e irrestrita. Então, tive a oportunidade de ir para Londres com a Regina, onde ficamos por trinta dias. Eu havia morado lá por cerca de três anos, na década de 70. A história da União Européia, oficializada em 1992, tomou rumo inimaginável antes. Regina havia falado, sem que eu prestasse muita atenção, "isto parece uma torre de Babel”. Pegamos um táxi  com motorista londrino, chegamos ao YMCA Indiano, bem próximo da torre da BT, antiga Post Office Tower, na Fitzroy Square, Camdem, local perto da Oxford Street. Ótimo. Mas, na recepção, comecei a pensar na observação da Regina, não conseguia entender uma palavra do indiano e, pior, ele parecia estar falando inglês. A torre de Babel continuou nos dias seguintes, pois, segundo pesquisas, são faladas 300 línguas em Londres e, pelo que notei, não se esforçam para fugir do broken English. Safem-se quem puder!

A Inglaterra, tendo a cidade de Londres como ponto de concentração, tornou-se um país sem identidade lingüística. A formação do UE e a globalização a transformaram numa sociedade multicultural, cada uma por si, tudo mudou de cara. Nas multidões se ouve um zumbido incompreensível de centenas de línguas ou sotaques, como se fossem pássaros de centenas de espécies. Viva à gralha solitária que “gralhava” lá no Fitzroy Square, quando a Regina lhe dava pão indiano todas as manhãs... Essa eu entendia plenamente...

Regina e Aleixo, em Stratford-upon-Avon.
Londres, com suas centenas de línguas e costumes, parece estar muito bem. O país todo melhorou muito em aparência e tecnologia. A língua Inglesa continua a ser praticada, a rainha continua com o mesmo sotaque (RP), mas as ruas e o comércio se tornaram terra de todos e de ninguém. Aquele velho dizer: - You may be loved or hated when you open your mouth in England” (ou seja, ao abrir sua boca na Inglaterra você poderá ser adorado ou odiado), já não tem mais lugar. Veja que isto se referia aos falantes do Inglês regional do próprio Reino Unido. Hoje, pelo que vi e observei, o que vale é o dinheiro, se o tivermos para pagar os preços exorbitantes praticados na Inglaterra, somos todos bem vindos. Quanto menos Inglês você souber melhor, será apenas mais um non English speaker na torre. Ao governo só interessa nossas pounds, os ilegais sobrevivem por lá na ilusão de enriquecer, sem saber que estão apenas deixando uma grande lacuna em suas vidas.

Quando eu morei na Austrália e na Inglaterra, estava disposto a esquecer que falava português, mergulhei de cabeça para me integrar e entender a cultura desses países, interrompi o processo, falhei...

Regina e Aleixo, em Oxford.
Eu arriscaria uma opinião de leigo no assunto, a língua Inglesa, no Reino Unido, está a caminho de mutações drásticas em pouco tempo. As línguas mais dominantes, como o indiano, o árabe, o italiano, entre outras, irão muito provavelmente gerar uma linguagem comum e do conhecimento de todos. Assim teremos por lá uma nova identidade lingüística, seja lá qual for o broken. Eu estaria sendo no mínimo ingênuo se tentasse fazer qualquer previsão de tempo neste caso. Contudo, não preciso ser um doutor na história da lingüística para apontar que, historicamente, novas línguas se formam, se fundem ou se confundem. Assim com os seres humanos, também suas formas de comunicação se adaptam às novas necessidades, às novas influências e dominações de todas as espécies. Há casos de imposições lingüísticas em países de mais de uma língua praticada pelo seu povo, já houve casos até mesmo de guerra. Neste caso específico, que poderá acontecer? Com a palavra, os cientistas...

Durante o pouco tempo que passei em Londres pude fazer uma avaliação do que aconteceu e continua acontecendo na Inglaterra. O povo Inglês perdeu o poder de decisão sobre quase tudo que acontece por lá. Tomei conhecimento pela mídia escrita e falada sobre os problemas que enfrentam com imigrantes legais e ilegais e, pelo que pude avaliar, a polícia não sabe como resolver situações como roubo de carros, excesso de velocidade, motoristas bêbedos ou sem carteira, entre outras infrações. Vi um caso em que um rapaz ainda fazia chacota com o policial, dizendo chamar-se Saddan Hussein e os policiais pareciam perdidos, na sabiam como tomar uma atitude, o que leva a crer que a Inglaterra está de pés e mãos atados de alguma forma.

Aleixo, no castelo de Leeds.
Dou graças a Deus que em nosso país, com todos os desmandos, corrupção em todos os níveis, crime organizado, e tudo mais, nada temos de torre de Babel. Posso circular pelo Brasil inteiro, mesmo com todas as variações lingüísticas regionais, ninguém tem receio de falar em voz alta nas praias, nos shoppings, no metrô, no ônibus, seja lá onde for. Na Inglaterra, parece que todos têm receio de sua identidade lingüística ser revelada publicamente. Que bom poder ouvir novamente todas as variações regionais e erros gramaticais abominados pelos puristas, que Deus abençoe esse nosso povo brasileiro maravilhoso. Mesmo com todas as nossas dificuldades, injustiça social, falta de recursos para a saúde e para a educação, nós somos um povo guerreiro e, acima de tudo, muito feliz. Que se danem os padrões lingüísticos, nossa comunicação é mais que plena, pois é com ela que somos felizes.

Aquele povo inglês de 40 anos atrás, que se orgulhava tanto de falar um inglês padrão impecável, está dia após dia deixando de existir. Conquistaram muitos povos e estão, agora, sofrendo um processo inverso. Existe hoje na Europa uma confusão generalizada de culturas, costumes, linguagens, religiões, cujo único objetivo é conseguir riquezas financeiras a qualquer custo.

A Inglaterra, a meu ver, está posicionada bem no topo da torre de Babel. A interação entre humanos passa sistematicamente para a interação homem-máquina. Big Brothers modernos vigiam tudo no país. Eu consegui conversar com alguns specimens britânicos, gente mais simples, and felt sorry for their stories: “our pride as English citizens is about to disappear. There is nothing we can do, but go on and hope our children find their ways ahead”. Até mesmo os pubs ingleses correm risco de perder sua tradição, pois o governo, para beneficiar outros meios de comercialização da cerveja, os coloca em risco de fecharem as portas.

Eu arriscaria afirmar que Londres passará, futuramente, a ser uma cidade exemplo dos excessos modernizantes, onde o ser humano perde totalmente seu valor. Os Big Brothers de todos os seguimentos ditarão as ordens.



Um comentário:

  1. Comentário de nosso amigo transpessoal, Zé Maria...

    Oi, Regina, seja bem vinda também.
    Acompanhei a viagem que fizeram à Europa.
    Pelo jeito devem ter aproveitado bastante e
    nos deram uma bela aula de História.
    Ainda não sei quem vai à Índia. Se ficar
    sabendo eu aviso.
    Um abraço
    ZéM

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