sexta-feira, 22 de outubro de 2010

MULHERES DA FAMÍLIA ARAÚJO

 Vovó Maria Magdalena e Tia Maria Hermínia

Regina, 2010.

Lembro-me de minha avó morando numa casa nos fundos da antiga Loja Buri, na Avenida Anhanguera. O prédio era de meu pai e meus avós moravam lá com a minha tia e madrinha Hermínia. Esta não se casou e sempre tomou conta dos pais com extrema dedicação amorosa.


Maria Hermínia de Araújo, 1930.
Tia Hermínia foi uma das melhores pessoas que conheci. Trabalhou nas Casas Pernambucanas e, por último, na Prefeitura de Goiânia, até se aposentar. Criou uma menina órfã de mãe – Erotides, que se graduou em Letras, ficou viúva meses depois do casamento e cujo único filho, hoje, está casado e graduado em direito. Tia Hermínia doou a sua casa em vida para a Erotides que cuidou dela até sua morte.

Minha avó fazia renda nos bilros e eu a admirava muito. Sentia o seu carinho quando eu chegava lá, ela elogiava a minha aparência e me presenteava com rolos de rendas feitas por ela mesma. Eu adorava as cocadas que ela fazia. Tão branquinhas! Um dia, ao chegar, ela me levou até o quarto e tirou de cima do armário um prato esmaltado cheio de cocadas que havia escondido para me oferecer. Eu logo peguei uma com gulodice, mas avisei que elas me davam “tadanêla”. Todos riram da minha consciência na linguagem infantil!

Uma vez fomos dormir em sua casa e achei lindo quando ela tirou o pente do coque e soltou o cabelo à noite, penteando-o antes de dormir... Ele era tão comprido que ela podia sentar-se sobre as pontas do seu liso cabelo preto que nunca precisou ser tingido!

Maria Magdalena Araújo, 1876-1967.
Depois eles se mudaram para um bairro distante naquela época – Setor Coimbra. Não havia asfalto até lá, apenas poucas casas, além de um conjunto popular ao longe. Aos domingos costumávamos visitar a minha avó. Papai fazia questão disso e para as crianças era uma verdadeira aventura. A casa tinha um pequeno muro na frente e cerca de arame farpado nas laterais. Adorávamos aquele descampado e saíamos brincando pelos lotes vagos da vizinhança. Mais de uma vez um de nós voltava cortado pelo arame da cerca.

Meu avô gostava de viajar e quando não pôde mais fazê-lo a cavalo, ia a pé mesmo com a sua mala com couro para negociar.
Vovó esteve sempre lúcida, mas Vovô João caducava nos últimos anos de vida. Era do tempo em que a palavra do homem servia como documento e assim perdeu todas as suas propriedades por não tê-las escriturado. Os filhos tentaram alertá-lo, mas a sua falta de humildade e o seu patriarcalismo nunca permitiram que ele ouvisse os conselhos.


 Tia Maria Araujo Borges,
casada com primeiro Prefeito de Goiânia.
1904-1992.
Ontem, dia 21.10, fez 43 anos do passamento de minha avó - mulher admirável que criou 14 filhos. Nasceu no nordeste, onde meu avô foi dono de muitas fazendas. Depois vieram para Goiás. Tanto ela como meu avô eram leitores assíduos, coisa rara naquela época. Ela cuidava das plantas, das tarefas domésticas, era exímia cozinheira, adorava o cinema e, nos últimos anos de vida, a televisão recém chegada a Goiânia. Não ia a médicos e ninguém nunca a viu doente.



Vovô João Antônio Araujo, 1878-1967.

Avó Maria adoeceu na véspera de sua mudança de plano que aconteceu no ambiente doméstico. No mesmo ano partiram meu avô João Antônio, meu pai José Araújo e minha avó Madalena.
Que eles possam galgar planos espirituais cada vez mais elevados e, na medida do possível, zelar por sua descendência!

Ontem, Aleixo e eu passamos grande parte do dia coletando documentos para a transferência de titularidade e conseqüente reforma do jazigo da família Araújo, no cemitério Santana.





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