quinta-feira, 28 de outubro de 2010

MAIS MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA

Regina Lúcia, 2010
Adorávamos brincar no jardim e no quintal de casa. Claro que preferiríamos fazê-lo na rua, a exemplo de muitas outras crianças da vizinhança, mas minha mãe não o permitia. Como éramos muitos irmãos brincávamos correndo pelo grande jardim, sobretudo. Às vezes, algumas crianças de fora participavam de nossas brincadeiras. Era o caso dos filhos de amigos de Brasília, cujos pais vinham fazer consultas no centro e deixavam os filhos em nossa casa. Acontecia também com os filhos de Dona Santuca que alugaram a casa vizinha da rua cinco por uns tempos.

Clélia, Sônia, Júnior, Regina e Marco, 1958.
Também me lembro da alegria quando minha mãe arrumava seus cinco primeiros filhos e nos levava para um passeio até o coreto da Praça Cívica. Normalmente, ela carregava uma sacola com laranjas e bananas. Passávamos no mercado central que funcionava onde hoje é o Pathernon Center e ela comprava seis pastéis. Como era bom aquele cheirinho de fritura gulosa no saco de papel bege, molhado de gordura, e a expectativa da pequena aventura que empreendíamos! Ela dava as mãos para os dois menores, Sônia e Júnior, e os outros três se posicionavam de cada lado, também de mãos dadas com os irmãos. Eram uns sete ou oito quarteirões, de nossa casa até o local. Lá ela se sentava em um banco de granito e nós brincávamos na grama ao redor.

 Marco Antônio, à direita, em 1947, com coleguinhas de sua época.
Nessas ocasiões, mamãe repartia as bananas, descascava as laranjas para cada um, distribuía os pastéis e, às vezes, ainda comprava garapa. Sentíamos muito felizes com aquela liberdade vigiada! A gente não podia sair de casa a não ser para a escola e os passeios nos finais de semana em família. Papai construiu a nossa casa em um lote e o outro era devidamente cercado e plantado para nossas brincadeiras. Meu primo Luiz Roberto estava sempre lá em casa brincando com meu irmão, mas eram raras as oportunidades de encontrarmos outras crianças. Isso acontecia nos aniversários familiares, quando encontrávamos os primos, filhos de Tia Hilda e Tia Agda, irmãs de criação de mamãe. Papai tinha muitos irmãos, mas casou-se por último e demorou a ter filhos, portanto, os primos paternos eram muito mais velhos, exceto o Luiz Roberto, filho caçula de tio Venerando, que desapareceu em acidente de avião, aos vinte anos, em outubro de 1963.

Clélia Maria, em 1956.
Uma vez, Clélia e eu resolvemos brincar com uma mala. Cada uma entrava na mala e era trancada. Ela entrou e eu não conseguia abrir e passei o maior sufoco pensando que havia matado a minha irmã que acabou saindo viva da brincadeira, depois de eu ter pedido auxílio. Quando ela era pequena e perguntavam o seu nome, ela respondia: - Kela Balila!

Lembro-me, ainda, do dia do enterro de minha irmãzinha Elisabete. Ela seria a quarta filha e chegou no dia dois de maio de 1952, um ano antes da Sônia, mas durou apenas três dias. Meus pais a descreveram como uma menina bonita, grande e saudável, mas ela vomitou à noite no berçário e morreu asfixiada. Meu pai fez um escândalo no hospital, denunciando o descaso médico. Ele havia ficado decepcionado por não ser mais um herdeiro homem que ele esperava e deve ter sentido remorso! Nesse dia, levaram a minha prima - Letícia Araújo Pereira - que era pouco mais velha do que eu para brincar comigo. Ela gostava de plantas e passamos o tempo todo fazendo mudas no jardim!

As gêmeas aos seis anos. Nasceram em 1961.
Em 1957, meu irmão Marco foi para o colégio interno em Belo Horizonte. Lembro-me de que fomos acompanhá-los até o aeroporto que funcionava, então, onde hoje é a Praça do Avião, no Setor Aeroporto. Minha mãe chorava muito, era muito apegada aos filhos. Ele ficou interno cinco anos e no primeiro ano nem veio para as férias de julho. Meu pai achava que isto faria bem para a sua educação masculina! Nossa prima, filha do tio Venerando e casada com o aviador Gilberto Araújo - a Éclair -, morava na cidade e poderia dar-lhe assistência, se necessário!

4 comentários:

  1. a tê comentou no nosso último encontro que está ficando especialista em nossa família por conta da leitura do seu blog.
    eu não tenho essa foto minha de 1956 (tem certeza que sou eu?)quero uma cópia.
    estou adorando ler as suas lembranças.
    O roberto (irmão da meméia) me disse uma vez que o marco inventou um objeto voador, tipo um foguete, que fez sucesso com a molecada da vizinhança...vc lembra disso?

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  2. Sim, Clélia, lembro-se do avião que ele inventou e acho que falei sobre isso em um dos meus depoimentos...O objeto voou, mas fez uma volta e atingiu o Marco na mão... Que bom que todos estão gostando! Eu também! Afinal "recordar é viver", não é mesmo?

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  3. COMNETÁRIO DO SOBRINHO BRUNO CÉSAR, DE RIBEIRÃO PRETO - SP

    ----- Original Message -----
    From: bruno@cpfl.com.br
    To: GiAraujo
    Sent: Monday, November 01, 2010 1:17 PM
    Subject: Blog da ReginaLúcia.htm



    Olá, tia querida, tudo bem? Sabe, lendo os seus depoimentos consigo me imaginar com você nos tempos narrados...
    É uma satisfação muito grande, para mim, receber tais histórias, vejo também que as pessoas daquela época eram bem
    mais simples que as de hoje não é? Satisfaziam-se com pouco, principalmente as crianças... Hoje ninguém quer saber de
    mais nada, mal sabem os nomes dos parentes mais próximos, querem cada vez mais a qualquer preço, as crianças se
    tornaram mini adultos consumistas e obsecados por internet e outras coisas malucas deste tempo, usam e querem ser
    tudo aquilo que determinada "tribo" usa, os pais veem cada vez menos os filhos, se tornaram meras caixas registradoras
    dos filhos que os odeiam apesar de todo sacrificio que fazem para manter o padrão e státus. Somos, hoje, fruto de um
    capitalismo selvagem do qual somos meros números ou engrenágens prontas para serem substituidas a qualquer momento.
    As vezes me pergunto porque estou aqui, sendo que meus avós foram pioneiros em Goiânia? Pela lógica, sendo filho de
    um pioneiro as chances de enriquecer eram altas, principalmente por se tratar de uma capital, né? Tenho um exemplo claro
    disso, a casa que morei no setor Marista em 1972. Naquela época era o fim do mundo morar lá, hoje um lote naquele local
    custa quase um milhão de reais... Agora imagine se meu pai, em 1962, quando trabalhava num escritório de desenho tivesse
    comprado uma área do tamanho de dezenas de lotes lá no setor marista, onde naquela época eram apenas sitios sem valor
    algum, quanto ele teria hoje? Então, na década de 50, quando vocês eram crianças, as coisas eram ainda mais fáceis, hoje
    a familia poderia ter centenas de imóveis na cidade. Bem, chego à conclusão que nossa familia possui um grande carma
    financeiro que precisa ser purificado através de reencarnações e orações. Existem vários livros espiritas que explicam isso.
    Tia, parabéns pelas suas memórias e também pela iniciativa de deixar registrado para as gerações futuras tais depoimentos.

    Bruno Cesar de Araujo

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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