quinta-feira, 14 de outubro de 2010

MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA

Regina, 1952.
Quando eu tinha uns cinco anos de idade, costumávamos receber a visita de um tio avô. Acho que ele morava na vila nova, um bairro não muito distante do centro onde morávamos e ele fazia o trajeto a pé. Como eu costumava ficar escalando o vitrô da grande sala de estar, eu conseguia vê-lo se aproximando devagar.
Eu tinha muito medo dele! O senhor José Maria usava uma perna de pau e quando não havia ninguém na sala, ele levantava a ponta da perna da calça e me mostrava a sua perna mecânica. Uma vez fez com que eu tocasse a madeira e fiquei toda arrepiada de medo, enquanto ele sorria sadicamente, pois certamente havia percebido o meu temor.
Aquele dia, assim que o avistei, não hesitei. Resolvi desaparecer até que ele fosse embora. Dei uma volta pela casa rapidamente e decidi esconder-me dentro de um grande cesto de vime que ficava no banheiro e se destinava a guardar a roupa suja da família. Nosso banheiro era muito grande. Tinha um compartimento fechado com outra porta interna, onde ficava o WC, mas o restante do espaço era bem amplo e claro, com uma banheira ao fundo, sob o chuveiro. Antes de entrar no cesto, devo ter-me recordado de que suas visitas demoravam bastante e, por precaução, peguei algumas bananas na penca da fruteira. Depois de fechar a porta externa do banheiro, acomodei-me confortavelmente sobre a roupa, não me esquecendo de me cobrir com algumas peças, caso me procurassem ali. Eu não conseguia ouvir as falas da sala e acabei dormindo depois de comer bananas.
Regina Lúcia e irmão Marco Antônio, na casa da rua seis, 1951.
Assim, só soube do transtorno muito mais tarde. Ele deve ter perguntado por mim em determinado momento, minha mãe me procurou e não me encontrando em parte alguma, começou a ficar desesperada. Ela costumava ser pouco discreta nessas horas e imagino o berreiro que não aprontou! Empregadas, vizinhos, todos ajudaram a me buscar pelos arredores, depois de buscas inúteis pela casa e quintal. Ela chamou meu pai que trabalhava no escritório da Avenida Anhanguera e já se preparavam para pedir auxílio à polícia, quando acordei, no meio de todo aquele alvoroço. Não saí imediatamente do esconderijo. Antes queria me certificar de que o visitante havia ido embora!
Quando o fiz, fui perdoada pelo alívio que sentiram ao ver-me tão bem e descansada! E nunca mais precisei suportar o terrível tio avô!

Um comentário:

  1. Comentário da Mirtes Completo, de Portugal
    14.10.2010.

    Oi, Regina,

    Você está linda na foto de cabelos presos e vestido xadrez rodado. Uma gracinha! Uma carinha de levada. Dá para ver que não parava nem para tirar fotografia rrssss

    Gostei muito da história de se esconder no cesto de vime. Acabei lembrando das minhas escondidinhas de infância também.
    Obrigada por esse texto! Foi tão bom lê-lo.
    Beijos,
    Mirtes.

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