segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

PERSONAGENS DE NOSSA INFÂNCIA

"Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos". Manoel de Barros

Regina lembrando personagens bizarros
de sua infância.
Novo passeio ao túnel da infância trouxe-me à memória histórias hilárias que relembrei ao lado de meu irmão caçula - Júnior. Enumeramos juntos alguns personagens que povoaram o imaginário de nossa meninice, mas eles existiram de fato e habitavam as ruas da cidade de Goiânia, no final da década de cinqüenta e início da de sessenta.

Já citei a doida Revirinha, uma vez, em postagens anteriores. Ela não costumava tomar banhos, tampouco trocava de roupa. Ganhava peças usadas e ia vestindo uma saia sobre a outra... Mas desprezava o uso de roupa de baixo e costumava plantar bananeira no meio da rua, na frente dos curiosos que se reuniam para assistir ao seu espetáculo.

Grande Hotel na Goiânia daquela época.
Havia outra que chamávamos de Mulher da Arara. Ela andava sempre com essa ave no ombro. Pedia pratos de comida nas casas e quando mamãe lhe deu arroz com cenoura, ela ficou ofendida, respondendo que não era coelho para se alimentar com verdura e jogando a sua arara sobre a assustada Dona Didi.

Outra personagem curiosa era o Bojotinha. Ele era baixinho, todo vestido com terno completo, mesmo sujo e surrado. Ficava nas imediações do mercado central da Rua Quatro, onde hoje fica o Parthenon Center.

Lotação do centro de Goiânia a  Campinas
Outro habitante das ruas goianienses era o Luizinho Louco.  Ele costumava ficar no Lago das Rosas. Ali era o local predileto da molecada por causa dos trampolins. Quase todos os meninos aprenderam a nadar ali.

Mas havia um mendigo ilustre, culto. Ele ficava nas imediações da Casa Santa Luzia, bem perto de nossa casa. Chamava-se Aleixo como meu marido. Ele costumava conversar com meu pai que sempre elogiava sua cultura geral e questionava por que ele vivia nas ruas da cidade com todo aquele conhecimento.

Palace Hotel,em Goiânia, nos anos 50.
Naquela época um homem chamado Parateca candidatou-se à prefeitura da cidade. Sua aceitação foi tão baixa inicialmente que os eleitores votaram no bode Mimoso. Este animal também ficava no Lago das Rosas e foi eleito mesmo sem ser candidato.

Os votos eram manuscritos e a maioria da população, naquele momento, elegeu o bode em vez do nobre candidato! Parateca, fotógrafo, técnico do juvenil do Atlético e, depois, também, prefeito de Goiânia.

O Lyceu de Goiânia nos primórdios da
cidade.
Miro era também um mendigo. Cantor! Tinha uma linda voz e gostava de cantar músicas natalinas nas ruas goianienses, no início da década de sessenta.

Saudade daquele tempo mágico da infância que a gente não valorizava muito, mas cujas lembranças, hoje, enriquecem a nossa maturidade nostálgica!

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