"Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos". Manoel de Barros
Regina lembrando personagens bizarros de sua infância. |
Novo passeio ao túnel da infância trouxe-me à memória histórias hilárias que relembrei ao lado de meu irmão caçula - Júnior. Enumeramos juntos alguns personagens que povoaram o imaginário de nossa meninice, mas eles existiram de fato e habitavam as ruas da cidade de Goiânia, no final da década de cinqüenta e início da de sessenta.
Já citei a doida Revirinha, uma vez, em postagens anteriores. Ela não costumava tomar banhos, tampouco trocava de roupa. Ganhava peças usadas e ia vestindo uma saia sobre a outra... Mas desprezava o uso de roupa de baixo e costumava plantar bananeira no meio da rua, na frente dos curiosos que se reuniam para assistir ao seu espetáculo.
Grande Hotel na Goiânia daquela época. |
Havia outra que chamávamos de Mulher da Arara. Ela andava sempre com essa ave no ombro. Pedia pratos de comida nas casas e quando mamãe lhe deu arroz com cenoura, ela ficou ofendida, respondendo que não era coelho para se alimentar com verdura e jogando a sua arara sobre a assustada Dona Didi.
Outra personagem curiosa era o Bojotinha. Ele era baixinho, todo vestido com terno completo, mesmo sujo e surrado. Ficava nas imediações do mercado central da Rua Quatro, onde hoje fica o Parthenon Center.
Lotação do centro de Goiânia a Campinas |
Outro habitante das ruas goianienses era o Luizinho Louco. Ele costumava ficar no Lago das Rosas. Ali era o local predileto da molecada por causa dos trampolins. Quase todos os meninos aprenderam a nadar ali.
Mas havia um mendigo ilustre, culto. Ele ficava nas imediações da Casa Santa Luzia, bem perto de nossa casa. Chamava-se Aleixo como meu marido. Ele costumava conversar com meu pai que sempre elogiava sua cultura geral e questionava por que ele vivia nas ruas da cidade com todo aquele conhecimento.
Palace Hotel,em Goiânia, nos anos 50. |
Naquela época um homem chamado Parateca candidatou-se à prefeitura da cidade. Sua aceitação foi tão baixa inicialmente que os eleitores votaram no bode Mimoso. Este animal também ficava no Lago das Rosas e foi eleito mesmo sem ser candidato.
Os votos eram manuscritos e a maioria da população, naquele momento, elegeu o bode em vez do nobre candidato! Parateca, fotógrafo, técnico do juvenil do Atlético e, depois, também, prefeito de Goiânia.
O Lyceu de Goiânia nos primórdios da cidade. |
Miro era também um mendigo. Cantor! Tinha uma linda voz e gostava de cantar músicas natalinas nas ruas goianienses, no início da década de sessenta.
Saudade daquele tempo mágico da infância que a gente não valorizava muito, mas cujas lembranças, hoje, enriquecem a nossa maturidade nostálgica!
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