Regina e Aleixo, em Londres, 4.9.2010. |
Sabe-se que nem sempre as escritas em primeira pessoa podem ser consideradas um texto de cunho autobiográfico da autora. Mas, as minhas narrativas resgatam de uma perspectiva memorialista da mulher adulta, a ingenuidade de meus pensamentos e sentimentos de menina e adolescente, quando morava em Goiânia, mas viajava por espaços literários e sonhava perambular pelo mundo, enchendo cada local com a memória da minha passagem.
Esse conteúdo, buscado em uma época tenra de minha história pessoal, é utilizado para minhas reflexões sobre a vida, as atividades desenvolvidas, a leitura do cotidiano e o exercício de um feminismo místico que não deixa de ser a marca de meu estilo.
Clélia, Sônia, Júnior, Regina e Marco, em 1956. |
Há imagens de minhas lembranças que permanecem gravadas apesar do caminhar de décadas. Como, aos seis anos, matriculada no antigo pré (alfabetização) do colégio Santo Agostinho, quando nem pronunciar direito as palavras, eu o fazia. Chamava a Irmã Cristina de Manguistina... Ela era uma das melhores, lá!
Mas um dia, eu lhe pedi para ir ao banheiro e ela não o permitiu. Demorei muito a ter coragem de lhe falar e tinha ficado deveras apertada, acabando por urinar a roupa após a sua recusa. Quando ela soube, ameaçou mandar-me para o quarto escuro que ficava num porão, perto da cantina e diziam haver lá um terrível esqueleto! Nunca soube se era verdade, mas o medo que sentia foi pavoroso.
Irmãs gêmeas, Maria Celina e Maria Luiza, em 1967. |
Naquela época as irmãs usavam um tipo de sapato masculino com sola de pneu, muito forte. Assisti à madre superiora dando chutes numa aluna interna. Nunca tive muita estrutura para violência e fiquei aterrorizada. Geralmente, as internas eram meninas de família humilde, cujos pais as deixavam lá em troca de estudo e alimentos. Mais tarde muitas faziam os votos e se tornavam freiras. Se desistissem, tinham estudo e uma educação considerada respeitável!
Lembro-me de que, no recreio, eu costumava catar umas frutinhas que chamávamos de sabão de macaco para brincar. Creio que o nome dessa árvore era Saboneteira! Também juntava pedrinhas brancas, pequenos seixos redondos e me sentava nos bancos de pedra para jogar baliza com outras meninas também solitárias.
Meus filhos, Otávio e Fábia, em 1975. |
Mais ou menos nesta época caí da parreira e quebrei as clavículas. Fiquei engessada por cerca de três meses em posição de bailarina. Inicialmente, dormi na cama de casal de meus pais e fiquei contente, apesar do desconforto, porque tinha muito medo à noite, dormindo em quarto separado.
Adorava os nossos passeios à beira de rios. Papai costumava nos levar em sua Rural Willys para piqueniques junto ao Rio João Leite ou ao córrego Santo Antonio. Mamãe preparava a comida, brincávamos na água e depois fazíamos as refeições à beira. Às vezes, convidavam outros casais e ficava ainda mais animado. Havia poucas opções de diversão na cidade ao final da década de 50. Goiânia só iria crescer após a inauguração de Brasília que aconteceu em 21 de abril de 1960.
Meus pais, José Araújo e Geraldina Araújo, com meu irmão Marco Antônio, em 1945. |
Lembro-me também de papai descascando cana de açúcar para nós e cortando cada gomo em quatro para facilitar a mastigação dos filhos e filhas. Ainda, de sua animação organizando as festas juninas para a criançada, em nosso quintal. Com direito à fogueira, aos quitutes juninos e a fogos de artifício! Eu era apaixonada por aqueles fósforos luminosos que desenhavam luzes coloridas no espaço!
Muito mais tarde passei um 14 Juillet, em Versailles, e revivi a beleza daqueles instantes! Os fogos de minha infância eram bem modestos em relação aos franceses, mas me deslumbraram da mesma maneira!
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ResponderExcluirFrom: eunice vincenzi
To: GiAraujo
Sent: Friday, May 13, 2011 10:55 AM
Subject: RE: materia da sua filha Fabia
Olá, Regina!
Não é de surpreender as qualidades humanitárias da Fábia Fernanda. Ela traz a riqueza interior herdada da mãe e da avó. Sem dúvida, ela terá uma caminho de vida com muitos trechos floridos e as pedras que aparecerem, ela saberá recolhê-las todas para construir uma castelo.
Parabéns, mamãe! Beijinhos
Eunice
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